domingo, 3 de abril de 2011

Crianças mortas podem suspender ação da Otan-Nato no Líbia

Da Carta Capital - 1 de abril de 2011 às 14:11h

Wálter Maierovitch*


Crianças mortas podem suspender ação da Otan-Nato no Líbia. Alemanha pede fim das ações militares da coalizão.

1. No meio da semana passada o presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro ministro britânico David Cameron realizaram a concorrida Conferência de Londres.

Na verdade, foi um “oba-oba” para discussão sobre uma “via de saída” para o tirano Muammar Kadafi.

Sarkozy e Cameron, quando acertaram a realização da conferência, já tinham escolhido até o lugar na parede da lareira para a pele do leão-raís líbio.

A dupla, no entanto, esqueceu que Kadafi continua vivo. E na região da Tripolitânia, ainda Kadafi é considerado o raís (chefe, em árabe).

Ontem, como este blog Sem Fronteiras noticiou em primeira mão, as forças da Aliança Atlântica (Otan-Nato) bombarderam bairros de Trípoli. E 40 civis morreram, como denunciou o mais alto representante do Vaticano na capital da Líbia: monsenhor Martinelli, do Vicariato Apostólico de Trípoli.

Hoje, no quartel-general da missão da Otan-Nato para cumprimento da Resolução 1973 das Nações Unidas, chegou a notícia do bombardeamento noturno de ontem em Zawia e Argobe, situadas a 15 km de distância de Brega: as vizinhas cidades de Brega e Ras Lanuf têm importância estratégica pela existência dos dois maiores e mais importantes terminais petrolíferos da região da Cirenaica.

O “raid” noturno em Zawaia e Argobe resultou em tragédia com a morte, nas suas residências, de 7 civis e ferimentos graves em outros 25.

Atenção: entre os mortos e feridos em Zawia e Argobe a média de idade varia entre 12 e 20 anos de idade.

Na primeira tragédia de 40 vítimas fatais, –na quinta-feira 31 e em bairros de Trípole sob bombardeamento pelas “forças humanitárias” da Otan-Nato–, figuraram várias crianças.

No momento, fala-se em suspensão dos bombardeamentos. A Alemanha, em face do ocorrido, pede a imediata suspensão das ações militares das forças de coalizão na Líbia.

PANO RÁPIDO. Tudo se passa em três momentos relevantes:

1. o ministro líbio do Petróleo, Hukri Ghanem, desmente que renunciará e declara fidelidade a Kadafi.

2. o ministro da Defesa dos EUA, depois das bolas foras chutadas pelo presidente Obama e a secretária Hillari Clinton, trabalha para jogar água fria na tese estapafúrdia da mencionada dupla. Obama e a Clinton falaram que estudavam a tese de armar os rebeldes ( depois os assessores, com disparate semelhante, mudaram a tese para fornecimento, em substituição, de peças de armas de fogo). Por evidente, não é apropriada pensar em armas rebeldes por quem integra uma coalizãoa voltada a perpetrar ações humanitárias.

3. O delfim de Kadafi, –que estudou na Alemanha e se autoproclamava artista plástico em exposições pagas com dinheiro do povo líbio–, mandou enviados a Londres para tratar de uma eventual divisão da Líbia em dois países: Trípoli-Fezzen (para Kadafi ou para ele Said) e a Cirenaica para os rebeldes. Rebeldes liderados por um Conselho presidido pelo ex-ministro da Justiça de Kadafi, que, depois de perder poder na ditadura, aderiu à revolta em Bengasi.


*Walter Maierovitch é jurista e professor, foi desembargador no TJ-SP
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