Na sua coluna desta segunda-feira, no jornal O Valor, o respeitado
Renato Janine Ribeiro publica carta enviada pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso. (leia aqui).
Nela, FHC questiona afirmação de Janine sobre a cooptação de votos para
a aprovação da emenda da reeleição. “Esta existiu, diz, mas por parte
de políticos locais”.
Apenas constata que fez o mesmo do mesmo. Apenas, de uma forma mais “profissional”.
É importante o seu depoimento. E lembro aos leitores que o eixo de meu
artigo estava na tese de que as questões de corrupção, que pareciam tão
claras quando o lado do bem se opunha à ditadura, se transformaram num
cipoal desde que PT e PSDB se digladiam”, conclui Janine.
* * *
Tanto no mensalão como na votação da emenda da reeleição, o objetivo era
a cooptação de parlamentares. Apenas os métodos foram diferentes.
No período FHC, a cooptação se deu através das emendas parlamentares, prática inaugurada no seu governo.
Cada emenda envolve três tipos de interesse: do parlamentar que a
propôs, da empresa que será beneficiada com ela e do governo federal, a
quem cabe a sua liberação.
Havia, então, uma triangulação.
- Os operadores do governo acertavam com os governadores o apoio da sua bancada.
- Em seguida, liberavam a emenda.
- O dinheiro chegava na ponta e o governador (e a empreiteira) fazia o acerto com seus deputados.
Esse mesmo modelo foi aplicado para derrotar o ex-presidente Itamar
Franco na convenção do PMDB que pretendia lançá-lo como candidato à
presidência da República. A operação foi articulada pelo então Ministro
dos Transportes de FHC, Eliseu Padilha.
* * *
O chamado “mensalão” foi fruto do amadorismo inicial do PT.
FHC havia consagrado uma tecnologia de governabilidade apoiando o PSDB
em um grande partido, o PFL, O PT decidiu fortalecer pequenos partidos. E
o pacto passava por bancar os custos de campanha dos parlamentares. Deu
no que deu.
Depois do escândalo, o PT fechou apoio do PMDB, aproximou-se do
candidato a partido grande PSDB e passou a se valer da metodologia das
emendas parlamentares, tal e qual o governo FHC.
* * *
Agora se tem os dois principais partidos do país – PT e PSDB –
recorrendo a métodos de cooptação que precisam ser revistos. Esse mesmo
modelo é aplicado em Brasília e em São Paulo.
* * *
Durante algum tempo justificou-se esse modelo. O país iniciava o
aprendizado democrático e a questão da governabilidade era relevante,
especialmente depois de um governo (José Sarney) que andou toda sua
gestão na corda bamba e outro (Fernando Collor) que perdeu o mandato.
* * *
Mas já é hora de se aprimorar a democracia brasileira. Ao tentar tirar
casquinha da situação, FHC não colabora para esse aprimoramento. Nem
Lula, ao minimizar o episódio.
Há um modelo imperfeito, que torna os governos reféns e, ao mesmo tempo,
cooptadores de partidos políticos, assim como os parlamentares reféns
dos financiadores de campanha.
O episódio será positivo se ajudar a deflagrar uma ampla discussão sobre
o modelo político, a formação de partidos, o financiamento privado de
campanha, a questão das emendas parlamentares. Se usado
oportunisticamente, o país não terá nada a ganhar com o episódio.
Luis NassifNo Advivo
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