domingo, 21 de fevereiro de 2010

“EU TENHO MUITO MEDO”

Do e-mail enviado por Leila Brito, do Blog Chá.com Letras, que está em Meus Favoritos.

“EU TENHO MUITO MEDO”

Laerte Braga


O texto atribuído ao ator Carlos Vereza não faz justiça ao seu talento como tal. Soa como tendo sido produzido nos porões do PROJAC, por especialistas em criar fantasmas e medos, lembra a patética afirmação da atriz Regina Duarte em 2002, quando Lula foi eleito presidente. Uns dias antes das eleições a moça, amiga de FHC, disse que “eu tenho muito medo”.

Medo de que?

As eleições presidenciais no Brasil transcendem ao nosso País, inserem-se na luta dos povos latino-americanos num primeiro plano e nações em desenvolvimento numa perspectiva maior, na reação ao que Samuel Pinheiro Guimarães chamou de “Quinhentos anos de Periferia” (Contraponto, 2001).

“O fortalecimento desse super-Estado norte-americano se exerce por meio de sua crescente capacidade de projeção de força política, econômica e militar, direta ou indiretamente através de organismos internacionais, tais como a ONU, a OTAN, a OMC, o FMI e o Banco Mundial. Um aspecto revelador do crescente poder nacional do Estado americano é a sua capacidade de, mesmo diante da evidência de aumento de seu poder, promover e difundir ideologias que advogam a inevitabilidade – ou a necessidade – do desaparecimento dos outros Estados (e, portanto, a naturabilidade e a desejabilidade de seu enfraquecimento) e de fazer com que as sociedades e as lideranças de outros Estados disso se convençam e para tal fim colaborem”.

Vereza em “sua” carta alerta fala em uso dos fundos de pensão de estatais. Esquece-se que as privatizações foram comandadas por Fernando Henrique Cardoso usando os referidos fundos de forma ilegal, imoral e José Serra era um dos ministros. Primeiro do Planejamento (convenceu os resistentes que a privatização da VALE era boa para o Brasil) e depois da Saúde, onde se apropriou da lei de Jamil Haddad como se sua fosse, a dos genéricos. Mau caratismo puro.

O fato de ser ator não transforma ninguém, necessariamente, em profeta de um apocalipse que não existe, exceto na cabeça daqueles que quando recebem propinas se juntam em orações. Ou que reagem à prisão de um político corrupto como José Roberto Arruda com “patriótica indignação”, afirmando que “isso aqui não é a Venezuela”.

Por que? Pilantras como Serra (“vote num careca e leve dois”), FHC e Arruda ficam presos na Venezuela?

O ator fala em fascismo. Onde? A não ser que esteja ensaiando para uma peça ou uma novela de nonsense, não tem a menor idéia do que seja fascismo.

Para cada eleição uma “regina duarte”. Vereza faz dupla com Arnaldo Jabor, são as “reginas” da vez.

Criam e alimentam em linguagem recheada de uma falsa indignação um temor injustificado, mas com objetivos claros e definidos para vender determinadas candidaturas em função dos interesses das empresas das quais são empregados muito bem remunerados. Vendem a ideologia dos donos.

Não pensam com a cabeça, pensam com o contracheque.

O desse tipo de gente vem impresso em inglês, assim como o projeto de lei de patentes que FHC recebeu, nos primeiros momentos de seu governo, e enviou no original para o Congresso. De quatro, a maioria aprovou.

Ou na concorrência fraudulenta do SIVAM (SISTEMA DE VIGILÂNCIA AÉREA DA AMAZÕNIA), parte do processo de entrega do Brasil. Valeu-lhe uma chantagem e engoliu durante quatro anos, pagou o preço cobrado, um superintendente na Polícia Federal.

A mesma que não prendia ninguém e hoje prende governadores corruptos.

Será que o ator acha que isso é liberdade de expressão? A não ser que liberdade de expressão seja a opinião de quem paga, tudo bem.

Por trás da carta de Carlos Vereza está uma parte do processo político de avanço sobre a jóia da coroa na América Latina, o Brasil.

Querem porque querem que sejamos BRAZIL.

Deve ser intolerável para esse tipo de gente que acha que “gari é a mais baixa escala da categoria de trabalho” (frase de Boris Casoy) supor que um trabalhador possa ascender ao governo e governar com índices de popularidade superiores a notáveis como FHC. Notáveis bandidos.

Vazia, mas recheada de pomposidade patriótica, cujo único objetivo é garantir o leite das crianças (e que leite!), o ator lembra, até pela sua forma de atuar, sua voz, aqueles vampiros anunciando que vão morder a vítima e sugar-lhe o sangue.

São dois vampiros. Ele e Serra. Quantos teremos até o dia das eleições?

Perto de 500 mil crianças morreram de fome no Iraque, antes da invasão e ocupação por tropas do império norte-americano, por conta do embargo econômico contra aquele país. Madeleine Albright, secretária de Estado do governo de Clinton, quando perguntada sobre o fato respondeu “que é um preço que pagamos pela democracia”.

Que democracia? Dos coturnos nazi/fascistas que sufocam o Afeganistão em sangue matando civis todos os dias? Que envia dez mil soldados para o Haiti com o objetivo de garantir o petróleo dos haitianos para suas empresas?

O modelo de sociedade concebido por quem escreveu a carta para o ator Carlos Vereza, jogada de marketing, repeteco da patética Regina Duarte, é doentio. Se você olhar as caras que transitam pelas ruas do império verá que são iguais. Exceto quando invadem escolas e matam seus próprios colegas. Ou escritórios e assassinam seus companheiros de trabalho. Ou países e se tornam senhores do mundo numa ordem bárbara e boçal.

E Vereza vem falar em Estado fascista? Em “fascismo galopante”.

Sou mais o gari que puxou a ministra Dilma Roussef para dançar no carnaval carioca. Um brasileiro que pensa como brasileiro e sonha um Brasil brasileiro. É bem diferente do BRAZIL de Vereza, ou dos patrões de Vereza.

Está mais para filme de terror, daqueles antigos. Você os vê e não consegue nada além de dar boas risadas.

Quem tem medo são eles. Medo de perder os privilégios que o poder corrupto financiado pelo império dos EUA lhes confere.

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