A MÍDIA QUE ESTÁ ESCONDENDO É SÓCIA DOS TUKANOS?
CADÊ A CAPA DA VEJA?
CADÊ O JORNAL DA BAND?
CADÊ A FOLHA?
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Luís Nassif: A reportagem investigativa da década
A reportagem investigativa da década
Enviado por luisnassif, sab, 10/12/2011 – 21:28
Fui ontem à coletiva do repórter Amaury Ribeiro Jr, sobre o livro que lançou.
Minha
curiosidade maior era avaliar seu conhecimento dos mecanismos do
mercado financeiro e das estruturas de lavagem de dinheiro.
Amaury
tem um jeito de delegado de polícia, fala alto, joga as ideias de uma
forma meio atrapalhada – embora o livro seja surpreendentemente claro
para a complexidade do tema. Mas conhece profundamente o assunto.
Na
CPI dos Precatórios – que antecedeu a CPI do Banestado – passei um mês
levando tiro de alguns colegas de Brasília ao desnudar as operações de
esquenta-esfria dinheiro e a estratégia adotada por Paulo Maluf. Foi o
primeiro episódio jornalístico a desvendar o submundo das relações
políticas, mercado financeiro, crime organizado.
No
começo entendi os tiros como ciumeira de colegas pela invasão do seu
território por jornalista de fora. Depois, me dei conta que havia um
esquema Maluf coordenando o espírito de manada, no qual embarcaram
colegas sem conhecimento mais aprofundado do tema.
Minhas
colunas estão no livro “O jornalismo dos anos 90”, mostrando como
funcionavam as empresas offshore, o sistema de doleiros no Brasil, as
operações esquenta-esfria na BMF e na Bovespa, as jogadas com títulos
estaduais.
Repassei
parte desse conhecimento ao meu amigo Walter Maierovitch, quando
começou a estudar esse imbricamento mercado-crimes financeiros e,
depois, na cerimônia de lançamento do Sisbin (Sistema Brasileiro de
Inteligência).
Mesmo
assim, persistiu a dicotomia na cobertura: jornalistas de mercado não
entravam em temas policiais e jornalistas policiais não conheciam temas
financeiros. E a Polícia Federal e o Ministério Público ainda tateavam
esse caminho.
Aos
poucos avançou-se nessa direção. A Sisbin significou um avanço
extraordinário na luta contra o crime organizado. E, no jornalismo,
Amaury Ribeiro Jr acabou sendo a melhor combinação de jornalismo
policial com conhecimento de mercado.
Quem
o ouve falar, meio guturalmente, não percebe, de imediato, sua argúcia
e enorme conhecimento. Além de ter se tornado um especialista nas
manobras em paraísos fiscais, nos esquemas de esquentamento de
dinheiro, tem um enorme discernimento para entender as características
de cada personagem envolvido na trama.
Mapeou
um conjunto de personagens que atuam juntos desde os anos 90, girando
em torno do poder e da influência de José Serra: Riolli, Preciado,
Ricardo Sergio, Verônica Serra, seu marido Alexandre Burgeois. É uma
ação continuada.
Entendeu
bem como se montou o álibi Verônica Serra, uma mocinha estreante em
Internet, naquele fim dos anos 90, com baixíssimo conhecimento sobre
tendências, modelos de negócios, de repente transformada, por matérias
plantadas, na mais bem sucedida executiva da Internet nacional.
Criou-se um personagem com toque de Midas, em um terreno onde os
valores são intangíveis (a Internet) para justificar seu processo de
enriquecimento. Mas todo o dinheiro que produzia vinha do exterior, de
empresas offshore.
Talvez
o leitor leigo não entenda direito o significado desses esquemas
offshore em paraísos fiscais. São utilizados para internalizar dinheiro
de quem não quer que a origem seja rastreada. Nos anos 90, a grande
década da corrupção corporativa, foram utilizados tanto por grandes
corporações – como Citigroup, IBM – para operações de corrupção na
América Latina (achando que com as offshores seriam blindadas em seus
países), como por políticos para receber propinas, traficantes para
esquentar recursos ilícitos.
Ou
seja, não há NENHUMA probabilidade de que o dinheiro que entrou pelas
contas de Verônica provenha de fontes legítimas, formalizadas, de
negócios legais.
Ao
mesmo tempo, Amaury mostra como esse tipo de atuação de Serra o levou a
enveredar por terrenos muito mais pesados, os esquemas de arapongagem,
os esquemas na Internet (o livro não chega a abordar), os assassinatos
de reputação de adversários ou meros críticos. É um modo de operação
bastante tipificado na literatura criminal.
