A tese sustentada pela grande imprensa de que os próprios veiculos
jornalísticos teriam a competência de se autorregulamentarem vem sendo
fortemente prejudicada pela insistência em não apurar as denúncias
contra o envolvimento da Veja com o crime organizado.
Ao contrário do que aconteceu na Inglaterra, onde o escândalo Murdoch
foi revelado basicamente pela investigação profissional e competente de
jornalistas do The Guardian e da BBC, no Brasil, Folha, Estadão e Globo tentam, sem sucesso, construir uma cortina de silêncio em torno dos desvios éticos da revista Veja e do Grupo Abril, com seu envolvimento já comprovado com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira.
A opinião pública surpresa com este tipo de corporavismo recorre às
redes, onde a investigação jornalística e independente vem ganhando
força, até com adesão de portais como o Terra.
A resistência é tanta que centenas de milhares de acessos diários nas
redes, frequencia maior do que a maioria dos jornais deste país, não
foram o suficiente para mostrar aos grandes grupos que o tema deve pelo
menos ser debatido.
Quando o escândalo Murdoch veio à tona, diversos jornalistas brasileiros
disseram que a regulamentação da imprensa não era necessária porque ela
própria teria a capacidade de se autofiscalizar.
Mas, pouco tempo depois, diante das revelações das práticas ilícitas do
Grupo Abril, esta tese veio abaixo com o silêncio em relação ao caso e
até a agresividade sustentada por colunistas contra os profissionais que
na rede vêm fornecendo informações comprovadas e importantes para a
sociedade.
À época do escândalo, o próprio The Guardian promoveu um amplo debate sobre fiscalização e limites em relação à ação dos jornalistas e dos veículos.
Nem sequer este debate foi promovido pelos grandes meios nacionais, o
que mostra imaturidade, despreparo, falta de responsabilidade social e
compromisso com a opinião pública.
A tese da autorregulamentação simplesmente vem se mostrando inviável.
Não por força dos argumentos contrários. Mas pela incompetência dos
próprios argumentadores favoráveis a ela.
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