por Leandro Fortes
O juiz Valter André de Lima Bueno
Araújo da 5ª Vara Criminal de Justiça do Distrito Federal, cuja sentença
deve ser lida por todos, abortou uma temerária tentativa de
criminalizar opiniões e ideias no Brasil, a partir de um processo
absolutamente sem sentido aberto contra Paulo Henrique Amorim.
Quando foi noticiado que o
jornalista Heraldo Pereira, da tevê Globo, iria processar Paulo Henrique
por racismo por ter sido chamado de “negro de alma branca”, escrevi um
artigo com uma argumentação central que repito agora: PHA errou ao
insultar Heraldo, e agiu certo ao se desculpar e fechar um acordo na
área cível. Mas, ao ser chamado de racista e processado por isso,
revelou-se uma ação de má fé explícita, uma óbvia tentativa de vingança
do jornalista da Globo que nada tinha a ver com racismo. Heraldo
irritou-se, na verdade, porque Paulo Henrique o havia ligado ao mal
falado Instituto Brasiliense de Direito Público, o IDP, de propriedade
do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.
Construído com dinheiro do Banco do
Brasil destinado a produtores de alimentos e assentado sobre um terreno
praticamente doado a Mendes (80% de desconto!) pelo ex-governador
Joaquim Roriz, de péssima reputação e memória, o IDP está, ainda por
cima, numa situação financeira difícil. Para calar um ex-sócio que o
acusou de desfalque e sonegação fiscal, Mendes foi obrigado a pagar-lhe 8
milhões de reais, no ano passado.
Estranha situação, esta. De fato,
Heraldo Pereira chegou a ser anunciado no site do IDP como professor,
embora alegue, e os fatos confirmem, jamais ter concretizado a
experiência do magistério. Curiosamente, nos autos do processo contra
PHA, Heraldo chega a dizer que, ao ligá-lo o IDP, o jornalista da tevê
Record e titular do blog Conversa Afiada havia lhe maculado a reputação.
Como assim?
A assertiva se mostra surreal e
representa, dentro do processo, um paradoxo difícil de ser explicado.
Isso porque a principal testemunha apresentada por Heraldo Pereira foi,
justamente, Gilmar Mendes. O ministro do STF apresentou-se
voluntariamente para falar no tribunal, embora isso não fosse
necessário, e o fez em grande estilo: com carro oficial e seguranças,
segundo relato de PHA, certo de que sua presença suprema iria mudar os
rumos da ação judicial. Foi, como se percebe agora, um tiro pela
culatra.
Restou apenas essa dúvida atroz: se
ser professor do IDP macula a imagem de Heraldo Pereira, por que ele
chamou para testemunhar a seu favor, justamente, o dono do instituto?
Na ânsia de transformar um insulto
em crime e, de quebra, dobrar a espinha crítica de Paulo Henrique Amorim
a pedido de terceiros, o jornalista da tevê Globo recorreu também a
outra testemunha intrigante: o jornalista Ali Kamel, chefão do
jornalismo global, autor do livro “Não somos racistas”. A obra de Kamel
parte da premissa de que, como, cientificamente, não há raças, também
não pode haver racismo. É o tipo de discurso baseado em descolamento
social que faz muito sucesso no Baixo Leblon e no Posto 9 de Ipanema,
mas se torna uma piada de mau gosto quando se trata de analisar a vida
dos negros pobres apinhados nas periferias das grandes cidades.
Que Kamel, feliz morador da Avenida
Vieira Souto, acredite em uma bobagem dessas, é compreensível. Que
Heraldo Pereira a corrobore, é lamentável.
Do Blog DoLaDoDeLa.
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