Ex-presidente dá a veículos mantidos pelos trabalhadores primeira grande entrevista depois de ter deixado o governo.
Lula diz que ainda está aprendendo a ser ex-presidente e a controlar a vontade de abordar alguns assuntos |
São Paulo – “Se tem uma coisa que eu tenho vontade é de falar. Eu tenho
cócegas na garganta para falar. E vocês ajudaram a quebrar um tabu,
porque fazia tempo que eu não falava durante tanto tempo. E nunca
imaginei que justamente pra vocês eu fosse dar a entrevista mais
difícil. Estou voltando, com muita vontade, com muita disposição – para
felicidade de alguns, para desgraça de outros. É o seguinte: eu estou no
jogo.” Assim Luiz Inácio Lula da Silva encerrou a entrevista concedida
nesta terça-feira (24) a um grupo de jornalistas da Rede Brasil Atual,
site, rádio e revista, da TVT e do jornal ABCD Maior.
O encontro ocorreu no Instituto Lula, durou 90 minutos e foi, segundo o
ex-presidente, a primeira longa entrevista concedida pelo ex-presidente
da República no exercício desta “função”. Lula abriu a conversa dizendo
não haver “pergunta proibida”, mas pediu que o perdoassem se no excesso
de cuidados de ex-presidente ao falar pareceria “chapa branca”. "Ainda
estou aprendendo a ser ex-presidente", disse. Ele comentou a importância
das manifestações de junho, que considera o acontecimento do ano ao
colocar em xeque todos os governantes – das prefeituras à Presidência da
República – e por ter ajudado a criar uma nova agenda política para o
país – apesar do fato de “alguns” quererem se apropriar das
manifestações para desqualificar a política. “Se alguém chega pra você
dizendo 'olha, eu não gosto de política, mas...', pode crer, essa pessoa
está sendo política.”
O ex-presidente comentou respostas dadas às manifestações, como o Mais
Médicos, teceu duras críticas aos opositores do programa e enfatizou que
a iniciativa cobre apenas uma pequena parte de um grande problema.
Lembrou que o país não dispõe nem de especialistas nem de tecnologia em
diversas áreas, e que não vai resolver os grandes problemas sem
recursos. “Lá atrás, quando rejeitaram a CPMF, tiraram R$ 40 bilhões por
ano da saúde achando que iam prejudicar o Lula. Mas prejudicaram o
povo”, disse, acentuando que o Estado é quem banca grande parte dos
tratamentos dos ricos na rede privada, quando deduzem suas despesas do
imposto de renda, enquanto aos pobres só resta o SUS.
Lula disse acreditar que poucos prognósticos poderão ser feitos sobre as
eleições de 2014 antes de março do ano que vem, quando já devem estar
colocados todos os nomes das disputas, em nível nacional e nos estados.
Um dos principais articuladores políticos do PT, ele afirma que seu
papel no processo será o “papel que a Dilma quiser” que ele tenha.
Admite ver dificuldades na permanência do governador de Pernambuco,
Eduardo Campos, na base de apoio, vê obstáculos adicionais nas alianças
com o PSB em alguns estados, como Ceará e Pernambuco, e vai considerar
um grande feito, uma vez consolidada a ruptura, que os partidos façam um
pacto de não hostilidade nos palanques em que forem adversários.
Para Lula, a mais importante das reformas do país é a política, com o
fim do financiamento privado de campanhas. “Vocês veem as grandes
empresas fazendo campanhas contra o financiamento privado? Vocês veem
empresários reclamando que não querem contribuir com campanhas
eleitorais?”, questiona. Ele reconhece que a atual composição do
Congresso não tem interesse nem força para fazer uma mudança impactante
no sistema político-eleitoral porque põe em risco os próprios atuais
mandatos. “Uma reforma para valer não vai acontecer agora. Por isso, vai
ter de ser feita por meio de uma constituinte exclusiva, com ampla
participação da sociedade.”
E abordou também a necessidade de um novo marco regulatório das
comunicações – “há um projeto, o Paulo Bernardo disse que ia fazer
debates públicos, mas não andou...” –, lamentou a ausência de projetos
do governo do PSDB para o estado e a região metropolitana de São Paulo, e
criticou a forma como “alguns” tentam “transformar coisas boas em
coisas ruins”, referindo-se à realização da Copa de 2014 e dos Jogos
Olímpicos de 2016 no Brasil.
O ex-presidente foi cauteloso ao comentar o julgamento da Ação Penal
470, o chamado mensalão, porque diz ter de respeitar as instituições
envolvidas na questão. “Depois que o julgamento estiver totalmente
concluído eu vou falar. E tenho muita coisa pra falar”, disse,
ressalvando que, no que diz respeito à abordagem política do caso, os
acusados já foram condenados há muito tempo.
No RBA
Do Blog COM TEXTO LIVRE.
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