Num primeiro momento, a mídia
oposicionista estanhou a ausência de críticas políticas nos sermões do
papa Francisco no Brasil. Já nesta sexta-feira (26), ela soltou rojões
com as suas genéricas referências à corrupção durante a visita à favela
Varginha (RJ). O alvo, segundo alguns “calunistas”, foi a presidenta
Dilma. O repórter Fabiano Maisonnave, conhecido por suas coberturas
antichavistas quando era correspondente da Folha na Venezuela,
enfatizou: “Num discurso de forte conteúdo social e recheado de
mensagens políticas, o papa Francisco encorajou ontem os jovens a lutar
contra a corrupção”. Os telejornais, principalmente os da TV Globo,
também elogiaram o “recado papal”.
O discurso do papa Francisco nem foi tão “forte” assim! “Vocês, queridos
jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas
muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com
pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio
benefício... Nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se
apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar.
Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem”, afirmou. Para o
jornalão da famiglia Frias, porém, “o discurso do papa foi interpretado
como uma alusão à onda de protestos iniciada no país em junho”. Haja
imaginação e vontade!
A postura mais cautelosa do papa nem podia ser diferente, apesar dos
apelos midiáticos. Afinal, ele assumiu o Vaticano num período de grave
crise da Igreja Católica, inclusive com inúmeras denúncias de corrupção.
No início de julho, por exemplo, dois diretores do Banco do Vaticano,
Paolo Cipriani e Massimo Tulli, pediram demissão após a prisão do
monsenhor Nunzio Scarano, acusado pelo desvio de milhões de euros da
instituição. O escândalo financeiro da Santa Sé continua sob a
investigação da polícia italiana por lavagem de dinheiro e remessa
ilegal de 20 milhões de euros (cerca de R$ 57 milhões) em dinheiro da
Suíça para a Itália.
Monsenhor Nunzio Scarano já foi apelidado pela imprensa italiana de “Dom
500”, numa referência à nota de € 500 que seria a sua preferida. Antes
de viajar ao Brasil, o papa Francisco anunciou a decisão de auditar as
contas do Banco do Vaticano, cujo nome oficial é IOR (Instituto para
Obras da Religião). Em 2012, a poderosa instituição financeira declarou
possuir € 7,1 bilhões (R$ 20,18 bilhões) em ativos e ter obtido um
lucro de € 86,6 milhões (R$ 246,16 milhões). Antes da prisão, Scarano
chefiava o departamento conhecido pelo curioso nome de Administração do
Patrimônio da Sé Católica. Antes deles, outros religiosos também foram
denunciados por atos ilícitos no Vaticano.
Como se observa, a corrupção não é uma chaga que corrói o Brasil –
apesar da abordagem seletiva e manipuladora da mídia oposicionista. Ela
atinge a própria Santa Sé, o que recomenda cautela ao papa nos seus
sermões!
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