E ela divulga sua ação: ”Os Países fortes têm a obrigação de impedir no mundo {…} a vitória do comunismo que se impõe e sustenta pela violência e pela força brutal das armas”. Nessa situação, é preciso desmantelar o movimento. Parar a História. Estancar o sangue novo. Expulsar Aldo Arantes da JUC, líder da UNE. Isolar a vítima expiatória para não manter contato com os membros sadios da comunidade cristã. Os santos não poderiam ser contaminados pelos pagãos e ateus.
Em defesa de sua infalibilidade doutrinário-social desliga, assim, os juscistas da política e, em conluio com a repressão militar de 1964, os reduz ao silêncio da clandestinidade, seres humanos sem vez e voz. Coxos, surdos e mudos. Corpos e mentes, mutilados e despedaçados, são vestígios da contradição da Igreja que proclama a liberdade como valor absoluto e, no entanto, o restringe para o outro.
Temendo a desintegração e a desordem social da “marcha acelerada do comunismo para a conquista do poder”, a Igreja apoiou o poder coercitivo das Forças Armadas, subordinando e entregando aos seus agentes, aos futuros torturadores da Segurança Nacional, os movimentos católicos da ação política.
O poder sacro falou e escreveu a repressão, a tortura, prisões, espancamentos e assassinatos de seus líderes políticos formados e treinados nos Círculos de Estudo da Igreja. Pois, no Sacrifício da Missa, rezada em ação de graças pelo golpe, proclamava o elogio à Revolução Militar e exultava de alegria com a derrota dos comunistas, nestes termos:
“A rendermos graças a Deus, que atendeu as orações de milhões de brasileiros e nos livrou do perigo comunista, agradecemos aos Militares que se levantaram, em nome dos supremos interesses da Nação”.Mascarada pelo anticomunismo, a instituição eclesiástica realizava seu desejo de fazer a ordem político-religiosa aparecer à sociedade como um benefício inestimável do Cristianismo em oposição ao Marxismo. Para ela, essa nova ordem, desencadeada pela Ditadura Militar e desejada por Deus – do deus católico -, constitui o ponto culminante de todo processo real da “violência sagrada” que, para a religião, funda a unidade social contra a vítima expiatória.
Por isso, nesse mesmo ato de respeito ao golpe autoritário, os bispos e padres durante aquela missa, ressaltavam, com festas, “uma sensação de alívio e de esperança… o mesmo sentimento de gratidão a Deus, pelo êxito incruento de uma revolução armada”. Era a bênção de Javé ao poder militar, escondidos atrás de suas fardas, em benefício do poder e da herança da Igreja, em ter apaziguado a violência substituída pelo vinho, transformado em sangue na celebração da Missa, instrumentos de prevenção na luta contra a tirania dos comunistas.
Francisco Antônio de Andrade Filho
Veja também:
- Espaço Político da CNBB na Ditadura Militar [parte II]
- Ficha Falsa na Folha: Uma Camuflagem do Golpe 1964
- Sarney: Tudo pelo Social no Plano Cruzado
- Ação Igreja – metamorfose da tradição na modernidade
- Ideologia Política da Nova República do Brasil [Parte 3]
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