IstoÉ Independente
Imagine seu filho de nove anos recebendo como lição de casa a
recomendação de leitura do livro "Dez na Área, Um na Banheira e Nenhum
no Gol".
Comprado pela Secretaria de Educação do Governo de São Paulo e
distribuído a 1.216 alunos da terceira série do primeiro grau, o livro
explora várias posições sexuais e vem recheado de expressões pedagógicas
como "chupei ela todinha", "ativo", "passivo" e outros palavrões
impublicáveis. Não bastasse o conteúdo sexual, a obra é repleta de erros
crassos de português, com uma linguagem digna de baile funk. Para
piorar, funciona ainda como manual de ingresso no PCC, o Primeiro
Comando da Capital.
É quase uma versão hardcore do "Kama Sutra" - e para crianças.
Tão surreal quanto a explicação do governo paulista, que, em nota, não
soube informar como o livro foi parar nas mãos dos alunos.
Nos anos 50, quando o governador José Serra estudava na escola estadual
Firmino de Mendonça, no bairro paulistano da Mooca, quem quisesse
aprender algo sobre sexo teria de recorrer às revistas proibidas e
apimentadas do "novo catecismo" de Carlos Zéfiro.
Os tempos mudaram, a educação se degradou e a cena definitiva dessa
decadência ocorreu há pouco mais de uma semana, antes mesmo que o
escândalo dos livros erótico-didáticos viesse a público.
Num confronto com a polícia, alunos da mesma escola em que Serra estudou quebraram 47 vidraças, 25 cadeiras e 27 mesas.
Foram contidos pela PM com spray de pimenta. Alguns deles, drogados,
trancafiaram-se nos banheiros. Ao comentar o ocorrido, Serra foi
lacônico. "No meu tempo não tinha isso, não me lembro de ter
acontecido", declarou. Hoje, os alunos bem que poderiam responder
dizendo que no tempo do governador o Estado também não distribuía
manuais de sexo e violência às criancinhas.
Quando foi prefeito de São Paulo, Serra atribuiu a má colocação das suas
escolas no ranking do Enem à chegada constante de novos migrantes,
quando o natural seria esperar que a mais próspera metrópole do País se
destacasse também pela excelência educacional. Estudando numa escola
pública, Serra conseguiu, com méritos próprios, acumular conhecimentos e
se tornar uma das figuras mais destacadas do País, apesar da origem
humilde. Hoje, não mais no saudoso tempo de criança, mas no tempo ainda
mais importante de governador, é improvável que um aluno da sua antiga
escola da Mooca possa sonhar com um futuro brilhante.
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