Por Davis Sena Filho
Eu
não sei por que o Governo Federal administrado por uma presidenta trabalhista
eleita pela maioria do povo brasileiro se torna refém de pressões levadas a
cabo pela imprensa de negócios privados e por categorias ou classes
profissionais como, por exemplo, a dos médicos, que se recusa, terminantemente,
a trabalhar no interior do País, desenvolver o Brasil profundo, que a maioria
dos brasileiros não conhece e nem pretende conhecer, pois prefere, obviamente,
estabelecer-se em cidades e regiões consideradas por eles mais aprazíveis e
“civilizadas”, além de adequadas aos seus interesses econômicos, financeiros e
logísticos.
Esta
é a conduta e a postura de grande parte dos médicos. Isto acontece porque a
medicina se tornou há muito tempo um segmento venal, estritamente dedicado ao
comércio e ao consumo, dominada pelos propósitos econômicos dos grandes
laboratórios internacionais, clínicas e hospitais privados, bem como à mercê de
médicos e administradores, que se tornaram poderosos empresários do setor de
saúde, que, inclusive, controlam politicamente o Conselho Federal de Medicina
(CFM) e têm forte influência no que diz respeito aos acordos e contratos
firmados com o SUS, que sustenta unidades hospitalares privadas, sendo que
muitas delas não dão o retorno devido à população, no que concerne a zelar por
um bom atendimento, além de não oferecer serviços médicos e hospitalares de boa
qualidade.
Contudo,
o que mais me chama a atenção sobre a crise na saúde é a desfaçatez e o cinismo
perverso da oposição político e partidária (PSDB, DEM, PPS e lamentavelmente o
PSOL) da direita brasileira, totalmente desprovida de bom senso ao tempo que
vitimada severamente pelo alzheimer, pois “incapacitada” por conveniência de
ter memória, e, consequentemente, de lembrar que fez campanha com a ajuda da
imprensa de mercado contra a CPMF, bem como também votou contra a contribuição
nos plenários do Congresso, o que acarretou o desfalque de R$ 40 bilhões
anuais, dinheiro este que financiava a saúde pública, que precisa urgentemente
de melhores serviços de saúde para oferecer à sociedade brasileira.
Tudo
isto foi esquecido pelos políticos e partidos de direita e pela grande imprensa
alienígena, entreguista e que despreza o Brasil e o povo brasileiro. A mesma
imprensa colonizada e historicamente golpista que apoiou o “apartidarismo” e o
modo “apolítico” de a classe média se conduzir e se expressar, principalmente
quando os seus protestos e a sua “indignação” inundaram as ruas do Brasil após
o Movimento Passe Livre (MPL), com sua pauta de esquerda, apanhar violentamente
da polícia tucana de São Paulo, comandada pelo governador Geraldo Alckmin, um
dos líderes nacionais do PSDB, partido que em sua sigla se autodenomina social
democrata, mas que na verdade é um partido conservador, neoliberal, e que se
pudesse venderia o que restou do patrimônio público deste País, que,
indubitavelmente, não foi construído através do tempo pelos homens e pelas
mulheres do PSDB.
Considero
também leviandade e oportunismo dessa mesma classe média, herdeira legítima da
passeata realizada antes do golpe de 1964, que, cinicamente e equivocadamente,
chamou-se Marcha da Família com Deus e pela Liberdade, realizar os protestos
somente no período da Copa das Confederações, para logo encerrar as suas
manifestações após o seu término, sendo que a maioria das pessoas que viram os
jogos era também integrante dessa classe reacionária politicamente e
preconceituosa socialmente, que desde a Revolução Industrial se alia às
oligarquias dominantes, porque é portadora dos mesmos valores e princípios das
classes privilegiadas, que, entre outras coisas, lutam incansavelmente para não
permitir a distribuição de renda e de riqueza, bem como tratam a questão
latifundiária urbana e rural como caso de polícia quando o problema é
fundamentalmente social. Os latifúndios improdutivos pertencem não a
fazendeiros, mas simplesmente a agentes imobiliários, que vez ou outra usam
botas e chapéu.
