Para se expor dessa maneira, só há uma explicação para a atitude do
Ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal): tem culpa no
cartório.
Gilmar participou de duas armações anteriores com a revista Veja: o
“grampo sem áudio” (junto com seu amigo Demóstenes Torres) e o falso
grampo no Supremo.
No primeiro caso, pode ter participado sem saber. No segundo foi partícipe direto.
Como se recorda, a revista abriu capa com a informação de que havia sido
detectada escuta em uma das salas do Supremo. Serviu para uma enorme
matéria sobre a “república do grampo” e para a prorrogação da CPI. Tudo
com o objetivo de derrubar a Operação Satiagraha.
Era falso. O relatório da segurança do Supremo – entregue à revista por
pessoas ligadas à presidência do órgão – não indicava nada.
Era um relatório banal, que havia captado alguns sinais de fora para
dentro. Entregue à CPI, o relatório foi publicado aqui e em pouco tempo
engenheiros eletrônicos desmontaram a farsa: como é possível um grampo
que capta sinais de fora para dentro? Era isso o que o relatório
indicava. O mais provável é que fosse um mero sinal de alguma externa de
emissora de televisão. E Gilmar-Veja conseguiram, com essa armação,
prorrogar uma CPI!
Nenhum especialista em grampo cairia nessa confusão. Gilmar ou seus
homens apenas seguiram o roteiro tradicional da revista para criar
escândalo: uma verdade irrelevante (a captação de sinais de fora para
dentro), a ocultação do fato relevante (sinais de fora para dentro não
têm nenhum significado) e, pronto!, mais um escândalo fabricado -
impossível de ser desmentido, já que o acordo com a velha mídia colocava
uma barreira de silêncio a todos os abusos da revista.
Àquela altura, Veja mostrava seu enorme despreparo para entender as
novas mídias. Não se deu conta de que a blogosfera tinha se convertido
em uma alternativa eficaz contra pactos de silêncio. E a denúncia da
armação foi difundida.
Agora, com as redes sociais em plena efervescência, com os métodos da
revista sendo progressivamente questionados, tenta-se essa jogada, que
lança Gilmar Mendes no centro do vulcão.
O que o levou a essa provável armação é óbvio: medo da CPI. Pela matéria
da revista, fica-se sabendo que o fato que o ameaça teria sido uma
suposta viagem à Alemanha bancada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira.
Na matéria, Gilmar desmente, afirma que vai para a Alemanha como Lula
vai a São Bernardo. E diz ter condições de comprovar que pagou as
despesas. Que mostre, então (a revista não mostra os comprovantes).
Tem mais.
Até hoje não deu as explicações devidas pelo factóide do tal grampo no
Supremo. Quem armou a jogada? Foi o chefe de segurança que contratou e
que era especialista em grampos? Foi seu chefe de gabinete? Foi o
assessor de comunicação do Supremo?
No dia 30 de abril de 2011, o Estadão divulgou nota informando que
Gilmar Mendes contratara, para o STF, o araponga Jairo, homem de
confiança de Cachoeira.
Aliás, o próprio Supremo – não fosse o corporativismo rançoso – há muito
deveria ter cobrado explicações de seu então presidente. Os mais altos
magistrados do país comportam-se como qualquer juiz que não quer julgar,
“porque isso não é comigo”, ou procurador que testemunha uma grave
ofensa a interesses difusos, mas não se julga responsável por atuar, por
não ter sido provocado.
E é a imagem da Suprema Corte que está em jogo, da qual cada Ministro deveria se sentir responsável.
Com seu açodamento, falta de limites e de respeito pela casa, nunca houve Ministro do STF como Gilmar Mendes.
Talvez apenas Saulo Ramos conseguisse superá-lo - caso tivesse sido indicado por José Sarney.
Luis NassifNo Advivo
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