América Latina
9 de Fevereiro de 2010 - 15h11 O presidente Lula, escolhido como o estadista do ano, poderia propor ao mundo a implantação de um programa Bolsa-Família Internacional para o Haiti.
Se no Brasil o Bolsa-Família foi capaz de assegurar alimentação diária para 44 milhões de seres humanos que viviam , ou melhor, vegetavam dormindo e acordando com fome, como não será possível que algumas dezenas de países juntos, sobretudo os ricos, destinassem parte de seus recursos para assegurar a 10 milhões de haitianos que possam alimentar-se regularmente, enquanto o país é reconstruído?
É verdade que muitos países estão já repartindo parte de suas receitas com os haitianos. O Brasil aprovou recursos de 350 milhões de reais para a ilha caribenha. Cuba mandou para lá cerca de 60 médicos e já está montando o quinto hospital de campanha, com a ajuda dos países que formam a ALBA – Aliança Bolivariana dos Povos da América.
A Unasur estará reunindo-se por estes dias também para propor uma ação concreta de ajuda ao Haiti.
Mas, a diferença de um Programa Bolsa-Família Internacional é que daria regularidade, sustentação e promoveria o compromisso da comunidade internacional com a sorte daquele povo que já sofreu invasões militares tanto de franceses como de norte-americanos, que já teve seus recursos rapinados, que foi obrigado a pagar uma dívida escorchante com a França, que teve que suportar uma sanguinária ditadura apoiada pelos EUA e agora tem que reconstruir-se todo após o terremoto.
É evidente que com uma pequena parcela do que estes países ricos gastam em armamentos, em cosméticos, em comida para cachorro, em alcool e guloseimas, já seria possível garantir o funcionamento de um Bolsa-Família no Haiti. O que deve ser indagado, com veemência, é se querem mesmo salvar o Haiti, como afirmam neste circo midiático que se formou ou se vão, uma vez mais, condenar o Haiti à morte?
No caso brasileiro, também é importante que além dos médicos, alimentos, medicamentos, veículos e maquinário para realização de obras de infra-estrutura, o Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro, os programas de reconstrução que Lula está direcionando para o Haiti incluíssem a proposta de Bolsa-Família Internacional.
Isto porque não é difícil prever, lamentavelmente, que um país que já praticamente não tinha uma economia de pé, que teve sua agricultura destruída colonialismo, agora, após um terremoto deste porte, venha a sofrer também efeitos catastróficos da fome e da desnutrição. Sem contar, infelizmente, com alguma possibilidade grave de epidemias, como alertam já os profissionais de saúde.
Rádio Solidariedade
O Bolsa-Família, por meio do cadastramento das mães, permitiria salvar as crianças, a parte mais frágil de tudo isto, bem como os idosos e enfermos. O uso do rádio pode ser decisivo para orientar e dar informações de utilidade pública para toda uma população que hoje vive sob barracas, ao relento, sem endereço, sem instalações sanitárias, sem água, luz etc.
Por isso, é positiva a idéia de algumas entidades sindicais e comunitárias brasileiras de coletar milhares de radinhos de pilha e doar ao Exército Brasileiro para distribuir entre os haitianos. Assim, os haitianos podem ser alcançados pela programação da Rádio ONU, por exemplo, ou outra que cumpra a função social e humanitária, rigorosamente obrigatórias.
A depender de avaliação do Exército - consultas estão em curso - estas entidades poderiam também enviar transmissores de rádios comunitárias, desde que assegurado o seu funcionamento seguro e adequado, já que há ainda a atuação de grupos armados que organizam saques.
Assim, caberia também ao governo pensar na instalação de um Ponto de Cultura do Minc por lá, tal como o já existente em Caracas. Assim, a solidariedade brasileira ao Haiti ganharia em qualidade com a participação popular, tal como está propondo o MST, disposto a enviar técnicos agrícolas, sementes, ferramentas.