Por
seu turno, a classe média é sempre barrada na porta do baile dos ricos, porque,
evidentemente, para o seu desgosto e frustração, não tem dinheiro no cofre, mas
apenas uns caraminguás nos bolsos. Coitada, tão reacionária e perversa ao tempo
que equivocada e despolitizada. E eis que os sabujos e os pitbulls servidores
dos barões da imprensa se voltam contra a vinda de médicos estrangeiros para o
Brasil, “esquecem” do fim da CPMF, e, não satisfeitos, dão voz ativa, de forma
constante, aos médicos conservadores que controlam o Conselho Federal de
Medicina e aos administradores e empresários de planos de saúde, que não
atendem de maneira digna o povo brasileiro.
A
verdade é que essa imprensa ideológica e de direita manipula a informação e se
recusa a democratizar as comunicações no Brasil. O sistema midiático privado e
hegemônico não quer que nada mude, avance e se desenvolva. Tal imprensa quer
que tudo fique como está, pois, volto a afirmar, ela é a ponta de lança do
establishment, que garante através dos séculos o status quo dos proprietários
da casa grande, que, se estivessem, a viver no século XIX, seriam, sem sombra
de dúvida, escravocratas.
De
repente, não mais do que de repente, os médicos, os residentes e até mesmo os
estudantes de medicina se mobilizam, e, em tom uníssono, abrem a boca e saem às
ruas em protesto contra o programa do governo trabalhista que, ao ouvir as
vozes dos manifestantes no mês de junho, começa a tentar cumprir a pauta
(positiva) de reivindicações dos trabalhadores, dos estudantes e da classe
média oportunista, que se mobilizou com a intenção de mostrar o seu
descontentamento com a ascensão de parte da massa de cidadãos brasileiros que
passaram a ter acesso ao consumo de bens duráveis, bem como a frequentar os
aeroportos, os restaurantes e as universidades públicas até então enclaves da
classe média, que as recebeu do poder público e político como contrapartidas
por não ser proprietária dos meios de produção.
Os
médicos e os futuros doutores da saúde resolveram por as manguinhas de fora.
Muitos deles se comportaram como verdadeiros playboys, filhinhos de papai,
mimados, cujos egos deixam os dos artistas hollywoodianos humilhados. Trata-se
de um contrassenso total e de uma arrogância e prepotência somente comparável
às dos representantes da burguesia, eleitos ou não, que lutam por seus
interesses em todos os fóruns públicos, em busca de fazer prevalecer às vontades
e os desejos daqueles que são inquilinos do pico da pirâmide social, que,
equivocadamente, consideram a ascensão da chamada classe c um problema que
poderá acarretar em diminuição de seu poder de barganha, no que tange a ter
privilégios e favorecimentos.
A
classe médica e os estudantes de medicina querem, na verdade, manter seus
privilégios, a começar pela luta para que nada mude, bem como garantir a
reserva de mercado no que tange aos empregos, mesmo sabendo que o Brasil
necessita de dezenas de milhares de médicos, pois temos uma população de 200
milhões de habitantes e que não são atendidos de forma adequada, porque a
demografia médica neste País é muito mal distribuída, o que acarreta
desequilíbrios regionais no que é relativo à distribuição e à fixação de
profissionais de saúde, além de, não é conveniente esquecer, que o estado
brasileiro tem de melhorar, e muito, questões referentes ao financiamento e à
infraestrutura do setor da saúde pública e também privada, afinal o segmento
particular tem de arcar com as suas responsabilidades e não apenas se preocupar
em ter somente lucro.
