“Novos documentos e escutas mostram a
intensa troca de favores entre o senador Demóstenes Torres e o bicheiro Carlinhos
Cachoeira – da saúde pública às licitações da Copa
Marcelo Rocha, Murilo Ramos e Andrei
Meireles / ÉPOCA
Qual é o papel de um líder? Conseguir que
outros o sigam. Inspirar seus subordinados por meio de suas próprias ações.
Servir de exemplo para as futuras conquistas de um corpo coletivo. O senador Demóstenes
Torres, do DEM de Goiás, liderava seu partido no Senado Federal. Suas
palavras e atitudes, apoiadas num passado de credibilidade no mundo jurídico e
como secretário da Segurança Pública de seu Estado, eram respeitadas na cena
política nacional. Não mais. Documentos e escutas telefônicas revelados nas
últimas semanas mostram que, em vez de representar seus mais de 2 milhões de
eleitores, Demóstenes se concentrou em defender os interesses de um único
cidadão brasileiro: o empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira. Demóstenes fez lobby para Cachoeira no Congresso Nacional, na
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e na Infraero, empresa
responsável pela infraestrutura dos aeroportos do país. Uma transcrição obtida
com exclusividade por ÉPOCA mostra que Demóstenes também pedia favores a
Cachoeira. Ele queria que o bicheiro, influente no Centro-Oeste, ajudasse a
agência de publicidade de um amigo a conseguir contratos em Mato Grosso para a
Copa do Mundo (leia o documento abaixo). Acumulam-se as evidências de uma
relação promíscua entre um legislador e um fora da lei.
nvestigações da Polícia Federal mostram que
essa relação incluía inúmeras conversas amistosas, acompanhadas de troca de
favores. Um desses bate-papos ocorreu num final de tarde, exatamente às 16h38,
do dia 11 de abril de 2011. Os dois conversaram sobre negócios ao telefone.
Demóstenes pediu ajuda a Cachoeira para vencer uma licitação em Mato Grosso. Estava
em disputa a prestação de serviços de marketing relacionados à Copa do Mundo de
2014. Demóstenes diz a Cachoeira que um “amigo nosso”, dono de agência de
publicidade, está interessado. “Cê acha que consegue?”, pergunta Demóstenes.
“Acho um negócio bacana. Se for do interesse seu... (de Demóstenes)”, responde
Cachoeira. “Eu acho que consigo.” Quatro minutos depois, os dois voltam a se
falar, e Demóstenes afirma que passará na casa de Cachoeira para conversar mais
sobre o assunto. A ocasião realmente merecia uma discussão mais profunda:
estavam em jogo dois lotes, de R$ 13 milhões cada um. Mais tarde, Cachoeira
tratou do mesmo assunto com Cláudio Abreu, representante da empresa Delta
Construções no Centro-Oeste. “Pega uma (um dos lotes) pra nós”, diz Cachoeira.
Em milhares de páginas, o inquérito da Operação Monte Carlo expõe em detalhes
como Demóstenes Torres conciliou – e muitas vezes misturou – sua função de
senador da República com a de prestador de serviços e parceiro privado de
Cachoeira. Tais serviços incluíam lobby, tráfico de influência e corrupção.”
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