Leandro Fortes
Entre os jornalistas de Brasília, sobretudo os mais velhos, há mais
gente impressionada com o fato de eu ter denunciado as ligações de
colegas de ofício com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira do que com a
denúncia em si. Ou seja, o que causa surpresa não é o fato de
jornalistas serem pegos em meio a negociatas, encomendas e tráfico de
informações produzidas de forma criminosa por um esquema de máfia, mas a
ousadia de quem as denuncia.
Dentro de uma categoria, a única no mundo, onde existem pessoas que
defendem o fim do próprio diploma, esse surto de corporativismo chega a
ser surpreendente.
Não por outra razão, o silêncio imposto à CPI do Cachoeira sobre as
relações da mídia com o bicheiro encarcerado no presídio da Papuda, em
Brasília, vai muito além do cerco à convocação do diretor da Veja,
Policarpo Jr. Trata-se de um desses movimentos que dependem muito mais
da omissão dos bons do que da ação de canalhas.
Ainda dona da maior parte dos empregos, as grandes corporações de mídia
sufocam a crítica dentro das redações, impõem doutrinas restritivas de
cobertura, estabelecem um pensamento único e uniforme por meio de
batalhões de colunistas e se retroalimentam a partir de cursinhos de
trainee voltados para a criação de monstrinhos corporativos.
Pautam, enfim, o comportamento do jornalista, profissional cada vez mais
instado a relegar pretensões de livre pensador em favor de uma rotina
burocrática na qual passa a atuar como tarefeiro de notícias.
Tabu em todas as redações da velha mídia, a discussão sobre essas
relações promíscuas entre jornalistas e fontes bandidas têm sido, assim,
mascaradas como expediente normal e aceitável, embora os relatórios da
Polícia Federal e da CPI demonstrem, justamente, o contrário.
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