Os
dados e índices divulgados em fevereiro pelo Ministério da Saúde mostram que o
Brasil tem 1,83 médicos a cada mil habitantes. Ponto. Sendo que a média mundial
é de 1,4 mil médicos a cada mil habitantes. O Ministério da Saúde projeta
oferecer ao povo brasileiro 2,5 médicos para cada mil habitantes. A Inglaterra,
por exemplo, tem 2,7 médicos a cada mil habitantes.
Portanto,
o déficit de pessoal é uma questão séria e por isto não pode ficar à mercê de
demagogia política da oposição partidária de direita, das polêmicas artificiais
da imprensa corporativa, que visam criar confusão para manipular a população,
além do corporativismo insensato e irresponsável de parte da classe médica
representada pelo presidente do CFM, Roberto Luiz
d'Avila.
O porta-voz da classe médica não quer, afirmo novamente, mudanças. O
Governo trabalhista pretende trazer médicos estrangeiros para exercerem suas
profissões em localidades distantes e nas periferias. Um dos motivos dessas
áreas não terem médicos é porque muitos desses profissionais de saúde se
recusam a ir para locais carentes, pois preferem morar em grandes e médias
cidades, por diversos motivos diferentes. É fato.
O
Governo trabalhista primeiro se prontificou a não exigir a revalidação dos
diplomas dos médicos estrangeiros. Contudo, o CFM quer que tais médicos façam o
Revalida, o que pode ser atendido. Além disso, os estrangeiros assinariam
contratos temporários de apenas três anos, com salários de R$ 10 mil e
clinicariam somente nos lugares distantes ou carentes. Para conseguir atingir
tais metas, o Brasil necessitaria ter mais 168.424 médicos, conforme os estudos
do Ministério da Saúde.
Mesmo
assim a gritaria é altissonante, e os conservadores aproveitam para criar
crises artificiais, a fim de engessar as ações do Governo trabalhista, pois em
outubro de 2014 vai haver mais uma eleição presidencial. A casa grande morreria
de desgosto e amargura se ficar mais quatro anos sem subir a rampa do Palácio
do Planalto. Ponto.
Todavia,
o Governo quer cumprir a pauta positiva reivindicada nos protestos, e todo
mundo sabe que a questão da saúde consta na pauta. Entretanto, pelo andar da
carruagem, quem não tem pressa é a oposição de direita e a sua porta-voz: a
imprensa, que cria polêmica falsa para trazer a classe média consumidora
contumaz de seus produtos novamente para o seu lado político. A manipulação e a
sabotagem são bem feitas e realmente confunde as pessoas menos politizadas e
atentas.
A
mediocridade campeia nos quatro cantos e nos sete mares. Essa gente obtusa não
consegue enxergar que a inclusão social é o combustível do desenvolvimento
econômico e financeiro. Quanto mais gente incluída, mais a sociedade vai se
desenvolver, além de propiciar a diminuição da pobreza e da violência, porque
os despossuídos são geralmente os agentes da violência cotidiana, tão comum nos
bolsões de pobreza, a exemplo das favelas e das periferias das grandes e das
médias cidades. Esses burguesinhos saem às ruas vestidos de branco, com
cartazes agressivos ao tempo que preconceituosos e desrespeitosos, que levaria
um cidadão desavisado a pensar que estaria a ver um desfile da Ação Integralista
Brasileira (AIB), movimento de caráter fascista liderado por Plínio Salgado. Só
que estamos em pleno século XXI - início do terceiro milênio. Anauê!
Instantaneamente,
a imprensa burguesa tratou de criar mais uma contenda, “azeitar” mais uma polêmica,
e, para não perder o costume, ouviu muito mais um lado do que o outro. E
adivinhe qual foi o lado que a imprensa mercantilista ouviu? O lado dos que
podem mais, dos que controlam e dominam os gigantescos e bilionários mercados
da medicina e dos laboratórios, que têm como aliados históricos o Conselho
Federal de Medicina, a poderosa bancada desse setor no Congresso, os inúmeros
ministros que ocuparam a cadeira de ministro da Saúde, além da imprensa
comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?), que atua em diferentes
mídias, e por causa disto favorecida com contratos publicitários milionários
pagos pelos laboratórios, clínicas, hospitais e planos de saúde, que difundem
as suas marcas e monopolizam o mercado de medicamentos e de atendimento médico e
hospitalar.