Vale lembrar que relatório da FAO indica que existe uma produção de feijão com risco de perda já que os haitianos tudo perderam, estão cuidando dos enfermos, não têm transporte, não há infra-estrutura para promover esta colheita. Quantas brigadas de solidariedade não se enviaram à Nicarágua e a Cuba para a colheita do café da cana. É hora de refazê-las.
O movimento estudantil, os sindicatos, as universidades brasileiras também poderiam oferecer ajuda, seja coletando os radinhos, ou sementes, seja desenvolvendo programas técnicos adequados para a situação, seja por meio do envio de brigadas, que atuariam em coordenação com o Exército Brasileiro, conformando uma aliança cívico-militar que já atuou de forma muito positiva em nossa História, por exemplo, na Campanha “O Petróleo é Nosso”, que resultou na criação da Petrobrás.
Integração latino-americana e caribenha
Há uma disputa de ocupação estratégica naquela região. Mesmo nas tragédias, os planos mais sinistros vicejam. Se há supostos missionários dos EUA presos por tentarem seqüestrar crianças haitianas...como denunciou a Telesur. O Brasil tem realizado obras importantes no Caribe, com a presença de suas empresas estatais - como a Petrobrás que está ampliando e modernizando o Porto de Mariel , em Cuba - e esta presença deveria ser consolidada, qualificada, obviamente, não com o sentido colonialista como se aventa maliciosamente nas páginas do jornalismo de desintegração. O sentido deve ser o de promover a legítima e necessária integração dos países da América Latina e Caribe.
No Caribe está a Quarta Frota dos EUA, que despejaram mais de 13 mil fuzileiros no Haiti. Por ali também navega a Frota Russa. Ali está a Venezuela nacionalizando seus recursos e onde estão importantes empresas estatais e privadas brasileiras. E sabemos que não é apenas no filme “Avatar” que o complexo militar-industrial possui planos agressivos contra a Pátria de Bolívar.
Já Cuba tem hoje no Haiti 600 médicos. Já tinha centenas antes do terremoto, além de programas de alfabetização em dialeto creole, desenvolvido por pedagogos cubanos, com o uso criativo do rádio. Detalhe: em Cuba já não há mais analfabetismo, há décadas! E agora o país também está enviando para Porto-Príncipe jovens haitianos que estudam na Escola de Latinoamericana de Medicina, localizada em Havana.
Nesta Escola também estudam, gratuitamente, 500 jovens estadunidenses, em sua maioria negros e pobres dos bairros do Harlem e do Brooklin. Alguns destes estudantes estadunidenses também estão sendo enviados para o Haiti para atender os enfermos.
O episódio caracteriza uma situação muito interessante para ser examinada não à luz da medicina, mas da política: o mais rico país do mundo, que tem o maior número de médicos do mundo, que tem também o maior orçamento militar de todo o mundo, desembarca 13 mil soldados no país destroçado.
E Cuba, que é um país de escassos recursos materiais, além de permitir que jovens pobres e negros estadunidenses formem-se em medicina - um deles declarou que se continuasse no Harlem provavelmente cairia nas mãos do narcotráfico - os envia para prestar solidariedade a um povo negro e irmão, evidenciando o sentido simbolicamente antagônico das duas iniciativas.
Lá no Haiti, este estudante armado de idéias, de sabedoria e uma consciência de medicina social, tal como o Che praticou, quando se defrontar cara a cara com um mariner armado, preparado para matar, revelará ao mundo uma das mais generosas lições do dolorido Haiti.
* Beto Almeida é membro da Junta Diretiva da Telesur e presidente da TV Cidade Livre de Brasília
Fonte: Carta Maior
Leia também:
Haiti: Unasul debate ajuda humanitária e ações de reconstrução
‘Militarização da ajuda humanitária está destruindo mais o Haiti’
Matéria enviada por Leda Ribeiro - Colabordora do Blog
O presidente Lula, escolhido como o estadista do ano, poderia propor ao mundo a implantação de um programa Bolsa-Família Internacional para o Haiti.
Por Beto Almeida*, em Carta Maior
Se no Brasil o Bolsa-Família foi capaz de assegurar alimentação diária para 44 milhões de seres humanos que viviam , ou melhor, vegetavam dormindo e acordando com fome, como não será possível que algumas dezenas de países juntos, sobretudo os ricos, destinassem parte de seus recursos para assegurar a 10 milhões de haitianos que possam alimentar-se regularmente, enquanto o país é reconstruído?É verdade que muitos países estão já repartindo parte de suas receitas com os haitianos. O Brasil aprovou recursos de 350 milhões de reais para a ilha caribenha. Cuba mandou para lá cerca de 60 médicos e já está montando o quinto hospital de campanha, com a ajuda dos países que formam a ALBA – Aliança Bolivariana dos Povos da América.
A Unasur estará reunindo-se por estes dias também para propor uma ação concreta de ajuda ao Haiti.
Mas, a diferença de um Programa Bolsa-Família Internacional é que daria regularidade, sustentação e promoveria o compromisso da comunidade internacional com a sorte daquele povo que já sofreu invasões militares tanto de franceses como de norte-americanos, que já teve seus recursos rapinados, que foi obrigado a pagar uma dívida escorchante com a França, que teve que suportar uma sanguinária ditadura apoiada pelos EUA e agora tem que reconstruir-se todo após o terremoto.
É evidente que com uma pequena parcela do que estes países ricos gastam em armamentos, em cosméticos, em comida para cachorro, em alcool e guloseimas, já seria possível garantir o funcionamento de um Bolsa-Família no Haiti. O que deve ser indagado, com veemência, é se querem mesmo salvar o Haiti, como afirmam neste circo midiático que se formou ou se vão, uma vez mais, condenar o Haiti à morte?
No caso brasileiro, também é importante que além dos médicos, alimentos, medicamentos, veículos e maquinário para realização de obras de infra-estrutura, o Batalhão de Engenharia do Exército Brasileiro, os programas de reconstrução que Lula está direcionando para o Haiti incluíssem a proposta de Bolsa-Família Internacional.
Isto porque não é difícil prever, lamentavelmente, que um país que já praticamente não tinha uma economia de pé, que teve sua agricultura destruída colonialismo, agora, após um terremoto deste porte, venha a sofrer também efeitos catastróficos da fome e da desnutrição. Sem contar, infelizmente, com alguma possibilidade grave de epidemias, como alertam já os profissionais de saúde.
Rádio Solidariedade
O Bolsa-Família, por meio do cadastramento das mães, permitiria salvar as crianças, a parte mais frágil de tudo isto, bem como os idosos e enfermos. O uso do rádio pode ser decisivo para orientar e dar informações de utilidade pública para toda uma população que hoje vive sob barracas, ao relento, sem endereço, sem instalações sanitárias, sem água, luz etc.
Por isso, é positiva a idéia de algumas entidades sindicais e comunitárias brasileiras de coletar milhares de radinhos de pilha e doar ao Exército Brasileiro para distribuir entre os haitianos. Assim, os haitianos podem ser alcançados pela programação da Rádio ONU, por exemplo, ou outra que cumpra a função social e humanitária, rigorosamente obrigatórias.
A depender de avaliação do Exército - consultas estão em curso - estas entidades poderiam também enviar transmissores de rádios comunitárias, desde que assegurado o seu funcionamento seguro e adequado, já que há ainda a atuação de grupos armados que organizam saques.
Assim, caberia também ao governo pensar na instalação de um Ponto de Cultura do Minc por lá, tal como o já existente em Caracas. Assim, a solidariedade brasileira ao Haiti ganharia em qualidade com a participação popular, tal como está propondo o MST, disposto a enviar técnicos agrícolas, sementes, ferramentas.
