Em Goiás há uma pergunta no ar: “O que aconteceria se, em 15 de setembro
de 2009, o Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, e sua
esposa, a procuradora Claudia Sampaio, tivessem pedido a autorização do
Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o senador Demóstenes
Torres (DEM-GO) e os deputados federais Carlos Alberto Silva (PSDB-GO) e
Sandes Júnior (PP-GO)?”.
Em depoimento à CPMI, o delegado responsável pela Operação Vegas, Raul
Souza, disse que entreguou no dia 15 de setembro de 2009, ao Procurador
Gerald a República, Roberto Gurgel, inquérito que mostrava as relações
do senador Demóstenes Torres (DEM) e dos deputados Sandes Júnior (PP) e
Carlos Lereia (PSDB), com o esquema do bicheiro Cachoeira. Um més
depois em outubro de 2009, recebeu um telefonema da esposa de Gurgel, a
subprocuradora-geral Cláudia Marques, pedindo que fosse à sede da PRG.
Na conversa a procuradora informou que não detectara indícios
suficientes para denunciar Demóstenes e os deputados ao STF .
Ao engavetar o inquérito da Operação Las Vegas, Gurgel e sua cônjuge
interferiram diretamente no destino de quase seis milhões de goianos.
Santos com pés de barro
Demóstenes Torres reelegeu-se vendendo a imagem de paladino da
moralidade tão bem construída com ajuda da revista Veja, em matérias
como: “Os mosqueteiros da ética” (E.2015 de 04 de julho de 2007):
(Sic)…o outro é o incansável senador Demostenes Torres, do DEM de
Goiás. No Conselho de, digamos assim, Ética do Senado, ele é uma das
únicas vozes a exigir investigações sérias e denunciar as manobras para
absolver sem apurar”
Carlos Alberto Silva, o Leréia era o porta-voz da candidatura do senador
tucano Marconi Perillo ao governo de Goiás em 2010. Seu alvo principal,
o governo de Alcides Rodrigues (PP), que governou Goiás de abril de
2006 a dezembro de 2010. Leréia passou de aliado a detrator de Alcides
quando este assinou em 14 de janeiro de 2008 o decreto extinguindo a
Superintendência de Loterias da Agência Goiana de Administração Pública
(Aganp). A superintendência era responsável por coibir o jogo illegal
(leia-se caça-níqueis), mas a prática era outra.
O Superintendente da Loteria , indicado por Carlos Leréia era o
Procurador Marcelo Siqueira, o mesmo que demitiu-se do governo de
Marconi Perillo em abril do cargo de Procurador-Chefe Administrativo da
Procuradoria-Geral do Estado. Siqueira é citado como um dos
beneficiários da quadrilha de Cachoeira em relatório do delegado da PF
Deuselino Valadares, em 2006, antes do policial ser cooptado pelo grupo.
Votos de Demóstenes e dinheiro de Cachoeira na eleição de Marconi
Demóstenes Torres reelegeu-se com mais votos ao Senado do que Marconi
Perillo elegeu-se pela terceira vez ao governo de Goiás. Na contagem do
primero turno, o senador do DEM teve 2.158.812 votos, contra 1.400.227
votos do governador tucano. Na soma dos votos, os adversários de Marconi
ficaram à frente: Iris Rezende (PMDB) teve 1.099.552 votos e Vanderlan
Cardoso (PR), 502.462 votos. No segundo turno, Marconi venceria por
pequena margem: 1.551.132 votos contra 1.376.188 dados ao peemedebista,
ou seja, 174.944 votos a mais. Demóstenes teve no primeiro turno
758.585 votos a mais que Marconi e é por isto que era voz corrente em
Goiás que “Demóstenes carregou Marconi no segundo-turno”. Sem o “Varão
de Plutarco de Veja” Perillo não venceria a oposição.
