terça-feira, 26 de junho de 2012

O que temos a ver com o Paraguai e ele conosco


O Brasil, com toda sua força e grandeza, mesmo assim, sofreu também as tentações de um golpe do Congresso Nacional contra Lula em 2005

A nota de repúdio feita pelo Diretório Nacional do PT expressa nossa oposição dura ao golpe de estado que depôs o presidente do Paraguai, Fernando Lugo. No sistema político paraguaio, o presidente é eleito diretamente pelo povo. Não é legítimo, portanto, que ao perder uma maioria parlamentar ele seja cassado. A atitude do Congresso paraguaio foi na verdade cassar a soberania popular.


Se olharmos o tamanho da economia e da população, a composição das forças econômicas e sociais, as lideranças políticas, e as bases populares organizadas, é enorme a distância do Paraguai em relação ao Brasil. Mas, somos todos latino-americanos. Há pontos de igualdade entre nós. Principalmente o sistema econômico capitalista com todas as suas consequências e o jeito como agem as elites ricas. O grande capital rentista, industrial, comercial, rural, não aceita perder o poder para lideranças das classes populares. Se acontece, ele tolera por certo tempo, mas não tira da cabeça e não para de agir para a reconquista do poder. De outro lado, há uma efervescência e luta constante das classes populares para conquistas econômicas, sociais e, finalmente, políticas.


Nos anos de 1970 e 80, as elites na América Latina se respaldaram em regra nas Forças Armadas para manter o poder. Com o fim da Guerra Fria, as Forças Armadas se retraíram de sua participação política. No Paraguai, agora, após a deposição-relâmpago do presidente pelo Parlamento, o comando das Forças Armadas declarou que não interferia, “pois este era um assunto dos políticos”. O golpe articulado pelas elites foi obra agora do Parlamento, com a bênção do Judiciário. É a nova modalidade em uso de “golpe legal”, já antes praticada em Honduras.


As elites ricas, onde hoje não controlam o Executivo, voltaram a ter no Parlamento Nacional seu principal ponto de sustentação institucional. Além disso, através da poderosa mídia privada, seu principal guia ideológico e voz junto ao povo, elas continuamente instigam a opinião pública contra os governos populares.


O Brasil, com toda sua força e grandeza, mesmo assim, sofreu também as tentações de um golpe do Congresso Nacional contra Lula em 2005, no auge da CPI do chamado mensalão. Portanto, não esqueçamos nossa natureza latino-americana.


Aquela intenção de golpe das elites ricas brasileiras via Congresso não prosperou por três razões essenciais: a força e o enraizamento popular das organizações políticas e sociais que levaram a esquerda ao governo; a sua unidade em torno da liderança do presidente; a linha estratégica do PT e do governo de fazer aliança com setores políticos significativos das elites ( uma parte do grande capital, o PMDB e Sarney, o PP e Maluf, etc). Diante deste quadro, as elites ricas sentiram o cheiro do fracasso e recuaram. Não tinham unidade para avançar contra o poder popular e o temiam.


No Paraguai, as notícias indicam que não havia nenhum destes três fatores para sustentar no governo o bispo originário da Teologia da Libertação.


As fortíssimas resistências à reforma política no Brasil, que pode afastar o peso do financiamento da política pelas elites ricas e, portanto, diminuir sua força no seu baluarte, o Parlamento, mostram o quanto esta classe social privilegiada é consciente de onde reside sua principal força nas instituições atualmente. Não é por acaso que a grande mídia e os partidos dominados pelas elites ricas não querem no Brasil a reforma política proposta pela esquerda. A que eles querem, distritalizar a eleição de deputados e manter o financiamento privado, é para garantir maioria no Parlamento.


As alianças com partidos conservadores, que o PT e nossos governos nacionais fizeram, incomodam as elites ricas e seus líderes ideológicos porque asseguram estabilidade aos governos de esquerda. Foi um dos ingredientes, não o único, que faltou para sustentar o presidente Lugo no Paraguai. Faltava-lhe também um partido forte, com profundo enraizamento popular, e um movimento social

organizado com grande peso político na sociedade. Não podemos criticar Lugo por isso. Ele fez a sua parte, e merece toda nossa solidariedade e apoio.


Elói Pietá é secretário geral nacional do Partido dos Trabalhadores

Um comentário:

Unknown disse...

Amanhecer com um artigo de Tarso Genro no Blog do Altamiro Borges e mais o artigo de Mauro Santayana e este, é um chamado, ainda, que, para um soldado solitário como eu, repetindo, solitário, ainda, pois aguardo de minha de tempos remotos, casa, o chamado. Pois morrer pela pátria ou viver sem razão é sentido, mas viver sem razão quando nos traem em pátria, como se pátria traíssse e não traída, aí pátria deixa de ser razão, como o viver.
Em outros comentários e até artigos que arrisquei, em meu semi-analfabetismo, escrever sobre o mensalão "da tentativa de golpe de estado" no Brasil e que só não aconteceu porque o Supremo Tribunal Federal e principalmente Gilmar Mendes se não me engano ainda procurador Geral da União, ou que fosse já como ministro, juntos, acordaram a tempo e impediram o impeachiment de Lula. Porque até a maioria dos petistas já haviam caído no conto do vigário do mensalão e ameaçavam se rebelar contra o governo.
Hoje, aLguns petistas, desavisados ou influênciados por uma pequena parcela de petistas bloguistas, principalmente, que conscientemente por razões meramente pessoais, alteram os rumos desta história por outras intrigas com Gilmar Mendes. Ficam indignados e levam outros a tanto quando deixo comentário dizendo que o PT lhe deve gratidão eterna, como à todo o Supremo Tribunal Federal. E deveria agradeço-los com honrarias em nome da pátria, porque sustentaram corajosamente a democracia. Pois a rasteira havia sido dada e sorrateiramente rápida, e caso alguém não ficasse de pé logo como o STF e Gilmar Mendes, a derrubada do governo era certeira, estaria concretizada.
Tarso Genro conta-nos duas histórias em uma, Fernando Lugo e Lula vem de um mesmo movimento. Mexer com uma elite intocável desde séculos pela primeira vez. Não se venderam e não se venderão, por isso esteve, no caso do Lula, e estará no caso de Fernando Lugo, em risco de sofrer um golpe de estado o tempo todo.
Está na hora de aproveitar o ensejo, porque estamos em plena pressão para votar o mensalão o mais breve possível, apressadamente, para criar mais um pandemônio político no país e diminuir a força do Lula. Também, aos petistas como Tarso Genro no mesmo ensejo, humildemente deve dar início ao processo de reconhecimento e agradecimento oficializado ao STF e a Gilmar Mendes pelo impedimento do golpe de estado no Brasil com o mensalão, e o fortalecimento e garantida da democracia.
Também não cabe a você, Tarso Genro, político de sua envergadura, se manter ocupado só com os problemas do Rio Grande do Sul. Esta aqui um exemplo prático do que falo, a falta de mais, para somar, manifestações coerentes e verídicas sobre temas como o golpe de estado no Paraguay, por um político de sua consciência e importância.
José da Mota.