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O apoio do Brasil à reivindicação de soberania argentina das Ilhas Malvinas é coerente com a posição adotada pelo País durante o conflito que ocorreu na região nos anos 80. Para José Botafogo Gonçalves, presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), no Rio, e ex-embaixador em Buenos Aires, o único fator que causa algum embaraço tanto para o governo argentino quanto para seus aliados é o paralelo inevitável entre os motivos que levaram os militares do país vizinho a invadir as Malvinas em 1982 e o momento delicado vivido pela presidente Cristina Kirchner hoje.
Da mesma forma como o ditador argentino Leopoldo Fortunato Galtieri estava em sérias dificuldades econômicas quando decidiu retomar, em abril de 1982 (e após quase cinco décadas de hegemonia britânica), o controle sobre o arquipélago das Malvinas, dando origem ao conflito que mataria 649 argentinos e 255 britânicos, Cristina passa hoje pelo momento mais difícil de seu governo, com sérios problemas de inflação, estagnação econômica e disputas com a imprensa e setores ruralistas.
“A questão é que levantar agora o tema das Malvinas cheira à velha estratégia de conseguir um inimigo externo para ganhar popularidade”, opina Gonçalves. “Não fosse por isso, o apoio do Brasil – e dos outros países da região – seria muito mais fácil e menos controvertido até porque, nesse caso, é coerente com a tradição da diplomacia brasileira”, completa.
A Guerra das Malvinas encontrou o Brasil e a Argentina num momento de reaproximação depois da assinatura, em 1979, do tratado que resolveu a disputa envolvendo os projetos para a construção das hidrelétricas de Itaipu (pelo Brasil) e de Corpus (pela Argentina, que nunca saiu do papel). E, segundo alguns especialistas, ajudou a consolidar esse processo, abrindo caminho para o que mais tarde seria o Mercosul.
O último presidente do regime militar, João Batista Figueiredo, por exemplo, visitou a Argentina em 1980 (foi a primeira visita de um chefe de Estado brasileiro ao país vizinho em mais de 40 anos). Lá, ele assinou uma série de acordos de cooperação – um deles na área de energia nuclear.
O Brasil tentou manter uma distância segura do conflito por uma série de fatores. Primeiro, a iniciativa para a ofensiva militar partiu da Argentina, o que complicava o apoio amplo ao vizinho. Depois, em anos de crise da dívida, havia a preocupação com a possibilidade de os britânicos e europeus suspenderem as linhas de crédito para o País.
Mas se o Brasil pendeu para algum dos lados, certamente foi para o argentino. Aviões Bandeirantes Emb-110, por exemplo, foram comprados pelos argentinos em condições “muito vantajosas”, segundo a marinha brasileira, para cobrir os pontos fracos da defesa do país: a patrulha aérea no litoral. A Embaixada do Brasil em Londres também passou a representar os negócios argentinos junto à coroa britânica nos meses de crise.
Nas duas reuniões de consultas do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, o Brasil votou a favor das moções que condenavam o boicote da Comunidade Econômica Europeia à Argentina e apoiavam a soberania do país vizinho sobre as Malvinas. Na época, também causou mal-estar a posição dos EUA de apoio aos britânicos – o que motivou, como hoje, intermináveiveis
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