Janio de Freitas
Iniciada a votação que definirá o destino dos réus do mensalão, já os
dois primeiros ministros a se manifestarem, entre os pronunciamentos do
relator e do revisor, demonstraram a dificuldade dos magistrados em
perceber um dos principais aspectos desse julgamento.
Ainda que não haja indicação da audiência das sessões do Supremo
Tribunal Federal, o interesse público pelo julgamento do mensalão é
inquestionável. Constituiu, por isso, uma oportunidade incomum de
aprendizado cívico, não importa em que medida, para uma parte dessa
gente tão ignorante como são os brasileiros a respeito de suas
instituições e, em particular, do Judiciário.
A confusão inesgotável que foram os votos dos ministros Rosa Weber e
Luiz Fux, durante as duas horas e meia mais longas entre todas as horas
de 15 sessões desse julgamento, foi mais do que exaustiva. Foi de
afastar, para sempre, todo espectador que não tivesse o dever funcional
de submeter-se à exasperação.
Os dois não falaram nem para os outros "especialistas" que são os seus
colegas: mesmo o presidente do STF, Ayres Britto, de cuja inteligência e
conhecimentos jurídicos ninguém duvidaria, precisou de esclarecimentos
adicionais para anotar o que, afinal, seriam os votos.
Pode ser que haja alguma razão cabalística para que alguns ministros
tenham o voto por escrito, mas, em vez de lê-lo, passem a descrever
durante horas, pelo modo mais tortuoso, o que abordam em suas redações.
Não há de ser pela dimensão dos votos, porque sua prolixidade oral não
perde para a dos textos. Mas, é verdade, os textos provocam mais um
problema.
Esses mesmos ministros não sabem ler o que escreveram com suas equipes.
Tropeçam nas palavras e brigam com as frases quando precisam ler um
trecho. Bem que podiam ensaiar um pouco.
E os seguintes a pronunciar-se talvez pudessem fazê-lo de maneira
inteligível pelos cidadãos que, interessados, ainda se disponham a outra
tentativa de acompanhar o julgamento.
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