Pergunto o que leva nossos coveiros de sorriso amarelo a produzir tantas
análises e raciocínios sofisticadíssimos para esconder o dado óbvio
desta eleição municipal.
Apesar do julgamento do mensalão, apesar do tratamento ora irônico, ora
pedante, que a maioria dos meios de comunicação dispensa ao
ex-presidente Lula, está cada vez mais difícil esconder o bom desempenho
do PT neste pleito.
Quem profetizou um fiasco de Lula precisa improvisar teorias para justificar verdades óbvias.
Quem chegou ao exagero de anunciar um duelo entre Lula e Geraldo
Alckmin, em São Paulo, precisa fazer um curso supletivo de liderança
política.
O mais novo argumento é dizer que o eleitor está desanimado, cansou-se da polarização entre PT e PSDB.
É preocupante. Nem faz muito tempo assim que os brasileiros recuperaram o
direito de votar para prefeito de capital, que fora suprimido pela
ditadura, e já tem gente que acha que esse tipo de coisa é cansativa e
tediosa. É a mesma turma que, em dia de eleição, só consegue olhar para
os santinhos na calçada e dizer que eles emporcalham a cidade. Eu acho
que nada emporcalha mais uma cidade do que o autoritarismo, a falta de
eleição, os prefeitos escolhidos de forma indireta.
E eu acho que a boca-de-urna ajuda a ampliar o debate numa eleição. E
quem é a favor de proibi-la poderia dar uma chance ao próprio QI e
perguntar-se se ela não tem a ver com a liberdade de expressão.
Voltando ao cansaço dos eleitores.
A teoria da baixa representatividade se apoia num fato real mas interpretado de forma interesseira.
É certo que o número de brancos e nulos nunca foi tão alto. O problema
é usar este dado como prova de que nosso sistema político não expressa
a vontade dos brasileiros e blá-blá-blá…
Nós sabemos muito bem onde esse tipo de conversa sobre falta de
representatividade da democracia começa e onde costuma terminar, não é
mesmo?
Estrela principal do pleito que centraliza as atenções no segundo turno,
Fernando Haddad não enfrenta o menor problema com sua
representatividade. Ilustre desconhecido há seis meses, já conquistou
49% das intenções de voto e lidera a eleição com uma diferença de 17
pontos. Falta de representatividade?
Se você comparar com outras eleições, municipais, estaduais e federais, verá que a ordem de grandeza é a mesma.
E se você se interessar pela temperatura da campanha, verá que Haddad
tem empolgado a juventude e mesmo antigos militantes que pareciam ter
pendurado a chuteira da luta política.
Estes números ajudam a mostrar que não há crise nenhuma com o regime democrático nem com o eleitor.
A doença envolve um candidato específico, José Serra, que exibe um
desempenho muito abaixo daquilo que seus aliados prometiam no inicio da
campanha.
O grande número de nulos e brancos, em São Paulo, expressa sua
dificuldade para atrair apoio junto a eleitores do PSDB e mesmo
adversários do PT. São estes nulos e brancos que deixaram de ir para
Serra, o que é natural num candidato com uma rejeição que chegou a 52%.
Lançado como última esperança para salvar a pátria do PSDB, o problema
real da campanha de Serra não é a perpectiva de derrota. É o tamanho da
diferença a favor de Haddad. Superior a qualquer previsão de nossos
sábios, a vantagem do candidato do PT mostra um adversário que sequer
tem-se mostrado competitivo.
Esta é a crise, o susto de 2012.
Temos uma oposição sem representatividade, inclusive em São Paulo, que sempre considerou como sua fortaleza.
Após a terceira derrota na sucessão presidencial, não é uma boa notícia para o PSDB.
Paulo Moreira LeiteNo Vamos combinar
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