terça-feira, 9 de julho de 2013

O doutor que “ama o próximo”, nem por R$ 100 mil ama o distante!

Do Tijolaço - 8 de Jul de 2013 | 23:38

 por Fernando Brito

Prepare-se, caro leitor.

Você vai ler o retrato do que eu disse antes: a hipocrisia fantasiada de “pureza médica”.

O protagonista vem a ser o Dr. Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica que diz, no UOL :  Se alguma instância de poder oferecer hoje um salário de R$ 100 mil para um médico trabalhar, por exemplo, em uma área remota da Amazônia, quase que certamente ele não irá. Talvez, um entre 100 aceite. Mas este não representa o espírito de uma classe que visa, acima de tudo, o apoio ao próximo, a assistência humanística e olha a profissão sob as vistas do amor ao próximo”.

Onde é fica o próximo que o senhor ama, Dr. Lopes, que nem por R$ 100 mil o senhor vai cuidar dos índios e caboclos da Amazônia?

O senhor tem ideia do que são 100 mil reais, o mesmo que uma legião de quase 2oo trabalhadores de salário mínimo ganham por mês? Os filhos deles podem comer 100 vezes menos que os seus?
E o pior é a explicação que este cidadão dá para justificar que não se traga médicos que, por um décimo do valor que ele rebarba, estão dispostos a assistir aquela “gentalha”:

-Para aprovar a entrada de um profissional de medicina graduado fora, seja ele estrangeiro ou brasileiro, não se pode apenas auferir a técnica. É necessário avaliar o perfil psicológico, a formação ética e moral. Uma série de parâmetros tem de ser analisada porque é alguém de fora do Brasil, não é da terra, não possui nossa cultura, o jeitinho brasileiro em seu lado bom”.

Dr. Lopes, os seus conceitos de formação ética e moral não me servem. Espero que também não sirvam a um médico que se recuse a atendê-lo, numa emergência, porque o senhor não foi atropelado dentro da UTI do HCor, em São Paulo, mas numa viela de periferia onde o senhor pudesse, distraidamente, estar praticando o seu amor ao próximo.

Quando eu falei aqui de um elitismo médico desumano, não esperava que aparecesse um “médico” feito este insensível tão rapidamente para confirmá-lo.

Insensível, porque até por formação profissional que deveria ter, que a essência da clínica médica é a anamnese, que consiste em ouvir e observar o paciente e seus sintomas.

Ou, se quiser mais preciso, a compaixão, que é sentir em si o sofrimento alheio,
O doutor que vá praticar o seu “amor ao próximo” donde lhe convier, claro desde que paguem a consulta.

O pior é que essa gente vai entrar na Justiça para proibir que os formandos de medicina atendam ao nosso povão miserável. E não duvide que ganhem.

A elite deste país, médica inclusive,  acha o povo uma coisa desprezível.

Amam o próximo, desde que ele fique bem longe dele.

Pobre mora longe, não é, doutor, não é “o próximo”?

O “próximo” é só o da senha, este incômodo detalhe da medicina.

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