No
fundo, o grande pacto de 2005 com a mídia visou dois objetivos para
Serra: um, que não alcançou, o de se tornar presidente da República; o
outro, que conseguiu, a blindagem.
O
comprometimento da velha mídia com ele foi tão amplo, orgânico, que
ela acabou se enredando na própria armadilha. Não pode repercutir as
denúncias de corrupção contra Serra porque afetaria sua própria
credibilidade junto ao universo restrito de leitores que lêem jornais,
mas não chegam ainda à Internet.
Ao
juntar todas as peças do quebra-cabeças e acrescentar documentos
relevantes, Amaury escancara a história recente do país. Fica claro
porque os jornais embarcaram de cabeça na defesa de Daniel Dantas,
Gilmar Mendes e outros personagens que os indispuseram com seus
próprios leitores. (Só não ficou claro porque o PT aceitou transformar a
CPI do Banestado em pizza. Quais os nomes petistas que estavam
envolvidos nas operações?)
E
agora? Como justificar o enorme estardalhaço em torno do avião alugado
do Lupi (independentemente dos demais vícios do personagem) e esconder
o enriquecimento pessoal de um bi-candidato à presidência da
República?
Mesmo não havendo repercussão na velha mídia, o estrago está feito.
Serra
será gradativamente largado ao mar, como carga indesejada, aliás da
mesma forma que está ocorrendo com os jornalistas que fizeram parte do
seu esquema.
A CPI dos Precatórios
No PDF, o livro “O jornalismo dos anos 90”.
A partir da página 147, minhas colunas sobre a CPI dos Precatórios,
onde já se revelava todo o imenso esquema do crime organizado no país,
os doleiros, a operação em Foz do Iguaçu, as concessões do Banco
Central etc.
A
ironia da história é que, em determinado momento, consegui convencer o
banqueiro Fábio Nahoum – testa de ferro do Maluf – a passar
informações ao relator da CPI, senador Roberto Requião. Como
testemunhas do encontro, a repórter Mônica Bérgamo – que teve um
comportamento impecável quando Requião e alguns colegas de Brasília
tentaram desqualificar minhas revelações – e o então senador José
Serra.
Não podia imaginar que um dos esquemas que operava na região era do próprio Serra.
PS do Viomundo1:
A título de esclarecimento, a CPI do Banestado, a nave-mãe de todas as
operações de lavagem de dinheiro no Brasil, foi aberta por conta de
uma reportagem do Amaury publicada na capa da IstoÉ.
PS do Viomundo2: Segundo se infere do que está no Privataria Tucana, esta é uma das peças de ficção jornalística criadas para justificar a fortuna repentina de Verônica Serra.
+++
Emediato: Esgotada primeira edição de Privataria Tucana
por Luiz Carlos Azenha
Luiz
Fernando Emediato, da Geração Editorial, experimentou ontem a força
dos blogues sujos. E, obviamente, da capa da CartaCapital.
O fato é que, na noite de ontem, a editora já não tinha mais cópias do livro Privataria Tucana, de Amaury Ribeiro Jr.
Todos
os 15 mil exemplares tinham sido despachados. A editora foi pega
completamente de surpresa pela força de divulgação dos internautas e,
durante o dia, teve de improvisar para dar conta de atender aos pedidos
das livrarias, que não paravam de chegar.
Houve
muitos boatos, inclusive sobre a apreensão do livro. De suspeito,
mesmo, só alguns compradores que levaram todo o estoque de duas
livrarias (50 livros em cada).
A Geração se especializou em lançamentos guerrilheiros, como o do livro Honoráveis Bandidos, de Palmério Dória, que vendeu mais de 100 mil cópias sem qualquer divulgação na grande mídia.
Há,
porém, uma diferença: o livro de Amaury, embora trate de um tema
espinhoso — lavagem de dinheiro — traz quase uma centena de páginas de
documentos e pode ter desdobramentos políticos e até mesmo jurídicos de
longo prazo.
PS do Viomundo: Nossos
pedidos de desculpas aos leitores. Ontem, por uma lastimável falha
técnica, o blog subiu uma janela para transmissão do twitcam que nos
deixou na mão, sem que pudessemos corrigir a tempo. Felizmente, outros
blogues supriram nossa deficiência.
PS do Viomundo2:
Emediato ofereceu uma cópia do livro para ser sorteada entre os
leitores do Viomundo. Deixem os nomes nos comentários, pois. Obrigado.
Leia também:
http://www.viomundo.com.br/politica/emediato-esgotada-primeira-edicao-de-privataria-tucana.htmlDo Grupo Beatrice.
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