Depois das monções, tempo estável, seco. O sol constante e ameno. O sol frio de agosto. O blogueiro está calmo e lúcido como um samurai prestes a cortar a cabeça do inimigo. Iniciarei algumas mudanças no visual do site para adaptá-lo ao período eleitoral. Vários links de amigos serão deslocados.
Nunca participei de campanha política. Não sei porque. Nem em 2002 e 2006, quando já torcia fanaticamente por Lula. Escrevia como um possesso mas na época de campanha eu sempre me ligava em outra coisa. Muitas vezes em coisas idiotas e simplórias, como acompanhar minha mulher numa viagem de trabalho (ela é - ou foi - guia turística) para as cidades históricas de Minas.
A luta comendo no Brasil e eu procurando internet em Tiradentes. Só tinha uma, na prefeitura. Quer dizer, depois eu encontrei outra, numa segunda viagem para lá, uma lan house boa. Mas eu não tinha dinheiro na primeira vez.
Meu pai começou a trabalhar com quatro anos de idade. Ele vivia falando isso. De como teve que repousar a bunda em água salgada para curar as feridas abertas pela sela áspera do cavalo. Por isso talvez ele não hesitou em me usar - com quase a mesma idade, ou seja, com dezesseis - como mão-de-obra para sua empresa, seu jornal de café, quando as circunstâncias da vida o empurarram a isso. Lutava, meu pai. Bravamente. Estava cansado, porque o trabalho jornalístico é extremamente esgotante, mas a aposentadoria de 900 reais por mês não dava para sustentar mulher e dois filhos acostumados ao conforto.
Eu sempre achei que não é bem assim. O conceito de trabalho mudou bastante com a chegada das novas tecnologias. O mais importante é ter boas idéias. As máquinas trabalharão por nós. De uma forma ou de outra, as funções repetitivas estão sendo transferidas para sistemas de inteligência artificial. Não é por bondade, claro, mas porque empresas e governo lucram muito mais empregando máquinas incansáveis, que não erram, não aceitam propina, não fazem greves, do que trabalhadores interminavelmente em estado de revolta (abertamente, com punho fechado, ou subrepticiamente, com um sorriso homicida nos olhos) contra seus patrões. Eu adorei entender isso, porque me fez descobrir novos truques tecnológicos e trabalhar menos.
Dessa vez, porém, eu quero participar. Preciso participar desta peleja. Nos outros anos, eu tinha o meu emprego, ainda não tinha dado o salto. Eu estou diferente também. Menos cafona, eu acho.
Não estranhem, portanto, as mudanças no blog. Vou procurar torná-lo mais simples e funcional. Mais leve, para que possa aumentar o número de visitas. Profissionalizá-lo, enfim. Limpar e modernizar também a linha editorial. Dar um tempo na parte "Diário de um blogueiro duro e louco" e investir mais no segmento "Blogueiro influencia eleições".
E mesmo sem a presunção (megalômana, por certo, mas divertida) de influenciar, estaremos realizando acúmulo de força. As eleições deste ano envolvem não apenas a disputa presidencial, mas também a renovação do Legislativo. Uma configuração política nova se instalará no país a partir de 2011, com Dilma ou sem Dilma.
A vitória da esquerda no Brasil, nesse momento da América Latina, nesse momento do mundo, é algo que todas as pessoas sensíveis à conjunção astrológica que regula as relações internacionais intuem se tratar de um evento geopolítico determinante. O mundo está de olho no Brasil. O mundo estudará a democracia brasileira e daí tirará conclusões. Na América Latina, está evidente que a vitória de Serra será nociva às pretensões sulamericanas de fortalecer a união política do continente. A intelectualidade tucana já cansou de dar mostras sobre o que pretende em termos de política externa. Ela quer de qualquer jeito voltar ao americanismo chulé, vagabundo, subserviente, burro, que praticou durante tantos anos.
E ainda ficam elogiando nossos duzentos anos de politica externa! Ah, politica externa esplêndida que tivemos, que nos deixou até hoje exportando matérias primas baratas. Quando, finalmente, um governo começa a praticar uma política externa voltada para o interesse nacional, para o interesse econômico real das empresas e dos trabalhadores brasileiros, eles vem com esse papinho de ideologismo, terceiromundismo, antiamericanismo.
Acham um absurdo o Brasil fabricar navios e plataformas por aqui mesmo, em vez de fazê-lo em Cingapura...
Acham ótimo o Brasil exportar minério de ferro para a China a 40 dólares a tonelada e comprar produtos chineses de 250 mil dólares a tonelada.
Anticomunistas de merda que são, porque preferem dar dinheiro aos comunistas chineses a lutar por mais dinheiro no bolso de patrões e empregados conterrâneos.
Não sou contra a China, porém. Admiro-a extraordinariamente, mesmo nunca querendo morar lá. Não tenho sequer curiosidade. Assim como não tenho curiosidade de conhecer a Arábia Saudita. Não piso em lugar onde mulher é cidadã de segunda classe. Por isso aliás que é ridículo esse discurso anticubano por parte dos ianques do mundo inteiro, incluindo os ianques de Higienópolis, enquanto temos uma Arábia Saudita aí.
A China mata dezenas de dissidentes diariamente mas o Clóvis Rossi exige que o presidente declare guerra à Cuba porque um prisioneiro decidiu fazer greve de fome e morreu. Ahah, vá fazer greve de fome na China, meu irmão, e verá se eles te levam ao hospital para se tratar como fazem em Cuba. Que China! Vá fazer greve de fome no Paquistão, Arábia Saudita, Sudão, Costa do Marfim, e verá o tratamento humanista que terá do governo.
Andei refletindo e acho que a humanidade caminhará, de um jeito ou de outro, para alguma espécie de socialismo internacional, regido por instituições democráticas, provavelmente a própria ONU mesmo. É o maior pesadelo de Olavo de Carvalho, eu sei. Mas é isso mesmo. Só que ele acha ruim, eu acho ótimo. A existência de uma autoridade não exclui a liberdade. Ao contrário. A liberdade apenas pode existir em presença da autoridade. Dialética cristalina. Uma lei internacional a reger os povos. A coisa mais irritante é pensar que a extrema direita americana ainda pode ser compreendida, porque ela aspira ao poder imperial que lhe beneficia diretamente, mas a direita brasileira, ao contrário, porque cargas d'água prefere que o mundo siga as leis emanadas de Washington? Qual o interesse para o Brasil? Isso sempre me lembra, não sei porque, os "carecas" racistas e neonazistas de São Paulo, um bando de latino-americano mestiço a defender a superioridade dos arianos do norte europeu...
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