Da Carta Maior - 28/09/20113
O Rede
Sustentabilidade tem apenas mais uma semana para viabilizar seu registro
na Justiça Eleitoral. Mas, mesmo diante de expectativas nada otimistas e
poucas diferenças programáticas, é difícil imaginar Marina Silva na
vice de Aécio Neves.
Altamiro Borges
Altamiro Borges
A Rede Sustentabilidade, o novo partido da ex-verde
Marina Silva, tem apenas mais uma semana para viabilizar seu registro na
Justiça Eleitoral. As expectativas não são muito otimistas, apesar do
esforço final dos marinistas – inclusive de algumas estrelas globais,
como o ator Marcos Palmeira. Segundo o procurador-geral eleitoral,
Eugênio Aragão, não haverá “nenhuma concessão” para que a sigla seja
criada fora dos parâmetros legais. Diante deste risco real, crescem as
especulações sobre o futuro de Marina Silva, que obteve quase 20% dos
votos na última eleição presidencial.
Na semana passada, o pequeno Partido Ecológico Nacional (PEN) propôs trocar o nome da legenda para Rede caso a ex-senadora aceite disputar a sucessão de 2014 pela sigla. O PPS de Roberto Freire e até o descartado PV também sinalizaram que poderiam aceitá-la como candidata, desde que seu grupo não controle as respectivas máquinas partidárias. A mais curiosa proposta, porém, tem sido ventilada por alguns líderes tucanos. Eles defendem que Marina Silva seja vice na chapa encabeçada por Aécio Neves, o cambaleante presidenciável tucano.
Nesta sexta-feira (27), o senador mineiro afirmou que a Rede é vítima de perseguição política e bajulou: o país "merece ter uma alternativa como Marina". Já o ex-presidente FHC, guru da oposição de direita, disse à jornalista Sônia Racy, do Estadão, que a ex-verde é uma “liderança moral”. O processo de sedução é intenso, mas dificilmente Marina Silva aceitaria ser vice na chapa do PSDB caso seu novo partido não consiga garantir o registro até 5 de outubro. Não por razões políticas e ideológicas, mas apenas por cálculos eleitorais e pragmáticos.
Do ponto de vista programático, não há muita diferença entre certos marinistas e a cúpula tucana. Na sucessão passada, as duas forças inclusive mantiveram intensos contatos, conforme registrou a Folha em junho de 2011: “Às vésperas da campanha de 2010, a presidenciável Marina Silva (PV) enviou aliados para um encontro sigiloso com o candidato José Serra no apartamento do ex-presidente FHC em Higienópolis... A conversa na casa de FHC ocorreu em fevereiro de 2010, quando os tucanos ainda sonhavam com a possibilidade de Marina ocupar a vice na chapa de Serra”.
No livro “O efeito Marina”, o deputado Alfredo Sirkis, coordenador da campanha marinista em 2010, até dá detalhes desta “reunião secreta”. Ele não trata da questão da vice e diz que o encontro teve como objetivo negociar o palanque duplo de apoio a Fernando Gabeira (PV-RJ). Lembra que a reunião até começou tensa. “Serra chegou muito desconfiado. Deixou seu celular em outro quarto, alegando que havia grampos capazes de monitorar conversas até por aparelhos desligados”, relata Sirkis. A conversa só foi aliviada graças à “contagiante simpatia” do anfitrião FHC.
Pelo andar da carruagem, esta intensa relação política se mantém. Não é para menos que Marina Silva é assessorada pelo economista André Lara Resende – “um dos FHC boys da velha cepa”, segundo ironiza o blogueiro Fernando Brito. Ele e outros neoliberais de carteirinha dão assistência à “sonhática” da Rede. Recentemente, Marina Silva inclusive defendeu a herança maldita de FHC na política macroeconômica. “No aspecto do controle da inflação: temos o risco de retorno da inflação. Temos um problema que sinaliza uma série de dificuldades que comprometem alguns dos instrumentos mais importantes para o equilíbrio, que são o tripé meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário”.
Como se observa, as diferenças programáticas não são muitas. Mesmo assim, é difícil imaginar Marina Silva na vice de Aécio Neves. A conferir! O pragmatismo político é uma doença incurável!
Na semana passada, o pequeno Partido Ecológico Nacional (PEN) propôs trocar o nome da legenda para Rede caso a ex-senadora aceite disputar a sucessão de 2014 pela sigla. O PPS de Roberto Freire e até o descartado PV também sinalizaram que poderiam aceitá-la como candidata, desde que seu grupo não controle as respectivas máquinas partidárias. A mais curiosa proposta, porém, tem sido ventilada por alguns líderes tucanos. Eles defendem que Marina Silva seja vice na chapa encabeçada por Aécio Neves, o cambaleante presidenciável tucano.
Nesta sexta-feira (27), o senador mineiro afirmou que a Rede é vítima de perseguição política e bajulou: o país "merece ter uma alternativa como Marina". Já o ex-presidente FHC, guru da oposição de direita, disse à jornalista Sônia Racy, do Estadão, que a ex-verde é uma “liderança moral”. O processo de sedução é intenso, mas dificilmente Marina Silva aceitaria ser vice na chapa do PSDB caso seu novo partido não consiga garantir o registro até 5 de outubro. Não por razões políticas e ideológicas, mas apenas por cálculos eleitorais e pragmáticos.
Do ponto de vista programático, não há muita diferença entre certos marinistas e a cúpula tucana. Na sucessão passada, as duas forças inclusive mantiveram intensos contatos, conforme registrou a Folha em junho de 2011: “Às vésperas da campanha de 2010, a presidenciável Marina Silva (PV) enviou aliados para um encontro sigiloso com o candidato José Serra no apartamento do ex-presidente FHC em Higienópolis... A conversa na casa de FHC ocorreu em fevereiro de 2010, quando os tucanos ainda sonhavam com a possibilidade de Marina ocupar a vice na chapa de Serra”.
No livro “O efeito Marina”, o deputado Alfredo Sirkis, coordenador da campanha marinista em 2010, até dá detalhes desta “reunião secreta”. Ele não trata da questão da vice e diz que o encontro teve como objetivo negociar o palanque duplo de apoio a Fernando Gabeira (PV-RJ). Lembra que a reunião até começou tensa. “Serra chegou muito desconfiado. Deixou seu celular em outro quarto, alegando que havia grampos capazes de monitorar conversas até por aparelhos desligados”, relata Sirkis. A conversa só foi aliviada graças à “contagiante simpatia” do anfitrião FHC.
Pelo andar da carruagem, esta intensa relação política se mantém. Não é para menos que Marina Silva é assessorada pelo economista André Lara Resende – “um dos FHC boys da velha cepa”, segundo ironiza o blogueiro Fernando Brito. Ele e outros neoliberais de carteirinha dão assistência à “sonhática” da Rede. Recentemente, Marina Silva inclusive defendeu a herança maldita de FHC na política macroeconômica. “No aspecto do controle da inflação: temos o risco de retorno da inflação. Temos um problema que sinaliza uma série de dificuldades que comprometem alguns dos instrumentos mais importantes para o equilíbrio, que são o tripé meta de inflação, câmbio flutuante e superávit primário”.
Como se observa, as diferenças programáticas não são muitas. Mesmo assim, é difícil imaginar Marina Silva na vice de Aécio Neves. A conferir! O pragmatismo político é uma doença incurável!
Altamiro Borges é jornalista, membro do
Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e
organizador do livro “Para entender e combater a Alca” (Editora Anita
Garibaldi, 2002).
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