Por
isto e por causa disto, considero o fim da picada ver os “mauricinhos” e as
“patricinhas” - ainda jovens e vestidos de branco - a protestar sem ao menos
discernir sobre as realidades dos fatos. Um absurdo. Esses caras não sabem o
que está a ocorrer, e quais as forças envolvidas nessa grande questão que é a
saúde pública e privada brasileira, e, por que não, mundial. Afinal de contas,
o presidente dos EUA, Barack Obama, passou praticamente todo o seu mandato em
luta constante contra os republicanos e a imprensa privada de lá para aprovar o
projeto de seu governo em favor da efetivação de um sistema de saúde público e
universal, que atenda o povo estadunidense. Esta é a verdade: a medicina se
tornou apenas um incomensurável negócio nas mãos de empresários e médicos sem
escrúpulos.
Entretanto,
o Brasil já há algum tempo tem o seu sistema de saúde – o SUS - que é universal
e sustenta, sem o dinheiro bilionário da CPMF, a saúde pública e também a
particular, pois repassa recursos bilionários à iniciativa privada, que, em
contrapartida, oferece um serviço sofrível, às vezes de péssima qualidade, com
filas enormes e atendimento recorrentemente desumanizado, que gera conflito e
reclamação de quem paga planos de saúde caríssimos, que não cobrem totalmente
as necessidades dos cidadãos, dos pacientes, dos enfermos, porque existe um
casuísmo, uma pilantragem chamada “carência”, que força o paciente e consumidor
a esperar para ter o direito de ser atendido.
Porém,
antes o cidadão precisa rezar e cruzar os dedos, tomar um banho de sal grosso e
depois se benzer para não morrer nos bancos de espera da tão propalada saúde
VIP, que a classe média sempre quis fazer questão de elogiar o que,
seguramente, não é elogiável. Moral da história: não é somente o SUS o vilão
dos acontecimentos. A iniciativa privada tem o seu quinhão de vilania também.
Só que a imprensa não mostra com a devida ênfase que dá ao setor público de
saúde. E por quê? Já disse e vou repetir: porque é a saúde privada que paga
pela publicidade nos meios de comunicação, e esses meios são os porta-vozes
mais importantes do sistema capitalista.
Além
disso, o SUS é o sistema responsável pelo atendimento de alta complexidade aos
pacientes e enfermos brasileiros. Pode acreditar. Inclusive o cidadão leitor e
consumidor de pasquins de péssima qualidade editorial, a exemplo de Veja, O
Globo, Estadão, Folha de S. Paulo, Correio Braziliense e Zero Hora, sem me
esquecer de citar rádios e televisões como a Globo News, a TV Globo, a TV
Bandeirantes, a CBN e a Jovem Pan, dentre muitos outros meios de comunicação
que fazem e fizeram oposição política, ideológica e sistemática aos governos
trabalhistas dos presidentes Lula e Dilma Rousseff, bem como tiveram a mesma
conduta no que é relativo aos governantes trabalhistas Getúlio Vargas e João
Goulart, além do governador Leonel Brizola, político brasileiro que mais tempo
foi obrigado a ficar no exílio. O mandatário gaúcho amargou 15 anos (1964/1979)
de desterro.
O
SUS precisa ser financiado. O problema do Sistema Único de Saúde é dinheiro.
