Por Rodolpho Motta Lima
O mundo, hoje, atravessa séria crise nos quesitos democracia,
cidadania e ética, que deveriam constituir os pilares da formação dos
indivíduos e, por extensão, dos povos. O que vemos, diariamente, são
pequenos e grandes golpes que contra eles se cometem em todos os cantos
do planeta, inclusive aqui. Vejamos:
O outono árabe
Alguém mencionou o movimento que destituiu o presidente eleito do
Egito como “a volta dos que não foram”. Perfeito. A classe média
egípcia, instável, reticente e incoerente, foi às ruas para recolocar no
poder os militares contra os quais ela se opunha anteriormente, e que,
ao longo de tantos anos de ditadura, sustentaram a repressão. E ainda
tem gente discutindo se houve um golpe, tendo em vista o “apoio
popular”. Penso que o igualmente reticente presidente Obama – que agora
se diz preocupado com o panorama egípcio - , ao afirmar, há poucos
dias, que a democracia não passa necessariamente por eleições, pode ter
dado um empurrãozinho para o golpe de um exército que, ao longo dos
anos, vem sendo apoiado pelos americanos com polpuda “ajuda econômica”. Como vemos, um show de hipocrisia democrática...
Arbítrio no espaço aéreo
Urariano Mota esgotou esse assunto aqui no DR, com a sensibilidade do
grande escritor e a indignação do verdadeiro democrata. É incrível que o
legítimo presidente de um país componente do concerto planetário das
nações tenha tido o seu direito de utilização do espaço aéreo castrado
por decisões arbitrárias, nas quais, uma vez mais, está presente a
“democracia” tão decantada pelos americanófilos de plantão. Só mesmo em
um mundo de governos emasculados e subservientes ao poderio militar dos
EUA poderia ocorrer um episódio tão abominável. Fico aqui imaginando se
esse intrépido pessoal saudoso do “Big Stick” teria coragem de agir
assim com um avião da China...
Lobos que comem lobos
O bloqueio ao voo de Evo Morales buscava evitar um outro direito de ir e vir. Supunha-se que no avião estivesse Edward Snowden,
americano tido como traidor pelo governo Obama, mas exaltado como homem
de coragem por grande parte do mundo. É inestimável a contribuição que
esse cidadão está prestando à humanidade ao revelar essa espionagem
planetária – uma trama que George Orwell invejaria – que, em nome da
“segurança nacional”, atinge inclusive os países aliados – os dos tais
governos emasculados da União Europeia -, que os Estados Unidos também
espionam. Mas a coisa vai mais longe e começam a surgir outros fatos.
Antes a Inglaterra e agora a França – segundo informa o “Le Monde” –
também implantaram esquemas similares de espionagem contra seus
cidadãos. Portanto, são lobos que comem lobos. Se essas atitudes
pérfidas não ameaçassem toda a humanidade, até que seria bom dizermos:
“Eles, que são brancos, que se entendam”. Infelizmente, porém, todo esse
escabroso caso aponta na direção da supressão das liberdades
fundamentais do homem, promovida por fariseus que se autointitulam
defensores dos direitos humanos.
O Maraca é deles
Falando
em brancos, a cidadania e a democracia foram, como previsto,
profundamente arranhadas nos estádios da Copa, onde tudo ficou claro...
Em meio ao oba oba geral que amplifica com patriotadas ridículas a
bonita conquista do time de futebol brasileiro, só um cego não
percebeu, nas transmissões pela tevê, a imensa e praticamente absoluta
“branquidão” que tomou conta de todos os caros assentos disponibilizados
ao público nos estádios. Desde antes, já se sabia que aos negros
caberia, quando muito, entoar os versos de Cazuza, já que não foram
convidados para a festa... Resta apenas, agora, depois do branco
leite derramado, que o Governo brasileiro assuma o controle de algumas
medidas que, na Copa do Mundo, venham, efetivamente, a garantir que, nos
jogos da nossa seleção, estejam presentes no estádio, como convém em
uma festa popular, todos os segmentos representativos da nossa
sociedade. E, além disso, que todos fiquemos de olho nos novos “donos”
do Maracanã, cujas primeiras ideias também tendem à elitização daquele
que já foi o maior dos nossos templos populares, e que agora passou por
um processo de concessão que cheira a falcatruas.
Macaco, olha o teu rabo...
Falcatrua é um substantivo que deveria ser melhor examinado no caso,
que as redes sociais estão repercutindo, de uma suposta fraude que teria
sido cometida pela Globo, envolvendo sonegação de pagamentos ao fisco.
Fala-se em coisa da ordem de 1 bilhão, em valores de hoje... Segundo a
Globo, a dívida já foi paga, mas não foi apresentado comprovante. Seria
interessante (e aqui deixo a sugestão) que os empregados da empresa –
repórteres, cronistas e comentaristas -, em nome da transparência,
promovessem o tão autoelogiado jornalismo investigativo para esclarecer o
público sobre a veracidade ou não desse caso “doméstico”...
Fora, povo!
Raposa com pele de cordeiro consegue disfarçar-se por pouco tempo.
Por isso, o plebiscito não deve sair a tempo de pôr um fim ao descalabro
das instituições políticas do país. Por isso, essa guinada da mídia
apoiando o “desconforto” do Congresso fisiológico com aquilo que
considera “intromissão” da Presidenta ao insistir no plebiscito. Por
isso, na coluna de ontem, Merval Moreira cita um filósofo de algibeira
para afirmar que um processo que dá poder ao povo através de plebiscitos
e consultas populares pode ser chamado de comunismo...
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