Do Brasil 247 - 12 de Janeiro de 2013 às 06:30
Primeiro, a Folha noticiou uma reunião de emergência sobre o setor elétrico, que era rotineira. O Estadão, em letras garrafais, anunciou que o Ministério Público investigaria o ex-presidente Lula. E o Globo avisou que empresários já estariam fazendo seu próprio racionamento. Três exemplos "wishful thinking", em que a vontade política dos editores se impõe à objetividade dos fatos. Se isso não bastasse, Veja também derrapou feio ao anunciar uma megafusão bancária que não houve
247 - Wishful thinking. A
expressão inglesa é a melhor tradução para o comportamento dos grandes
jornais brasileiros na semana que passou e expressa um dos principais
erros do pensamento, que é o de transformar desejos em realidade. Em vez
de narrar os fatos como eles são, a história é contada como gostaríamos
(ou gostariam) que fosse.
Entre pessoas comuns, o erro é perdoado. Mas quando se
trata de grandes jornais, que têm o dever da objetividade, a questão se
complica. A semana que passou, para a grande imprensa, foi também a
semana dos grandes erros. Não pequenos deslizes, mas erros colossais,
que, em alguns casos, foram escritos em letras garrafais – fugindo até
ao padrão gráfico das publicações.
O jogo dos erros começou com a Folha de S. Paulo, dos
Frias, que, na segunda-feira, anunciou: "Escassez de luz faz Dilma
convocar o setor elétrico". No subtítulo, a mensagem de que, na "reunião
de emergência", seriam discutidas medidas contra o racionamento, sob a
imagem de uma vela acesa na escuridão. Este era o desejo – o wishful thinking. A realidade, no entanto, é que a reunião não era emergencial nem haverá racionamento.
No dia seguinte, foi a vez do Estadão, principal
concorrente da Folha, que não ficou atrás.
O sonho da família Mesquita, que controla o jornal, talvez seja ver o ex-presidente Lula atrás das grades. E a manchete "MPF vai investigar Lula" veio em negrito e letras gigantes como se anunciasse que a Alemanha nazista foi derrotada pelos aliados. Mais um exemplo de wishful thinking. No mesmo dia, a "informação" foi negada pelo procurador-geral Roberto Gurgel.
O sonho da família Mesquita, que controla o jornal, talvez seja ver o ex-presidente Lula atrás das grades. E a manchete "MPF vai investigar Lula" veio em negrito e letras gigantes como se anunciasse que a Alemanha nazista foi derrotada pelos aliados. Mais um exemplo de wishful thinking. No mesmo dia, a "informação" foi negada pelo procurador-geral Roberto Gurgel.
O Globo, dos Marinho, naturalmente, não poderia ficar de
fora da festa e anunciou que grandes grupos empresariais já planejam
racionar energia. Outra demonstração de um desejo – na quinta-feira,
após uma reunião com a presidente Dilma, os principais empresários do
País deram demonstrações públicas de que não estão trabalhando com a
hipótese de apagão.
Se tudo isso não bastasse, houve também a barriga de Veja
Online, que, também nesta semana, anunciou a fusão entre Bradesco e
Santander. Neste caso, não era wishful thinking. Apenas um erro de
informação e os jornalistas responsáveis foram demitidos.
De todo modo, a semana foi exemplar ao escancarar os
riscos que se corre quando a vontade política dos editores se sobrepõe à
objetividade dos fatos.
PS: até agora, apenas a Folha admitiu o erro, ainda que em letras miúdas.
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