Antonietta era uma dona de casa de classe média (não era classe média alta) na Itália de 1938, antes da II Guerra Mundial, casada com um marido integrante das milícias de camisa preta de Mussolini, o que ela julgava ser motivo de certo orgulho, pela aceitação social em seu meio.
No dia em que Hitler foi recebido por Mussolini, em visita a Itália, marido, filhos e toda a vizinhança de Antonietta vestiram as camisas pretas, e todos se dirigiram para saudar o "Duce" e o "Fuher".
Ela e poucos vizinhos ficaram em casa. No prédio, decorado com bandeiras fascistas e nazistas, os rádios tocavam hinos e marchas triunfais e transmitiam o encontro dos chefes de estado.
Uma série de acontecimentos em seu cotidiano leva Antonietta a ter contato com outra visão do mundo que a cerca, descobrindo novos horizontes em sua vida.
A Antonietta acima é a atriz Sofia Loren na obra-prima do cinema italiano "Um Dia Muito Especial".
No Brasil da vida real também existem Antoniettas, cujos maridos vestem camisas de candidatos demo-tucanos na família, e entregaram "santinhos" para elas votarem em José Serra (PSDB/SP) nas últimas eleições.
Algumas ou muitas dessas Antoniettas assistem Ana Maria Braga na TV, todas manhãs, e a entrevista com a presidenta Dilma foi um acontecimento que levou Antoniettas a terem contato com outra visão da vida, do mundo que as cercam, abrindo-lhes novos horizontes.
Que mãe de uma menina não fica tocada ao ver uma mulher na presidência da República com a postura que Dilma teve no programa, honrando o cargo, a nação e todas as mulheres? Uma presidenta que não era nada daquilo que os "camisas pretas" demo-tucanos disseram dela?
Dilma, quando foi na Ana Maria Braga, não se limitou a falar amenidades, nem fazer mero populismo.
Fez um discurso e tomou atitudes bastantes politizadas, falando de diversos desafios das mulheres, de micro-empreendedorismo feminino, com leveza para um público que, regra geral, não é muito politizado, como a Sofia Loren no filme.
O ponto alto da entrevista foi quando ela falou da igualdade entre as pessoas, e aí está a grande politização. Ela tratou a si mesma de igual para igual com a telespectadora. Eis alguns trechos:
... o que eu sinto do povo brasileiro, nas pessoas que se aproximam de mim? Uma relação de igualdade, não é? Eles me tratam intimamente, conversam comigo como conversavam antes e falam coisas muito importantes, porque falam com sinceridade, falam sem querer te agradar. Então, isso é que eu acho a coisa melhor que me aconteceu na campanha, mas ainda é essa absoluta familiaridade que o povo tem com a gente. E reclamam, fazem sugestões, elogiam, contam histórias pessoais, porque de uma certa forma, você tem um papel de... você é uma espécie, uma mistura de parente, conselheiro, amigo, ... a relação de igualdade sempre está presente. Não é uma relação de desigualdade.
[Comentando sobre depoimentos de populares:]
Agora, o que eu gostei mais é dessa percepção que eu te disse que o povo tem: que a gente é igual a eles.
Isso é muito bom, que um povo pense assim do seu governante. Ele não pode achar que a gente é diferente dele porque, senão, como é que pode governá-lo, não é?
eu acho que a parte ruim de ser presidente é ... eu não posso mais andar na rua como eu andava antes. Que é uma coisa muito boa você andar na rua, não é? Você andar na rua, você ver as pessoas, você compartilhar do mundo que as pessoas desfrutam quando elas vão para a rua, até para caminhar na calçada.
A parte mais criticada, vista como populismo por uns, e que muitas feministas torceram o nariz, foi a mais politizada depois do que foi dito na entrevista, considerando o perfil da audiência do programa: fazer a omelete.
Ali a presidenta saiu de vez do palácio e entrou na casa da telespectadora, passando a mensagem de que tanto a presidenta pode fazer uma omelete e não há nenhum demérito na mulher que cuida e prepara o alimento para seus filhos e sua família, como qualquer mulher que faça omelete pode ocupar os mais altos cargos. Até de Presidenta da República.
Aliás, esta é a mesma mensagem que o presidente Lula sempre passou a todos que tem origem mais humilde, como ele teve.
Dilma foi na Globo, foi no programa da musa do CANSEI, mas indo ali, libertou muitas Antoniettas, abrindo novos horizontes para elas.
A blogosfera ficou chateada. Muitos não viram e não gostaram. Muitos não entenderam a mensagem de Dilma justamente porque são politizados, não são como Antonietta. Mas não há sentido em disputar as atenções da Presidenta com as Antoniettas que precisam dela, para serem libertas da intoxicação fascista feita durante a campanha eleitoral, mesmo que seja através de um programa na TV Globo.
O que a blogosfera precisa é disputar a notícia, pelo direito a informação correta e plural para o cidadão. E quem é fonte da noticia é quem pode democratizar sua disseminação, sem depender de esperar pela lei dos médios, uma vez que a blogosfera está fora do escopo dessa lei, porque não é concessão pública.
A blogosfera precisa é de ser tratada como veículo de notícias que somos, para evitar a hegemonia do noticiário deturpado do PIG, como no caso dos cortes do orçamento, onde o noticiário do PIG fez terrorismo, falando, por exemplo, em cortes de R$ 3 bilhões no Ministério da Educação, mas escondendo que o orçamento teve um aumento de R$ 62 para R$ 69 bilhões, mesmo após os cortes.
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