Do Valor
Autor(es): Francisco Lopes |
Valor Econômico - 17/07/2013 |
Mas espere um momento! Não foram esses números que repercutiram
de forma tão negativa na imprensa, sugerindo até que estamos novamente a
caminho da recessão? Basta olhar os títulos de algumas das matérias publicadas:
Indicador do BC mostra país na rota da recessão; Economia tem maior retração
desde 2008; Cada vez mais difícil decolar; Bancos oficiais já prevêem
crescimento abaixo de 2%; IBC-BR reforça sinais da lenta perda de gás da
economia em 2013; Pibinho de inverno.
Na realidade, a única coisa que fica clara aqui é que a mídia
especializada e a grande maioria dos analistas da economia parecem sofrer
atualmente de um pessimismo obsessivo. De fato a leitura que foi feita dos
números do BC configura um caso clássico do que a psicologia cognitiva denomina
de viés de confirmação (confirmation bias), que ocorre quando as pessoas só são
sensibilizadas por informações que pareçam confirmar suas crenças ou hipóteses,
ignorando qualquer evidência em sentido contrário.
Todo esse pessimismo foi produzido apenas pela observação de que
a variação percentual de maio sobre abril do IBC-BR com ajuste sazonal foi de
menos 1,4%. Acontece, porém, que essa série de variação mensal tem muito ruído.
É no mínimo temerário extrair qualquer sinal de direção de movimento com base
na observação de um único mês. Além disso, quando usamos dados mensais a
introdução do ajustamento sazonal não aumenta muito o poder informativo de uma
observação isolada. No dado mensal o padrão de sazonalidade pode variar muito
ao longo do tempo em resposta a uma serie de fatores, como feriados, greves,
paralisações ou mudanças institucionais. Sabemos que não existe técnica
perfeita de ajuste sazonal, mas com dados mensais as dificuldades ficam ainda
maiores.
Se quisermos ter uma ideia precisa do que está acontecendo com
uma economia, o caminho mais seguro é trabalhar com variações em doze meses.
Mesmo assim uma observação mensal isolada tem que ser vista com cautela. Por
exemplo, a variação em doze meses do IBC-BR até maio de 2013 (portanto sobre
maio de 2012) foi de 2,28%, mostrando sem dúvida uma desaceleração importante
em relação à variação em doze meses de 7,3% até abril. Note-se, porém, que esse
excepcional resultado de abril foi simplesmente ignorado tanto pela imprensa
como pela maioria dos analistas de economia. Por outro lado, a variação em doze
meses de maio significou aceleração em relação às variações de 1,16% até março
e de 0,44% até fevereiro. Que direção de movimento estaria sendo sinalizada
aqui?
Existe amplo consenso de que a forma mais segura para se
analisar o movimento do PIB é usar dados trimestrais. Não é por outra razão que
contas nacionais em toda parte são sempre elaboradas em base trimestral, como
acontece também com o nosso IBGE. O que então pode ser concluído quando os
dados do IBC-BR são transformados por média para uma base trimestral? Se
compararmos o trimestre composto pelos meses de março a maio de 2013 com o
mesmo período de 2012 obtemos uma variação de 3,74%. Podemos notar também que
ao longo do ano essa variação em doze meses calculada para grupos sucessivos de
três meses só aumentou: 1,55% até janeiro. 1,71% até fevereiro, 2,86% até
março, 3,5% até abril e 3,74% até maio.
Para calcular a variação em doze meses do segundo trimestre de
2013 precisaremos ter também uma estimativa para o IBC-BR de junho. Para ser
bem conservador, vamos admitir que o número de junho fique 2,5% abaixo do
número de maio, repetindo um comportamento observado em 2012. Isto significa um
número de junho 5,6% abaixo do de abril. Nesse caso a variação em doze meses
para o PIB do segundo trimestre será de 3,95%. Ou seja, parece grande a
probabilidade de que a taxa de crescimento em quatro trimestres do PIB do
segundo trimestre fique muito próxima de 4%.
Se isso for também confirmado pelo IBGE (e é difícil imaginar
porque não seria), poderemos estar falando de uma variação trimestral na serie
com ajuste sazonal do PIB superior a 1%, talvez até próxima de 1,5%. Vai ser
bem mais difícil sustentar o pessimismo quando esses números forem publicados
em agosto. Ainda assim, é importante insistir de imediato numa leitura mais
precisa dos dados da economia. Afinal ninguém pode razoavelmente desejar que o
pessimismo de hoje venha a afetar negativamente decisões empresariais de
produzir e investir, comprometendo nosso crescimento futuro.
Francisco Lafaiete Lopes -
PhD por Harvard, sócio da consultoria Macrométrica e ex-presidente do Banco
Central (BC).
Postado por Jussara Seixas
Postado por Jussara Seixas
Um comentário:
ALGUÉM TEM DÚVIDA DA MANIPULAÇÃO DA MÍDIA?! ORA PESSOAL, ISSO ESTÁ NO SANGUE...
NA PROFUNDIDADE DA ANÁLISE DE ALGUNS "ESPECIALISTAS", FORMIGA PASSA COM ÁGUA PELA CANELA... (parafraseando André Damasceno!)
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