As Operação Monte Carlo revelaria que não foi só com votos a ajuda de
Demóstenes Torres e seu grupo. As empresas-fantasmas de Carlos Cachoeira
doaram recursos substanciais à campanha de Marconi Perillo. A Alberto e
Pantoja, repassou R$ 800 mil à Rio Vermelho Distribuidora de Anápolis,
recursos estes que chegariam ao tucano, conforme registra o portal G1,
da Globo:
“Registros doTribunal Superior Eleitoral mostram que um mês depois
das eleições, a distribuidora depositou R$ 450 mil na conta eleitoral de
Perillo. A partir da quebra de sigilo bancário, a Polícia Federal
também apurou que três meses depois, a Rio Vermelho recebeu R$ 60 mil da
Alberto e Pantoja”. (link: http://migre.me/9aJYX )
Outro doador de Demóstenes e sócio de Carlos Cachoeira, também doou para
campanha de Marconi Perillo. Matéria do Jornal do Brasil mostra que
Marcelo Limirio, ex-dono do Laboratório NeoQuimica e sócio do grupo
Hypermarcas, está entre os doadores do tucano:
A ligação entre o empresário Marcelo Limírio com o senador
Demóstenes Torres (sem partido) e o contraventor Carlinhos Cachoeira
fica cada vez mais evidente. Além de uma possível influência na venda do
Hotel
Nacional, como noticiou o Jornal do Brasil na última segunda-feira
(16/04), Limírio fez doações para as campanhas de Demóstenes e para o
governador Marconi Perillo (PSDB-GO). Escutas da Polícia Federal indicam
que Perillo mantinha relações com Carlinhos Cachoeira, assim como
outros políticos de Goiás.
Diretamente, Limírio doou R$ 200 mil para a campanha de Demóstenes
Torres. (sic) A Hypermarcas ainda doou R$ 500 mil para a campanha de
Demóstenes, R$ 500 mil diretamente para Marconi Perillo e R$ 1 milhão
para o PSDB de Goiás em 2010, quando o tucano venceu a disputa pelo
governo do estado.
Assim que foi eleito, Marconi Perillo nomeou o deputado federal
Armando Vergílio (PSD-GO) para assumir a Secretaria das Cidades.
Vergílio liderava a Superintendência de Seguros Privados (Susep) quando o órgão leiloou o Hotel Nacional para Marcelo Limírio”. (Link: http://migre.me/9aKj0 )
O JB não citou, mas Marconi também nomeou o genro de Limírio, Alexandre
Baldy para Secretaria de Indústria e Comércio do Estado de Goiás.
Al Capone do Cerrado
A Carta Capital desta semana, em matéria assinada por Cynara Menezes,
detalha, com riqueza de informações, a lista de crimes de Cachoeira, dos
quais Gurgel, sua cônjuge e Veja desviaram o olhar:
“Os crimes de Ramos, mais conhecido como Carlinhos Cachoeira,
listados pela CPI são de assustar: sequestro, cárcere privado,
prostituição, jogatina, sonegação fiscal, evasão de divisas, tráfico de
influência, corrupção ativa, formação de quadrilha, suborno”.
Vale a pergunta que Cynara Menezes faz diretamente à Veja: “Para
fazer denúncias sobre o governo, os jornalistas que tinham Cachoeira
como fonte encobriram ou não um meliante maior? As denúncias obtidas por
meio do esquema do contraventor à base de grampos e gravações
clandestinas eram mesmo mais sgnificativas que os crimes que ele próprio
praticava?”
Ainda estão por serem respondidas as motivações do casal Gurgel para o
engavetamento da Operação Monte Carlo. Quanto a opção editoral da
revista Veja, as investigações demonstram que ela preferiu não seguir o
conceito do jornalista norte-americano Joseph Pulitzer (1847-1911), que
acreditava que o jornalismo era um serviço público destinado às pessoas
“pequenas” e não um serviço destinado aos interesses do grande poder.
Um serviço que deveria estar ao lado das pessoas, um porta-voz da
democracia.
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