Folha admite erro |
O mercado de capitais é aquele em que se aplicam as regras mais severas
visando resguardar a isonomia das informações. Em países modernos,
pune-se o uso de informações privilegiadas, a disseminação de
informações falsas e todos os fatos que possam provocar manipulação de
cotações.
No Brasil, a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) é incumbida da
fiscalização do mercado e das informações. É eficaz quanto à
identificação e punição de vazamentos de informações privilegiadas e de
manipulações do mercado em geral. Mas absolutamente omissa em episódios
que envolvam a mídia.
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Dias atrás, a Folha divulgou que o governo havia feito uma convocação
extraordinária do CMSE (Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico),
devido ao risco iminente de racionamento de energia.
Era notícia falsa. Mas foi repercutida durante todo o dia, apesar dos
desmentidos que constavam do site do Ministério das Minas e Energia e
das informações prestadas pela EPE (Empresa de Pesquisa Energética).
* * *
No mercado de energia, em que atuam apenas profissionais, não houve
mudanças nas cotações. Na bolsa de valores, onde há maior
heterogeneidade dos investidores, as cotações das elétricas oscilaram
bastante. Ainda mais depois das perdas sofridas pela Eletrobrás com as
decisões do governo em relação à renovação das concessões.
As ações caíram e ontem, dois dias depois da escandalização, voltaram a subir.
Papéis da CESP subiram 3,49%, da Eletropaulo PN 2,53%, da Eletrobras PNB 2,27%.
Nesses movimentos, muita gente ganhou muito dinheiro, à custa dos que perderam.
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A diferença do primeiro episódio é que, no caso da Veja, reconheceu-se o
erro e providenciou-se a devida correção vinte minutos depois. O que
não impediu oscilações de monta no mercado.
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É mais um capítulo complicado na perda de referencial pela mídia.
Permitiu-se que a politização passasse a interferir em todo o
noticiário. Não existem mais filtros adequados. Em outros tempos,
“barrigas”, informações falsas, eram punidas, ou pelo próprio jornal ou
pelos concorrentes. Hoje em dia, desde que se atinja o objetivo político
proposto, tudo é tolerado.
Em países mais modernos, existem modelos de auto-regulação. E as
instituições reguladoras de mercado mantem uma fiscalização severa
sobre abusos de informações que possam acarretar distorções de preços de
ativos.
* * *
Trata-se de um movimento terrível não apenas para o país como para a
própria mídia. Na economia, a informação é essencial para alocação de
recursos, decisões de investimento, planejamento estratégico.
Cabe ao jornalista o papel de intermediar os fatos, transformando-os em
notícias. Por sua condição, o público supõe que tenha acesso a fontes
inacessíveis para os mortais comuns, que trate as informações com
discernimento, especialmente quando mexem com a poupança do público.
* * *
No entanto, por aqui varre-se tudo para baixo do tapete. O álibi
político deu autorização para o jornalista matar, não apenas reputações
mas os fatos. E tudo impunemente e às claras.
Luis NassifNo Advivo
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