domingo, 14 de fevereiro de 2010

DA CARTA-TESTAMENTO AO PRÉ-SAL

Também do BLOG DE UM SEM-MÍDIA.

Gilberto Felisberto Vasconcellos

A Carta Testamento de Getúlio Vargas é o mais importante documento didático do trabalhismo nacionalista, na qual está dramatizada a idéia de que o país que não controla a energia carece de autodomínio. Noutras palavras, quem domina a energia do país, domina o país. Nela aparecem citadas a Petrobrás e a Eletrobrás.

O que aconteceu da Carta Testamento de 1954 ao pré-Sal de hoje?

Depois da Segunda Guerra Mundial, um clima de euforia com prosperidade tomou conta dos EUA. Torrava-se petróleo à vontade. Esse recurso estratégico para a economia da guerra, a indústria do carro e a petroquímica não dava sinais de esgotamento, parecia que a energia fóssil era eterna, inexaurível, inesgotável e infinita.

As guerras da Coréia (década de 50) e do Vietnã (década de 60)não foram guerras com objetivo de capturar petróleo, ao contrário do que sucederia com as “oil wars” (guerras do petróleo) depois da metade dos anos 70. Golfo. Iraque. Afeganistão.

O sinal de alerta foi dado em 1974: o petróleo está chegando ao fim. O Pentágono ficou com o pé na orelha. Onde houver petróleo, os EUA têm direito de arrancá-lo na marra ou na maciota.

1964 e Entreguismo Feagaceano

O sangue de Getúlio Vargas correu para garantir a existência da Petrobrás. Acuado, perseguido, injuriado, difamado, foi levado ao suicídio pela Standard Oil do doutor Rockfeller.

Alô, alô, aqui é o repórter Esso falando: que Getúlio Vargas se afunde na lama!

Até os comunistas anti-marxistas embarcaram na sedução endolarada da Standard Oil

Dez anos depois veio golpe de 64. Nada havia aí de próprio e específico ao Brasil. É que na década de 60 houve, quase que simultaneamente, golpes de Estado por toda a América Latina, com exceção de Cuba. Sobre isso a melhor interpretação foi dada por André Gunder Frank, autor de O Desenvolvimento do Subdesenvolvimento, amigo de Leonel Brizola e Darcy Ribeiro que dava aula na Universidade de Brasília, expulso daqui pelo golpe e expulso do Chile em 73 por Pinochet.

O motivo dos golpes de Estado por toda América Latina foi a divisão internacional do trabalho com as exigências da acumulação mundial de capital. Isso implicou o apagão democrático para dar força na exportação de produtos feitos pelas empresas multinacionais que se utilizavam da mão de obra barata do Terceiro Mundo.

Eis o modelo econômico de 1964, que aliás continua o mesmo até hoje: multinacionais produzindo “for export” (exportar é a solução) baseando-se na superexploração do trabalho, ou seja, salários arrochados e a miséria cada vez mais generalizada.

O Álcool é o Futuro da Petrobrás

É verdade que a ditadura de 64 (implantada pela burguesia de São Paulo e militares engambelados pela Guerra Fria) colocou o Estado a serviço das corporações multinacionais.

Os tecnocratas da economia, a exemplo de Roberto Campos, queriam privatizar tudo, inclusive a Petrobrás, mas esses tecnocratas não conseguiram convencer os militares. A ditadura não vendeu nem a Vale do Rio Doce nem a Petrobrás. Aí entra na parada FHC, o príncipe do dólar, o anti-Ruy Mauro Marini que intelectualmente fundou o MST. Desde 1969 FHC era o comensal da Ford e da Rockfeller com seu instituto de pesquisa chamado Cebrap, ponta de lança em São Paulo do Pentágono, segundo o cineasta Glauber Rocha, getuliano, janguista e brizolista. Evidentemente não foi por obra do acaso que, durante o governo FHC, o nome da Petrobrás quase virou Petrobrax, o que injuriou meus amigos Marcelo Guimarães e Bautista Vidal, os dois maiores entendidos em energia na América Latina.

Petrobrax, Petrobrax, Petrobrax.

Por pouco o entreguismo de FHC não privatizou a Petrobrás. Mas os tucanos não desistem. A luta pelo monopólio estatal do petróleo continua. O imperialismo tem pânico mortal de capitalismo de Estado. O Pré-Sal está sob a cobiça das aves de rapina, mas não por causa desse efêmero e transitório Pré-Sal, e sim porque a Petrobrás pode vir a ser, (se partir para os combustíveis renováveis) a maior empresa energética do século XXI. A Carta Testamento foi inspirada pelo Sol do novo mundo e fez a cabeça política de Leonel Brizola.

Hoje a esperança é que, lá em Miraflores, o presidente Hugo Chávez, depois de curtir a Carta de Jamaica de Bolívar, descobrirá a parceria de Getúlio Vargas com Villa Lobos.

Fonte: Blog "Tijolaço", do Brizola Neto.

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