domingo, 14 de fevereiro de 2010

PSDB / FHC

Do Blog APOSENTADO INVOCADO.


Tucanato não esconde que parte da herança de FHC, às vezes, complica o partido.

Daniela Lima

Fernando Henrique Cardoso tornou-se um dilema para o seu partido, o PSDB. Desde que deixou a Presidência da República, em 2002, impôs um legado à legenda. O problema é que há duas eleições os tucanos não conseguem unificar um discurso sobre o que fazer com essa herança. O terceiro pleito se aproxima — acontecerá em outubro — e a sombra do ex-presidente ainda parece incomodar integrantes da sigla. Dividida entre fazer a defesa das ações do homem que se consolidou como uma das maiores lideranças tucanas e pregar o novo, a cúpula do partido patina quando pressionada a assumir uma posição no jogo eleitoral que, inevitavelmente, sempre leva o PSDB a rediscutir o passado.

Na última semana, o ex-presidente dominou o noticiário protagonizando ataques à ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, candidata do presidente Lula à sucessão no Palácio do Planalto. A resposta foi dada pela própria ministra em tom desafiador. Ela convidou o tucanato a confrontar os oito anos de FHC com os oito da era Lula. Mais do que um desafio, a proposta soou como provocação. É esse o debate que o PSDB não decide se trava ou abandona.

O presidente nacional da legenda, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), garante que Fernando Henrique Cardoso não é um fantasma que assombra a pré-candidatura do governador de São Paulo, José Serra, mas admite que a herança política do ex-presidente dividiu e divide o tucanato. “No passado, alguém pode ter vacilado, mas no presente, não. Discutir as gestões de Fernando Henrique e Lula, para nós, não é constrangimento algum. As questões centrais do governo são desdobramentos de programas criados por nós”, afirmou.

Guerra sabe que, embora esse seja o discurso praticado pela cúpula do PSDB, ele não chega a ser unanimidade. “Esses colegas que não botam a cara para bater são minoria. O discurso que ele (Fernando Henrique) faz é o que nos mantém vivos e competitivos. Ele não nos tira nenhum voto quando fala, quando aponta erros.”

Vergonha
A fala do senador é uma síntese do que o tucanato gostaria de vender para o eleitorado. O problema é que, mesmo entre a cúpula, há quem peque ao tentar reproduzir essa fala. “Outro dia, vi um colega do partido dizer que o Fernando Henrique é passado. Isso é burrice. O PSDB não pode se envergonhar da sua história”, afirmou o deputado José Aníbal (PSDB-SP).

O “colega” que soltou a frase é ninguém menos do que o novo líder tucano na Câmara. Em entrevista no Congresso, João Almeida (PSDB-BA) disse que “Fernando Henrique é passado” e que Lula também o seria daqui a algum tempo. “Vamos comparar a capacidade administrativa de Serra e Dilma”, concluiu.

Em tese, Almeida estava tentando dar voz à tese dos tucanos, de que quem deve estar no foco das eleições são Dilma e Serra, os dois pré-candidatos. Mas escorregou ao montar a frase. O presidente Lula, perspicaz, remontou-a ao seu modo. Em entrevista a rádios de Goiás na sexta-feira, atacou: “A verdade é que o Geraldo Alckmin (tucano que disputou com ele a preferência do eleitorado em 2006) não quis o FHC em 2006. A verdade é que o Serra também não o quer na campanha de 2010”.


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