No último dia 12 de fevereiro, este blog fez quatro anos. O primeiro post foi publicado em um domingo daqueles em que os jornais do dia tratavam de massacrar a então nascente política de cotas para negros nas universidades públicas, dizendo que acarretaria “prejuízo acadêmico” àquelas instituições porque os negros que nelas ingressassem por aquele sistema não estariam “preparados”.
Tentei voltar no tempo me lembrando do estado de espírito que então, há quatro anos e três dias, levou-me, mesmo não sendo jornalista, mesmo sendo apenas um mero caixeiro-viajante que leva seus produtos a países do Terceiro Mundo, a criar um espaço jornalístico de onde passaria a fustigar aqueles que, a meu conceito, interditavam – e continuam interditando – os debates sobre as grandes questões nacionais e mundiais.
Naquela época, antes mesmo de criar este blog, eu já escrevia meus artigos diários em listas de e-mails contendo centenas de endereços eletrônicos e em sites jornalísticos como o Observatório da Imprensa, mas jamais pensei que lograria criar um espaço como o Cidadania se tornou, e muito menos em me tornar um ativista político fundando uma ONG com uma parcela dos leitores.
O primeiro post do Cidadania fez duas previsões, há quatro anos, que acredito que se confirmaram.
Em uma época em que ainda não se conhecia bem o resultado que adviria da política de cotas para negros nas universidades, afirmei que o tal “prejuízo acadêmico” não aconteceria. Hoje, mesmo que acadêmicos e jornalistas brancos continuem travando a mesma guerra inglória contra uma política pública que dá oportunidade a jovens negros e pobres de se formarem, eles não podem mais usar aquele argumento.
A segunda afirmação que fiz naquele primeiro post foi a de que acabara o monopólio da informação pela grande mídia. Usei um tom jocoso, valendo-me do bordão de uma personagem humorística da tevê que aludia a perda de uma condição privilegiada que, como todos sabem, acabou acontecendo, pois hoje ninguém mais ousa dizer que aquilo que a imprensa não divulga, não existe. Ela mesma não diz mais isso.
Além de agradecer a vocês pela audiência, sobretudo àqueles que estão todo esse tempo comigo, em homenagem autônoma aos quatro anos desta página reproduzo, abaixo, aquele post que deu a partida do blog Cidadania e de tudo mais que eu faria a partir dele.
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‘Isso não te pertence mais!’
Qualquer assunto polêmico discutido pela metade, ou seja, sob o ponto de vista de apenas um dos lados tenderá a permanecer polêmico, a acirrar posições, porque o lado que não puder expor suas razões ficará irritado ao extremo e, dessa maneira, será impossível resolver o problema.
Assim tem sido no debate sobre cotas étnicas e econômicas nas universidades. Qualquer pesquisa minimamente honesta nas seções opinativas da imprensa escrita, onde o debate é travado em maior profundidade, confirmará o que afirmo, isto é, que o setor da sociedade contrário às cotas vem sendo privilegiado nesses espaços.
Essa discussão sobre as cotas deveria ser travada em cima das várias experiências de sua implantação que já existem no Brasil há um bom tempo, só que aí descobrir-se-ia ser falacioso o tão repisado argumento sobre poderem vir a causar ‘prejuízo acadêmico’ às universidades.
Tenho bradado contra as interdições do debate que predominam nas seções opinativas da imprensa escrita, mas tenho falado para as paredes. Ela parece acreditar que impedindo o debate conseguirá impor sua opinião na marra. Mas como diria uma humorista da TV: ‘Interdição do debate?, isso não te pertence mais!’
Escrito por Eduardo Guimarães às 17h20
Matéria publicada por Leda Ribeiro - Colaboradora do Blog
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