Copiado na íntegra do O Dia Online, Domingo, 28 de dezembro de 2008.
PF vai assumir combate ao tráfico na Bolívia.
A Polícia Federal (PF) do Brasil vai assumir o controle do combate ao tráfico de armas e drogas na Bolívia, país apontado pela Organizações das Nações Unidas (ONU) como o terceiro maior produtor mundial de cocaína, atrás de Colômbia e Peru. A decisão, firmada em acordo entre os dois governos, foi tomada depois que o presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou, em outubro, a expulsão do departamento antidrogas dos Estados Unidos, o Drug Enforcement Administration (DEA), de seu território em novembro. De acordo com o Ministério da Justiça, a PF vai atuar desde a destruição de plantações até a abertura de inquéritos contra os grupos criminosos.
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Pela nota conjunta, assinada pelos ministros da Justiça dos dois países, Tarso Genro e Celina Torrico, a participação do Brasil no combate ao tráfico na Bolívia não vai se restringir ao fornecimento de informações, prática habitual entre os países do continente. "Estamos buscando uma cooperação muito forte, reforçando nosso efetivo na fronteira, para que se possa combater o tráfico de drogas e armas", explicou Genro.
Este tipo de ação seria importante, por exemplo, para evitar que armas cheguem para traficantes do Rio. Segundo dados das forças de segurança do estado, em dois anos foram apreendidas 32 metralhadoras ponto 30 com brasão do exército boliviano desviadas de unidades militares daquele país.
A Bolívia também é origem de 50 t de cocaína que chegam anualmente ao Brasil, como mostrou O Dia na série de reportagens 'Da Folha ao Pó', com base em dados do Departamento de Narcóticos da Bolívia e do Relatório Anual da ONU sobre as drogas na América Latina.
O acordo firmado entre os dois governos prevê a atuação da PF em território boliviano também na repressão ao tráfico, já que o plano inclui a destruição de pistas de pouso, plantações de coca e laboratórios de refino. "O Brasil pretende produzir levantamentos das plantações ilegais. Vamos fazer desde o monitoramento por satélite até o reforço de nossas fronteiras", afirmou o secretário-executivo do Ministério da Justiça, Luiz Paulo Barreto Teles.
Uma das medidas possíveis é o uso de satélites para identificar os alvos, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Outra ação prevista é a vigilância aérea com aeronaves não-tripuladas.
O interesse do Brasil é conter o avanço do tráfico e dificultar o uso de estradas brasileiras para transporte de drogas. Depois da Lei do Abate, que possibilita à Força Aérea Brasileira atacar aviões suspeitos, o transporte de drogas cresceu por via terrestre, tornando o Brasil uma rota preferencial. Para que as medidas sejam implementadas, ainda é necessária a oficialização do acordo, com as assinaturas dos presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Evo Morales, o que está previsto para acontecer em 2009.
Presidente boliviano quer conter expansão de lavourasHá dois meses, o presidente Evo Morales anunciou que o departamento antidrogas dos Estados Unidos, o Drug Enforcement Administration (DEA), não mais atuaria em ações contra o plantio e o tráfico de drogas no território boliviano. Ele acusou seus agentes de espionagem e de financiarem "grupos criminosos" que tentaram acabar com seu governo, conspirando contra ele junto com seus opositores. Sem dar detalhes, Morales também acusou o departamento americano de tentar grampear seu telefone e o de seu vice, Álvaro García Linera.
Ao convidar o Brasil, através da PF, para combater o tráfico na fronteira, o presidente boliviano, ex-cocalero - plantador de arbustos de coca com fins legais, usada em rituais indígenas e na produção de medicamentos -, afirmou que é contra o tráfico de cocaína. Morales se posicionou afirmando que é a favor da política da cocaína zero, mas contra a da "coca zero". Em vez da erradicação total das plantações, como queriam os americanos, a ordem na parceria com o Brasil será controlar a expansão das lavouras de coca.
Para o governo brasileiro, o acordo com a Bolívia faz parte de uma estratégia regional para se tornar uma liderança de sucesso dentro do setor de Segurança Pública e se projetar politicamente na América do Sul.
Fonte: O Dia Online.
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