Nelsinho, afinal, quem é mesmo que relincha?
Ataque a comentaristas de 247 consuma mais uma peça de preconceito de classe; agora disparada por Nelsinho, como o chamam, Motta; ele disse que dão "coices e relincham" os que discordaram de artigo de Ferreira Gullar; duvidou até do alto número de opiniões captadas; assim como para outros próceres da mídia tradicional, a crítica só vale quando é a favor; e a audiência, só a deles; o problema é que o monopólio da informação e da opinião já morreu, não sabia?
Estudante nos melhores colégios do Rio de Janeiro, morador no front
side de Ipanema e bem endereçado também em Nova York, Nelsinho, como é
chamado, Motta é um sujeito educado. Ou pensava-se que era. Deveria ser
um democrata. Há dúvidas, infelizmente, quanto a isso também. Pesquisa e
apura antes de escrever o que bem deseja. No caso presente, não o fez.
Sem, aparentemente, saber ao certo do que se trata
www.brasil247.com.br, ele estabeleceu em texto recente, exercitando-se
como analista político, que os leitores que enviam milhares de
comentários minuto a minuto, vinte e quatro horas por dia e sete dias
por semana para o jornal eletrônico são as "mesmas pessoas, escondidas
sob nomes diferentes". Pessoas, que dão "coices" e produzem "relinchos".
Membros de uma "mesma seita".
O propósito de Nelsinho, no artigo para o Estadão, era prestar
solidariedade a Ferreira Gullar, pelos comentários enviados ao 247 em
razão do mais recente artigo dele no jornal Folha de S. Paulo, no qual
criticava o ex-presidente Lula.
Pelo poeta, Nelsinho mostrou-se muito mais um cômico de nariz redondo
e vermelho, não fosse o preconceito de classe e o contrabando
ideológico embutidos, a sério, em sua posição. Mais do que para rir, o
texto é para lamentar.
Assim como outros comentaristas com cadeiras cativas na mídia
tradicional que, em turma, vão se alinhando a entidades formuladoras do
pensamento conservador, travestido em liberal, como, por exemplo, o
Instituto Millenium, Nelsinho produziu mais peça contrária à liberdade
de expressão na internet.
Ao desqualificar, ele sim, os comentaristas, na base de taxar suas
críticas como relinchos etc, o colunista do Estadão e da Rede Globo se
pareou aos cavalinhos amestrados que obedecem ao passo da velha ordem.
Demonstrou que não aceita o contraditório.
Assumiu-se como mais um adepto do pensamento único. Se você gostou do
artigo de Gullar, parabéns, você é do nossos. Caso contrário, você é um
tolo que não merece se expressar, foi, com medidas mais baixas e vis, o
que Nelsinho registrou.
Essa mania de rebaixar comentaristas que, antes de sessões de livre
acesso como a de e-mails de 247, mal tinham onde se manifestar – em
razão da forte censura exercida nos veículos ligados às grandes
corporações de comunicação -, está se tornando mais um ponto em comum
aos formuladores aninhados na mídia tradicional. Como Nelsinho. A
intenção, no fundo, é desprezar a internet como meio aberto de
expressão. Atacar frontalmente até mesmo seu leitor. Duvidar, inclusive,
do volume de posicionamentos alcançado a respeito de diferentes temas.
Excluir o cidadão comum, que antes da rede de computadores vivia
isolado, da cena coletiva atual. Cassar-lhe o direito de participar das
discussões sobre os grandes, médios e pequenos problemas do País.
Amordaçá-lo. Calá-lo.
Do alto das coberturas e melhores andares dos edifícios da sociedade,
representantes de classe como Nelsinho e outros o que pregam é criar um
noticiário de primeira, segunda e terceira classes, para os leitores
bons, maus e mais ou menos. A mídia tradicional, que sempre deteve o
monopólio da informação e, pelos seus filtros, controlava a manifestação
da opinião, está caindo do salto alto sem a mínima classe.
Nas eleições municipais, por exemplo, quem votou no PT foi, de duas
uma, chamado de imbecil ou bandido. Reinaldo Azedo, contrário à posição
política de vida inteira do arquiteto Oscar Niemeyer, o classificou de
"50% idiota". Por uma aparição no programa do Ratinho, pela qual seu
partido foi multado em R$ 500, por propaganda eleitoral antecipada,
Augusto Nunes defendeu algemas para Lula. Com a síndrome de Regina
Duarte, Ricardo Setti foi dizer que a vitória do partido do governo em
outubro seria uma espécie de fim do mundo. O historiador (?) Marco
Antonio Villa escreve que tivemos "uma década perdida" justamente no
período em que 40 milhões de brasileiros romperam o teto da pobreza.
Merval Pereira, de O Globo, vive bem aconselhando os tucanos, enquanto
prega algo como a fogueira para os adversários que se colocam à sua
esquerda. José Neumâne Pinto foi ao Congresso pedir uma "lei dura" para a
internet, usando um caso de ofensa pessoal, típico no Código Penal,
para reestabelecer mecanismos de exceção.
Debate de alto nível, esse, ein? Quem é que relincha, afinal, dr.
Nelsinho? O que esse pessoal quer é estabelecer planos diferentes de
credibilidade e aceitação. Vender uma ignorância sobre a capilaridade da
mídia eletrônica que demanda muitos subterfúgios, uma vez que já faz
tempo que não é mais possível esconder o poder transformador da rede de
computadores.
Os segredos acabaram. A internet tem a matemática ao seu lado. Os
números, aqui dentro, você queira ou não, mister, são muito mais
confiáveis do que os apurados historicamente pelo IVC e pelo Ibope, em
relação às tradicionais mídias jornal de papel e televisão aberta. Um
click na internet é feito por uma pessoa, um agente político, econômico e
social. Um cidadão participativo. Na mídia de papel, ao contrário,
mecanismos que inflam a circulação dos jornais existem e são praticados
há décadas, como distribuição gratuita de encalhes e assinaturas a rodo
feitas por um agente só. Para as tevês abertas, fora a Globo, ok, os
números apurados pelo Ibope eram questionados duramente até pouco tempo
atrás. E isso porque havia a suspeita de favorecimento à Globo.
Pesquise. As "cartas à redação", até por questão de espaço físico, ficam
muitas mais de fora do que nas edições. Há cortes ideológicos sim.
Para evitar novas tolices, pelo menos nesse nível, vale pesquisar
mais, Nelsinho. Na internet, você certamente vai encontrar subsídios.
Alguns clicks apenas. Como diz o refrão da vênus platinada, tente,
invente, faça algo diferente.
Para começar - e ficar num terreno atinente ao próprio Nelsinho -,
ele poderia acessar, no youtube, o filmete que mostra a reação do
sambista Chico Buarque de Hollanda ás reações, francamente contrárias a
ele, feitas pela internet, de quando do lançamento, igualmente na net,
do disco mais recente do cantor e compositor. Às gargalhadas, Chico
comentou que esperava afagos e aplausos, mas encontrou muito mais vaias e
ovadas nos comentários enviados ao sítio oficial do lançamento do
disco. Ele se divertiu com as críticas e se confirmou como defensor da
liberdade de expressão. Acredite, não há melhor posição de princípio do
que essa.
2 comentários:
Apesar dos relinchos do Nelsinho Motta, o Brasil está mudando e mandando uma banana para ele e para gente da laia dele.
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