Vale lembrar que relatório da FAO indica que existe uma produção de feijão com risco de perda já que os haitianos tudo perderam, estão cuidando dos enfermos, não têm transporte, não há infra-estrutura para promover esta colheita. Quantas brigadas de solidariedade não se enviaram à Nicarágua e a Cuba para a colheita do café da cana. É hora de refazê-las.
O movimento estudantil, os sindicatos, as universidades brasileiras também poderiam oferecer ajuda, seja coletando os radinhos, ou sementes, seja desenvolvendo programas técnicos adequados para a situação, seja por meio do envio de brigadas, que atuariam em coordenação com o Exército Brasileiro, conformando uma aliança cívico-militar que já atuou de forma muito positiva em nossa História, por exemplo, na Campanha “O Petróleo é Nosso”, que resultou na criação da Petrobrás.
Integração latino-americana e caribenha
Há uma disputa de ocupação estratégica naquela região. Mesmo nas tragédias, os planos mais sinistros vicejam. Se há supostos missionários dos EUA presos por tentarem seqüestrar crianças haitianas...como denunciou a Telesur. O Brasil tem realizado obras importantes no Caribe, com a presença de suas empresas estatais - como a Petrobrás que está ampliando e modernizando o Porto de Mariel , em Cuba - e esta presença deveria ser consolidada, qualificada, obviamente, não com o sentido colonialista como se aventa maliciosamente nas páginas do jornalismo de desintegração. O sentido deve ser o de promover a legítima e necessária integração dos países da América Latina e Caribe.
No Caribe está a Quarta Frota dos EUA, que despejaram mais de 13 mil fuzileiros no Haiti. Por ali também navega a Frota Russa. Ali está a Venezuela nacionalizando seus recursos e onde estão importantes empresas estatais e privadas brasileiras. E sabemos que não é apenas no filme “Avatar” que o complexo militar-industrial possui planos agressivos contra a Pátria de Bolívar.
Já Cuba tem hoje no Haiti 600 médicos. Já tinha centenas antes do terremoto, além de programas de alfabetização em dialeto creole, desenvolvido por pedagogos cubanos, com o uso criativo do rádio. Detalhe: em Cuba já não há mais analfabetismo, há décadas! E agora o país também está enviando para Porto-Príncipe jovens haitianos que estudam na Escola de Latinoamericana de Medicina, localizada em Havana.
Nesta Escola também estudam, gratuitamente, 500 jovens estadunidenses, em sua maioria negros e pobres dos bairros do Harlem e do Brooklin. Alguns destes estudantes estadunidenses também estão sendo enviados para o Haiti para atender os enfermos.
O episódio caracteriza uma situação muito interessante para ser examinada não à luz da medicina, mas da política: o mais rico país do mundo, que tem o maior número de médicos do mundo, que tem também o maior orçamento militar de todo o mundo, desembarca 13 mil soldados no país destroçado.
E Cuba, que é um país de escassos recursos materiais, além de permitir que jovens pobres e negros estadunidenses formem-se em medicina - um deles declarou que se continuasse no Harlem provavelmente cairia nas mãos do narcotráfico - os envia para prestar solidariedade a um povo negro e irmão, evidenciando o sentido simbolicamente antagônico das duas iniciativas.
Lá no Haiti, este estudante armado de idéias, de sabedoria e uma consciência de medicina social, tal como o Che praticou, quando se defrontar cara a cara com um mariner armado, preparado para matar, revelará ao mundo uma das mais generosas lições do dolorido Haiti.
* Beto Almeida é membro da Junta Diretiva da Telesur e presidente da TV Cidade Livre de Brasília
Fonte: Carta Maior
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Haiti: Unasul debate ajuda humanitária e ações de reconstrução
‘Militarização da ajuda humanitária está destruindo mais o Haiti’
Matéria enviada por Leda Ribeiro - Colabordora do Blog
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