Todavia, o SUS é um sistema extremamente importante para o Brasil e para os
brasileiros, porque somente os hospitais da rede do SUS têm equipamentos,
medicamentos, administradores e pesquisadores que refletem a grandeza do SUS,
que, de acordo com o Governo Federal e a vontade soberana do Congresso
Nacional, vai receber 30% dos recursos do Pré Sal, pois os outros 70% vão ser
destinados à educação.
Os
avanços na saúde pública são visíveis, mas a propaganda contrária é tão sistemática
e contundente que leva a população desconhecer as virtudes, o trabalho do SUS,
principalmente no que diz respeito ao atendimento de alta complexidade, a
equipamentos caros e de última geração, ao financiamento de viagens para
pacientes ao exterior, à valorização da pesquisa, à concessão e distribuição de
medicamentos, ao financiamento de programas estaduais e municipais,
principalmente às comunidades carentes, por meio da construção de Clínicas de
Saúde da Família e Unidades de Pronto Atendimento (UPA), onde os pacientes são
acompanhados por intermédio de cadastros informatizados, atendidos pelo mesmo
médico, o que favorece o vínculo e a confiança entre o paciente e o médico,
além de as consultas serem marcadas pelo telefone.
Agora,
a pergunta: como e que eu sei disso? Poderia dizer que soube por meio de
informações e reportagens, o que já aconteceu, pois algumas foram escritas por
mim. É verdade. Mas não é isso. Eu sou cadastrado e já fui atendido na Clínica
da Família do bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Fui muito bem atendido,
por sinal. Portanto, eu sou uma testemunha de que tudo no SUS não é ruim e
incompetente, como apregoa a imprensa manipuladora, aliada de governos e
estados imperialistas. A mídia fundamentalista do mercado, que quer pautar a
vida pública para governar no lugar de quem é eleito pelo povo brasileiro, o
que é um acinte ao estado democrático de direito.
Por
sua vez, os principais hospitais, órgãos e instituições de pesquisa avançada
são vinculados ao sistema público de saúde, inclusive os hospitais
universitários. Essas instituições são incomparavelmente mais importantes e
mais competentes do que a saúde privada, cartelizada, que, inegavelmente,
também é financiada pelo estado brasileiro. Quando vejo os médicos playboys se
recusarem a ir para o interior e portarem cartazes como eu vi uma jovem mostrar
e que dizia a seguinte frase: “Dilma, vai curar seu linfoma no SUS”, percebi
mais uma vez que a nossa sociedade e especificamente a classe média globalizada
e informatizada perdeu a noção do que é humano, do que é direito e do que é
razoável.
O
que esta estudante tem na cabeça? Vento e maledicência? Uma “patricinha”
egoísta, que não conhece o Brasil e muito menos o seu povo e que mostra um
cartaz desumano, perverso e infame, pois como futura médica deveria ter ao
menos a sensibilidade de que não se brinca com o câncer, com a dor e o
sofrimento dos outros, ainda mais quando se trata de uma doença de tratamento
complexo e que poderá se transformar em mortal. A “patricinha” vai ser médica.
Talvez se torne uma profissional fria, calculista e, portanto,
irremediavelmente, desalmada.
E
assim milhares de profissionais se formam e dessa mesma maneira efetivam as
suas atividades, o que me leva a dizer que o problema do SUS e da saúde em
geral não é somente de caráter financeiro e estrutural. Existe uma questão
fundamental, que é o respeito ao semelhante, mesmo se o seu “igual” for uma
autoridade como o é a presidenta Dilma Rousseff, que obviamente tem trabalhado
e se esforçado para melhorar as condições de vida do povo brasileiro. O
orçamento da saúde pública no Brasil é gigantesco, e o gerenciamento do sistema
é complexo, porque a sua administração se dá nas esferas municipal, estadual e
federal. Não é fácil.
Um
jornalista pegar um microfone e portar uma câmara escondida é fácil, rotineiro
e um direito constitucional, baseado na liberdade de imprensa e de expressão.
