Sem obrigação de prestar contas pelo que divulgam, os meios de comunicação atiram primeiro para perguntar depois
Aprovado por unanimidade no
Senado, o projeto de Roberto Requião, que garante o direito de resposta
no prazo de até 7 dias, vai ajudar a melhorar o jornalismo e os
jornalistas brasileiros.
Vamos combinar que se vive hoje
num universo de impunidade e tiro livre em direção a honra de qualquer
cidadão, em especial homens públicos que são antipatizados e mesmo
perseguidos pelos meios de comunicação.
Sem nenhum controle legal,
nenhuma obrigação de prestar contas por aquilo que divulgam, os meios de
comunicação atiram primeiro para perguntar depois. Às vezes, nem
perguntam. Ou perguntam e ignoram explicações que não lhes convém.
Isso acontece porque, em nome de
um direito indispensável, a liberdade de expressão, criou-se um
ambiente de impunidade absoluta. Uma imprensa que adora falar em pizza
quando se trata dos crimes dos outros, conta com a lentidão da justiça
para jamais se dar ao trabalho de conferir aquilo que vai publicar. Se
há muitas reclamações que não tem cabimento e apenas refletem uma
dificuldade histórica de autoridades em conviver com a liberdade de
imprensa, o oposto também é verdadeiro.
Não acho que erros e desvios
acontecem porque os cursos de jornalismo são piores que a média de
nossos cursos universitários. Não é um problema de formação profissional
mas um problema de força política.
Com um poder institucional
imenso, os meios de comunicação foram capazes de derrubar qualquer
defesa da sociedade contra seus erros, desvios e abusos. Acabaram com
uma lei de imprensa que, mesmo elaborada no período da ditadura militar,
trazia garantias, ainda que mínimas, para o cidadão defender-se de uma
mentira.
Naquele tempo, não custa
lembrar, era a ditadura que temia a imprensa. Hoje, é a própria
sociedade que muitas vezes tem motivos para tentar se defender dela.
Ninguém é proibido de publicar nada. Mas, caso fique comprovado – em 7
dias – que se publicou uma mentira, será possível fazer a correção. Eu
acho ótimo.
Em quatro décadas de profissão,
cometi meus erros, é bom admitir. No início eu tinha uma resistência
enorme para publicar qualquer correção, inventava desculpas e
explicações que nem sempre faziam sentido. Com o passar dos anos,
aprendi que admitir a falta era a única atitude honesta a ser tomada.
Não é agradável. Todo erro é lamentável e poucos têm uma explicação
fácil de ser compreendida. Mas a vítima não pode ser punida uma segunda
vez por nossas falhas, vamos combinar.
Os meios de comunicação
brasileiros já foram mais abertos a crítica e debate sobre suas
carências. Hoje, com as mãos livres, diminuíram as proteções oferecidas
aos cidadãos. As seções de “erramos” perderam importância, tornaram-se
inacessíveis ou simplesmente foram suprimidas. Temerosos de serem
punidos internamente, muitos profissionais constroem alegações e
desculpas vergonhosas em vez de admitir sua responsabilidade.
Na prática, muitas reportagens
sequer ouvem o “outro lado” antes de publicar uma acusação. As vezes, a
única chance da vítima de um erro é publicar sua versão na seção de
cartas – onde tem o direito de contestar o que foi publicado, mas os
editores raramente admitem a própria falha. Em alguns casos, nem a carta
é publicada.
Em países onde há uma imprensa
plural, que compete de verdade pelo mercado, falhas clamorosas de um
veículo costumam ser apontadas pelos concorrentes. O Guardian foi
responsável por uma série de reportagens que ajudou a desmascarar os
jornais de Murdoch. Isso raras vezes ocorre no Brasil. Irmanados e
solidários, nossos jornais, revistas e emissoras de rádio e TV raramente
divulgam reportagens críticas em relação aos vizinhos. Evitam criticar
para não serem criticados, também.
Nesta situação, as oportunidades
para a publicação de notícias falsas, matérias forjadas ou simples
plantações sem base na realidade se tornaram abundantes e convidativas.
Com o direito de resposta, é de
se imaginar que os profissionais sejam estimulados a retornar aos
padrões clássicos da profissão, já que a credibilidade de qualquer
veículo é sempre atingida quando ele é obrigado a mostrar uma versão que
havia escondido.
Caso os direitos de resposta
sejam acolhidos com a frequência que se mostrarem necessários, o que só é
possível com juízes que não se intimidam diante da mídia, é muito
provável que, antes de publicar uma notícia, os jornais e jornalistas
irão atrás da outra parte, atravessando a fronteira que separa o
jornalismo da pistolagem. Podem prestar mais atenção aos argumentos
alheios e garantir, com espaço conveniente, o direito de cada um dar sua
versão. Pelo menos em se tratando de publicações onde existe boa fé,
será possível alcançar um padrão menos selvagem e mais civilizado.
Isso é bom para o jornalismo e para o sistema democrático.
Do Blog COM TEXTO LIVRE.
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