quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Discurso limonada sem limão (resposta ao @AlonFe)

Também do Blog TERRA BRASILIS.

Por LEN*

O blogueiro Alon Feuerwerker, por cujo trabalho nutro respeito, pois tenta fazer uma linha imparcial do tipo bate em Chico e em Francisco, no melhor estilo Gaspari de ser, escreveu um artigo chamado Limões, discursos e limonadas em que afirma, em resumo, não reconhecer qualquer vitória da diplomacia brasileira nos últimos sete anos e que tudo que esse governo tem a apresentar em matéria de vitória na política externa são, segundo suas próprias palavras, os prêmios recebidos por Lula, as reportagens favoráveis e os salamaleques a ele dispensados. Respeitando a opinião do jornalista, escrevo um texto questionando a sua análise e argumentos.

Para justificar seus argumentos, Alon questiona seus leitores perguntando qual seria a vitória material, concreta da diplomacia brasileira no governo Lula. Confesso que é a primeira vez que ouço falar em materialidade em questões diplomáticas. O que seria isso? Não, o jornalista não cita disputas bilaterais na OMC, porque poderíamos imaginar que uma decisão da corte da Organização Mundial do Comércio poderia ser vista como uma concretude de vitória diplomática. Não, o blogueiro não cita as vitórias na escolha da sede olímpica e da Copa do Mundo. Então, o que diabos seria uma vitória material em assuntos diplomáticos?

No corpo do texto, o jornalista menciona o que para ele seriam vitórias “concretas”, sendo que todas elas são inequívocas questões de interpretação, não tendo nada de materiais. Podemos tomar, como exemplo, os casos que ele apresentou relativos à Russia e à China. Eu que acompanhei com certo interesse a discussão dos escudos antimísseis na Europa não entendi qualquer vitória Russa, nem percebi essa versão no noticiário internacional. No caso, o ato de agressão contra os países da região foi americano e, mesmo tendo razão, a Rússia teve que negociar apoio para pressionar o Irã, seu parceiro estratégico contra o expansionismo americano travestido de guerra ao terror, mas o jornalista viu como uma vitória russa, do seu direito. Quanto à China, Alon faz a maior salada, faz referência a dois casos antagônicos, como acordos comerciais sino-americanos e o encontro de Dalai Lama com Obama (?????). Como o Alon é inteligente, eu presumo que ele tenha aludido ao encontro não como uma vitória da China, mas como uma resposta do Governo americano ao público interno que o estava criticando pelo acordo (?!?!?!?!) afff… O Governo americano cedeu em questões comerciais simplesmente porque depende do comércio com a China, não está em situação confortável para dispor dessa relação comercial. A China, nesse caso, vence por ter cacife e não por ter estratégia diplomática correta, isso sem querer desmerecer a diplomacia dos chineses.

Ao relacionar as “derrotas concretas” do Itamaraty, Alon cita casos em que cabem várias interpretações. No caso de Honduras, por exemplo, a posição do Brasil foi referendada por quase uma unanimidade, até os EUA que tinham interesse no que aquele golpe representava não questionaram. A nossa imprensa tem todo o direito de ter sua própria visão dos fatos, mesmo não tendo fora do país (com exceção da mídia pró golpe de Honduras e de alguns jornais conservadores americanos) qualquer respaldo pelo seu posicionamento exarcebadamente crítico em relação à postura brasileira, o que não pode é simplesmente decretarem, porque se auto-referenciam e se repetem até que eles mesmos acreditem que suas versões são a única e inquestionável verdade, que não há contestação possível ao que eles definem ser um fracasso, não é verdade, o Alon sabe que há contraditório e, quem defende as instituições democráticas independente da coloração partidária do governo, tem que reconhecer no mínimo que as intenções foram as melhores e que se o final não foi o desejado, pelo menos o governo brasileiro não fez o papelão sugerido pelos críticos de entregar um presidente deposto a um governo golpista, esse sim seria um motivo de vergonha para ficar na história. Para concluir, o blogueiro decreta que Lula e a diplomacia Brasileira foram derrotados no acordo de Doha. O que o Alon não explicou: qual foi o consenso mundial nos últimos tempos que justifique que o fracasso da rodada de Doha possa ser creditado à fraca atuação diplomática brasileira? Em vez de criticar nesse caso, acho que ele acabou evidenciando a protagonização brasileira. Só não chegou ao extremo de dizer que o motivo para não haver acordo na conferência climática foi culpa de Lula.

Sinceramente, acho que a imprensa tem dever de criticar o governo Lula, mas em determinadas situações em que o argumento é fraco geralmente se força a barra. Existem alguns pontos no governo Lula que podem ser motivos de críticas justas e embasadas, como por exemplo, a área da saúde e outros serviços disponibilizados, agora dizer que a diplomacia brasileira não tem uma vitória para mostrar é se recusar a enxergar. Lula e o Itamaraty tiraram o país da irrelevância e adesismo automático para uma posição de contraponto aos EUA, sem os radicalismos de Chávez, apontando um caminho novo a ser seguido sem o confronto verbal e sim com posições firmes que deram à política externa brasileira uma cara que nunca teve.

Não reconhecer o belo trabalho diplomático feito para convencer os membros do comitê olímpico internacional de que o Brasil poderia sediar uma olimpíada é desmerecer um belo trabalho. O Alon deveria seguir o conselho do Ministro Joaquim Barbosa e sair às ruas e perguntar ao brasileiro se ele ainda tem aquele complexo de vira-latas do tempo em que autoridade tinha que tirar os sapatos para entrar nos EUA ou do presidente que vestia fardão para agradar a rainha da Inglaterra ou que discursava em língua estrangeira como um colonizado obediente para delírio da elite tupiniquim e desespero de quem tinha ainda alguma vergonha. Talvez ele perceba o que mudou.

*LEN é editor-geral do Blog do LEN e co-editor do Terra Brasilis.

Nenhum comentário: