Se o Estado não for forte, quem será forte?
As manchetes da Folha – Dilma faz defesa de Estado forte e prega estabilidade – e do Estadão – Indicada pré-candidata do PT, Dilma prega Estado forte – confirmam o que destacamos ontem à noite, no post anterior. É a concepção, o poder e função do Estado brasileiro o que está em jogo nessa eleição e, com isso, a própria definição de nossos destinos como nação, isto é, deste conjunto formado por território e o povo brasileiro.
Por isso, ontem, evitei me prender a questões de a “Dilma falou isso”, o “Lula falou aquilo”.
O ponto central é um projeto de nação.
Esta é a razão pela qual José Serra adia ao máximo não apenas o lançamento, o que seria compreensível, mas a assunção de sua condição de candidato.
A bandeira da candidatura Dilma é, como a própria mídia conservadora identifica e tenta usar como “pecado” estadista, um Governo que tome o leme do processo econômico, para dirigi-lo em direção a um projeto nacional e popular.
Mas como é este projeto? Não sabemos e não podemos saber os seus detalhes, mas podemos e devemos perceber sempre o rumo: a dignidade, a oportunidade e a felicidade de todas as pessoas.
Como? Como ocorre com qualquer pessoa, também acontece com as coletividades: descobrindo a si mesmo, seus potenciais, seus valores, aprendendo a se relacionar com o mundo protegendo sua identidade e, ao mesmo tempo, encontrando a forma de fazê-la conviver em harmonia, mas sem dissolver-se e desaparecer, com o nundo que a cerca.
Na expressão que Leonel Brizola sempre usava, é aspirarmos a um destino próprio, brasileiro.
E a de Serra, qual é?
É a de uma vaga “competência” administrativa, de uma superioridade gerencial e intelectual, o tal “choque de gestão”. Aliás, políticos medíocres e autoritários adora usar esta expressão “choque”, tentando convencer – e convencendo a boa parte da classe média – que a vida social e econômica de uma sociedade é um processo que se faz com ordens e medidas administrativas.
Não é. Um presidente não é um síndico de prédio, é o arquiteto que percebe e corporifica o projeto que seu “cliente” deseja, fazendo com que a vontade se transforme em caminho, que o lugar onde se vive progrida para seu bem-estar.
O que oferece ao país o candidato que, por oposição, não quer o Estado forte e ausente ao máximo das relações sociais e econômicas? E que, portanto, deseja-o fraco e omisso?
Se o Estado não é forte, quem o será?
Só um ingênuo poderia achar que as organizações sociais, as ONGs, os sindicatos, o seriam.
Forte é o capital. Fortes são os interesses econômicos. São os investidores estrangeiros. É a Bolsa.
O país do neoliberalismo, não se mede pelo ser humano. Mede-se pelos lucros e balanços, não pelo trabalho e emprego. Mede-se pela “modernidade “, sem cuidar que ela seja socialmente justa ou que preserve e proteja os mais vulneráveis. A eles, a caridade, agora rebatizada de “responsabilidade social”. Nada contra ela, exceto a sua insuficiência para resolver os problemas de um país de 200 milhões de habitantes.
O Estado omisso delega e renuncia ao seu papel de equilibrar a distribuição da riqueza, da educação, da saúde, da cultura, do desenvolvimento humano e econômico. Ele diz: façam, porque eu não o farei.
Ele prega que a felicidade virá pela mão do sábio “mercado”, que a inteligência do “deus-dinheiro”, com seu inegável faro pelo lucro, abrirá um dia, para todos, a porta do paraíso onde querem viver. Deste paraíso, o dever do Estado é exorcizar, com o bastão da “ordem”, os “demônios” que emanam da pobreza - deseducação, a selvageria das relações humanas e sociais brutalizadas, a violência, o subemprego que se espalha nas ruas com os camelôs, os biscateiros, os pequenos transgressores que se vão transformar na grande chaga da criminalidade.
O Estado não é senão para reprimir. Sua mão não é para acolher, acariciar, estimular. Quem dirige é a mão invisível do mercado. A mão do Estado, que é concreta, é para esbofetear pelo abandono ou pela repressão.
Este é o ponto central deste embate, disse eu ontem, define muito mais que a “gestão” do Brasil.
Nestes meses, antes que os marqueteiros tomem conta da televisão, se preocupando em fazer parecer simpáticos, cultos, preparados e bonitinhos todos os candidatos, viveremos um tempo decisivo. Agora é a hora de esclarecer o povo brasileiro, livre das técnicas de publicidade, que irá se definir o processo de formação de consciência da população.
Desta vez, é ela, não o marketing, que definirá o caminho pelo qual seguirá o país e, com ele, seu povo.
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