Mostrar as péssimas condições de um hospital também é fácil. Contudo, cobrar de
quem deveria zelar pelo atendimento médico e hospitalar é mais difícil, porque,
além de casos de corrupção e da leniência e incompetência de administradores,
servidores e políticos eleitos, existe também a questão importantíssima do
segmento empresarial e do inegável corporativismo da classe médica, retratado,
indubitavelmente, na pessoa do presidente do Conselho Federal de Medicina, que
demonstrou, insofismavelmente, que não quer mudanças, nem o ingresso de médicos
estrangeiros para atender o interior e a periferia, além de ser contrário ao
projeto do governo de fazer com que os médicos formados trabalhem por dois anos
para o estado nacional, sendo que a maioria se formou nas universidades
públicas e por isto não só devem, mas têm a obrigação de dar o retorno em forma
de trabalho para a sociedade, que financiou os seus estudos. Nada como
experiência e aprendizado para se tornar um bom profissional. Se depois desses
dois anos o médico ou a médica quiserem voltar a serem playboys, que fiquem à
vontade, pois os seus caminhos estão livres para ganhar dinheiro.
A
resumir: um dos arautos do establishment, o presidente do CFM, que inclui
também outros segmentos da saúde, quer que tudo fique como dantes no quartel de
Abrantes. Só que os médicos playboys não querem trabalhar no interior do País
continental e se recusam terminantemente servir o povo nas periferias. Eles
querem, a exemplo do Rio de Janeiro, trabalhar na Zona Sul, no Centro e em
bairros de classe média da Zona Norte, como a Tijuca, Vila Isabel e o Grajaú.
Os
playboys querem emprego público de meio expediente, atender em clínicas
particulares ou em seus consultórios e faltar quando quiser e quando der aos
plantões e até mesmo aos serviços de rotina. O que eu afirmo é verdade e
acontece, como ocorre também em outros setores profissionais do serviço
público. Os médicos têm o direito de ganhar dinheiro e fazer de sua profissão
apenas uma ferramenta para ter lucros e dividendos. O médico pode ser frio,
calculista, oportunista, dinheirista, egoísta, despolitizado e portar cartazes
levianos. O médico pode até cometer crimes, a exemplo do foragido Roger
Abdelmassih e do cirurgião plástico Hosmany Ramos. Abdelmassih foi libertado
pelo juiz do STF, Gilmar Mendes, useiro e vezeiro em conceder habeas corpus a
personagens da crônica policial.
Agora,
se o médico não quer trabalhar em todo o Brasil mesmo quando ele ainda é jovem,
não tem o direito de impedir que o Governo trabalhista procure soluções para o
problema e o dilema. A presidenta Dilma e o Ministério da Saúde não podem ficar
à mercê de interesses de médicos ligados ao sistema capitalista que controla o
setor da medicina e dos laboratórios. Um presidente é eleito para resolver os
problemas da população e não se submeter aos ditames de gente, de empresas e de
instituições que querem fazer da medicina apenas um segmento para ganhar
dinheiro. Aliás, muito dinheiro. Realmente, os ricos dão trabalho; mas a saúde
é um direito de todos. Que sejam bem-vindos os médicos estrangeiros. É isso
aí.
Um comentário:
Magnífico texto, parabéns!
Somos, além de primários, como lucidamente observou o Jornalista Jânio de Freitas, marginais! Ou seja, um país à margem de tudo, do progresso, da inovação, da cultura, de tudo enfim...
Aproveitamos eventos de repercussão internacional para mostrar que somos exatamente aquilo que os estrangeiros acham de nós, rudes e selvagens. O pior é pensar que assim, vamos resolver os problemas do Brasil... Demonstramos toda nossa apatia durante os processos eleitorais, colocamos no poder as mesmas figurinhas carimbadas de sempre, depois vamos nos queixar, nas ruas, dos desmandos e da corrupção!
Seria hilário se não fosse triste!
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