quarta-feira, 3 de julho de 2013

William Waack e o “american way of life” para o Brasil

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Caio Sarack, via Carta Maior
O jornalista e âncora do Jornal da Globo, William Waack, escreveu em 19 de junho para o site norte-americano The American Interest um artigo em inglês com título bastante sintético de suas posições políticas: “Protesting everything (and nothing)” – “Protestando por tudo (e nada)”, em tradução livre.
O âncora é mais conservador que sua emissora de trabalho. Enquanto a Rede Globo tenta subverter o movimento e as manifestações para que o elogio lhe sirva para alguma coisa, o jornalista se ressente com as ruas e se assusta: “It’s quite frightening to watch so many people here in Brazil protesting against everything – i.e., against nothing.” (É um tanto assustador ver tanta gente aqui no Brasil protestando contra tudo – isto é, contra nada).
É impossível ler o texto de Waack e não sentir seu eterno ressentimento com as mudanças dos últimos dez anos no Brasil, segundo ele, “que não estão a serviço da realidade e necessidade do brasileiros médio [typical brazilians]”. Para isso, então, é necessário trazer, do povo norte-americano e seu way of life, o contraste com o povo brasileiro que toma cores de selvagem e insensato:
“Eu talvez deva esclarecer este ponto para o leitor norte-americano, acostumado – como é o povo norte-americano – a respeitar símbolos, sejam eles político, religioso, moral ou social. Pelo menos nos últimos dez anos, os empossados (basicamente, o Partido dos Trabalhadores, ou Workers’ Party) têm flertado com transgressões de leis, desprezo de decisões judiciais e com ocupações e invasões ilegais de terras – sempre em nome da visão onipresente da ‘justiça social’.”
À mesa com o Tio Sam, William Waack fica à vontade para expressar seu conservadorismo mais originário, os ataques aos programas de redistribuição de renda como o Bolsa Família tomam conta de mais da metade de seu artigo, tidos como “eleitoreiro” e “demagogia”. O articulista se esquece dos elogios internacionais e da ONU aos planos de redistribuição brasileiro que retirou nesses últimos dez anos (anos, segundo Waack, obscuros e demagógicos) 40 milhões de pessoas da pobreza extrema e fazendo entrar outros milhões para uma classe que o nosso jornalista já está muito acostumado, a do consumo. Tendo neste avanço suas consequências contraditórias problemáticas, que a própria esquerda tem feito e deve fazer críticas, não é este o teor que Waack traz, é mais provável que ele não queira dividir esta fatia do bolo.
No entanto, não satisfeito com a repulsa ao governo, o jornalista desponta como cientista social:
“Os brasileiros raramente tomaram as ruas em protesto. Em 1984, desafiaram o regime militar e pediram por eleições diretas e democráticas (o País teria de esperar cinco anos para consegui-las). Em 1992, tomaram as ruas contra um presidente corrupto. O senso comum, agora, julga que a corrupção cresceu ainda mais. E cresceu mesmo.
Para que nós, brasileiros, possamos conquistar ainda mais, acredito, temos de lutarmos por um objetivo ambicioso: real reforma do sistema político. Os brasileiros não veem seus representantes eleitos como realmente representativos, especialmente num tempo que a maioria dos líderes sente medo de agir de fato (também conhecido como ‘liderar’). Temos muitos seguidores procurando líderes, e eles simplesmente não os acham. Este é nosso problema central. Não é pelos vinte centavos”
A tal representatividade nacional deve passar não só pelo aval do investidor (sic) doméstico também pelo aval do investidor (sic) estrangeiro:
“Investidores estrangeiros e domésticos reconhecem no Brasil de hoje uma falta de um conjunto claro de ‘regras do jogo econômico’ – as autoridades perderam qualquer senso de direção estratégica para reformas econômicas, ao invés disso focam apenas em problemas que trarão vantagens eleitorais a curto prazo, como subsídios e bolsas-auxílio”, escreve.
Muito se pode dizer sobre se é ou não necessário um líder para as demandas políticas da rua nestas últimas semanas, mas a preocupação de William Waack é de que as manifestações tomem conta deste vácuo de representatividade e coloque o País a serviço – pasmem – do povo. Tal “vácuo”, entende o jornalista, não pode ser ocupado pelas demandas diretas (e há tempo deixadas de lado) do povo.

Do Blog LIMPINHO & CHEIROSO.

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