Do Opera Mundi - 18h59 | João Novaes | Redação
Primeira reunião de cúpula da nova entidade regional conta com a presença de 32 líderes em Caracas
“Pela primeira vez na história, teremos uma organização para a nossa América (Latina). Se ela tiver êxito, este será o maior acontecimento nos 200 anos de semi-independência que tivemos até agora”. Com esse discurso, o presidente de Cuba, Raúl Castro, que se encontra na Venezuela, classificou a importância da primeira reunião de cúpula da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), que ocorre nesta sexta-feira (02/12), em Caracas. Idealizada em 2010 para fazer um contraponto à OEA (Organização dos Estados Americanos), o grupo só não contará com a presença de Estados Unidos e Canadá no continente.
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Os 33 representantes sul-americanos durante cerimônia de instalação da Celac, em Caracas
Nesta reunião, a Celac contará com a presença de 32 dos 33 chefes de Estado e governo do continente – a exceção é o presidente peruano Ollanta Humala, que precisou ficar no país para negociar uma solução pacífica para o impasse envolvendo movimentos populares contra a construção de um projeto de mineração em Cajamarca. Nesta sexta-feira, um protesto deixou ao menos vinte pessoas feridas.
Amizade
Principal idealizador do grupo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, saudou os líderes presentes, e fez uma homenagem especial à presidente argentina Cristina Kirchner: lhe presenteou com um quadro feito por ele mesmo do ex-presidente Néstor Kirchner, morto em 2010. ”Foi o quadro mais bonito que fiz em minha vida”, disse à Cristina, que se emocionou com a foto de seu ex-marido.
Efe
Chávez (esq.), no momento em que mostra seu quadro à presidente argentina Cristina Kírchner
Também em clima amistoso, a presidente brasileira Dilma Rousseff brincou com o líder venezuelano, dizendo que a careca de se antecessor, Luiz Inácio lula da Silva, não era tão bonita quanto a dele. Tanto Lula quanto Chávez tiveram que submeter-se a sessões de quimioterapia. Em outubro, Lula foi diagnosticado com um câncer de laringe. Já Chávez trata de um câncer desde junho, fator que postergou a reunião da Celac por alguns meses.
Trabalhos
Na última quinta-feira, o chanceler venezuelano Nicolás Maduro coordenou a primeira reunião de ministros de relações exteriores do grupo, e afirmou ter avançado em pelo menos 18 pontos de interess comum dos países-membros. “Quase um recorde”, comemorou.
Ricardo Suckert/Presidência
A presidente Dilma Rousseff brinca com a careca de Chávez em coletiva de imprensa
O objetivo da nova associação latino-americana é fomentar a autonomia e integração da região, maior exportadora de alimentos e uma das principais reservas de gás e petróleo no mundo. Assim, a Celac passa a substituir oficialmente o Grupo do Rio e a Calc (Cúpula da América Latina e do Caribe).
A reunião de cúpula da organização se encerrará neste sábado (03/12).
Repercussão
O presidente do Equador, Rafael Correa, o encontro representa a oportunidade de ter um fórum mais próprio e sem “as cisões causadas pela América Anglo-Saxônica”. “Temos de nos defender de sermos acusados de ditadores e tiranos. Os EUA não reconhecem essa convenção, as contradições são muito profundas”, disse o líder equatoriano.
Felipe Calderón, presidente do México, disse que a associação deverá fortalecer a independência democrática dos estados-membros. “Hoje continuamos um longo processo nunca visto, onde pretendemos forjar a prosperidade para todos os seus habitantes”.
Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, lembrou que a data da criação oficial do grupo não foi por acaso: ”Foi precisamente em 2 de dezembro de 1883 (há 228 anos) que os Estados Unidos proclamaram a Doutrina Monroe, uma política expansionista para dominar a América Latina. Mas precisamente hoje, também em um2 de dezembro, estamos colocando fim a esta doutrina”.
”O sonho de Simon Bolívar e Augusto Sandino se faz realidade”, disse o líder nicaraguense. Ortega lembrou que, além dos dois países anglo-saxões, apenas um outro povo nas Américas na faz parte do grupo: Porto Rico, oficialmente um território não-incorporado aos EUA. Ortega se referiu ao fato de, em 1824, Bolívar ter feito uma convocação para a integração dos países da região em um congresso no Panamá.
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