segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

São Paulo segue "colhendo"

Atualizado às 18h19m de 22 de fevereiro de 2010

É importante que o país todo entenda por que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM/SP), teve os seus três últimos anos de mandato “cassados” e, agora, “descassados” pela Justiça Eleitoral, pois cabia recurso. É importante porque, como já aconteceu na capital paulista, outro apadrinhado de um cacique político (do governador José Serra) resulta em prejuízos extremos para a mais complicada cidade do país.

Antes de prosseguir, porém, há que explicar por que São Paulo é “a cidade mais complicada do país”. Simplesmente porque governar esta cidade é como governar um país inteiro. A população da capital paulista é igual ou superior às de vários países menores sul-americanos, e a da grande São Paulo é quase do tamanho da população de um Peru ou de uma Venezuela.

São Paulo é uma cidade marcada talvez pelas mais evidentes assimetrias sociais do país, pois templos de luxo e de consumismo ou palácios exuberantes dignos de reis convivem com uma pobreza literalmente africana – e, aqui, cabe esclarecer que não vai nenhum preconceito quanto à África, que, de alguma maneira, se desenvolve, mas repúdio à afronta da miséria imensa que há séculos persiste naquele continente.

O sentido do texto, porém, é o de demonstrar o que o povo paulistano está colhendo de sua reiterada mania de escolher mal seus prefeitos, tendo que, a cada oito anos, eleger uma mulher de esquerda para pôr ordem na casa, só para entregar essa “casa”, mais adiante, a outro picareta que passa sobre a cidade como uma nuvem de gafanhotos.

Aconteceu com Jânio Quadros. Tivemos que eleger Luiza Erundina para apanhar da maioria preconceituosa de paulistanos, hipnotizada por nossos jornais-bíblias, e para nos consertar nossa burrada. Aconteceu de novo com a dupla Maluf-Pitta, que não carece de maiores comentários e da qual os estragos foram consertados por Marta Suplicy. E, agora, acontece mais uma vez com a dupla Serra-Kassab, que controla o segundo e o terceiro orçamentos do país. “Só” isso.

E quem acha que Kassab não pode ser “kassado”, engana-se. A Justiça eleitoral já andou cassando mandato até de governador – um, inclusive, do poderoso PSDB. Ora, o que há contra o prefeito paulistano e contra essa penca de vereadores de sua base de apoio na Câmara são doações vultosas às suas campanhas eleitorais em 2008, feitas por empreiteiros e prestadores de serviços à administração pública municipal.

Trocando em miúdos: Kassab e seus vereadores receberam dinheiro daqueles para os quais poderiam “facilitar” a vida, se é que vocês me entendem. São empreiteiras que, através de seu sindicato, doaram uma montanha de grana para aqueles que tomariam decisões sobre suas obras e as contratariam, ou um banco para o qual a atual administração paulistana direcionou parte importante de suas operações financeiras.

Digo desta forma que você viu acima para não nos perdermos nesses detalhes todos que a mídia põe em suas matérias justamente para tirar o foco do principal, de que o que há, em casos como os de Kassab e companhia, é corrupção. Aliás, como tem ocorrido com freqüência no partido dele.

E não me venham com essa história que os meios de comunicação a serviço da oposição ao governo Lula andam espalhando, de que um juiz inventou o percentual para recebimento legal de propin... digo, de “doação” eleitoral permitido para empresas como as que forraram as arcas tucano-pefelês em São Paulo, em Brasília etc.

Como se vê, o esquema paulistano é bem similar ao candango...

Tentam escamotear que havia regras para a eleição do ano retrasado e que a regra que ora pune Kassab estava em vigor, ou seja, foi violada e agora ele terá que responder pela violação. É só isso. Não há qualquer base para dizer que inventaram alguma lei contra Kassab.

Acusar o judiciário de ser petista é de um ridículo atroz. É o mesmo caso da “censura” ao Estadão. Daqui a pouco a questão estará no STF e a decisão que impediu o jornal de publicar informações sob segredo de Justiça não será revertida.

O Judiciário não é petista coisa nenhuma. Aliás, é presidido por um aliado inconteste de Fernando Henrique Cardoso, que tem agido e dado declarações como oposicionista sem parar. Essa gente não tem vergonha na cara.

Agora, os paulistanos estão colhendo cada fruto de votar errado que há para ser colhido. Estamos afundando na água com cocô, vidas estão sendo perdidas em São Paulo quase todos os dias como nunca antes na história deste país, acabou o estoque de recordes de chuva que tinham para se desculpar pela inépcia e, agora, a máquina desgovernada paulistana está às portas de ficar acéfala de vez, porque em parte já está.

Educação, Segurança Pública, tudo piora. As escolas públicas paulistas e paulistanas não param de perder posições nos certames nacionais e internacionais. A criminalidade aumenta a olhos vistos, com manipulação dos índices e tudo. Ficamos por aqui, aliás, senão vira outro texto...

E o que se vê na mídia? Nas tevês paulistas, ontem à noite, dois programas sobre política: o Em Questão, na TV Gazeta, e o Canal Livre, na TV Bandeirantes. O programa da Band passou ao largo do novo escândalo tucano-pefelê em São Paulo e o da Gazeta culpou o PT pelos escândalos da oposição a Lula.

Eis a explicação para os paulistanos estarem afundando na merda enquanto culpam quem não os governa, ou a si mesmos, pelo que estão sofrendo. Ou melhor, ESTAMOS sofrendo, porque mesmo não tendo votado errado como a maioria dos meus concidadãos estou tendo que pagar por seus erros. De novo.



Escrito por Eduardo Guimarães às 12h01
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)

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