Laerte Braga
A afirmação foi feita pelo governador de São Paulo, José Collor Serra, numa reunião festiva com o governador de Brasília, José Roberto Arruda, ora em retiro nas dependências da Polícia Federal. Pode ser vista em
http://www.youtube.com/watch?v=NImym3T_Ozw&feature=player_embedded
Arruda era o preferido de Serra para ser o vice em sua chapa, isso antes do paulista ter transformado Aécio Neves em pó de traque, nos alertas do jornalista marrom Juca Kfoury, aliado palmeirense do governador tucano.
A decisão do ministro Marco Aurélio Mello deixa os tucanos e os DEM numa saia justa. O ministro negou o habeas corpus em caráter de liminar e a decisão fica agora para a quarta-feira de cinzas a cargo do pleno, ou seja, da totalidade dos ministros da Suprema Corte. A turma, um a um, vai ter que dar a cara a tapa. Como Gilmar Mendes vai se sair dessas não sei, mas é possível que não tendo que dar o voto de desempate, não vote. É típico de cretinos como ele, espertalhões do seu feitio.
O governador José Roberto Arruda mandou hoje seu recado aos “aliados”. Foram dois recados, aliás. O primeiro dado pelo secretário de Transportes e seu amigo Alberto Fraga. Arruda está incomodado por estar preso há dezoito horas, quando do recado e ainda não tiver sido chamado a prestar depoimento. Mais ou menos um “vocês se virem aí fora para me tirar dessa fria ou abro o bico”. O segundo é sobre seu abatimento, veio pela boca do coronel PM Ivan Rocha, chefe da Casa Militar do governo de Brasília. “O governador está muito abatido e não conseguiu dormir à noite”.
A primeira preocupação do governador Serra assim que o escândalo estourou, foi tentar minimizar o impacto dos fatos em sua candidatura presidencial. Descolar sua imagem de Arruda não tinha como, o jeito era buscar maneiras de manter esse vínculo longe da opinião pública. Conseguiu em parte e durante algum tempo.
Para isso viajou para Davos a pretexto de participar do Fórum Econômico Mundial, levou consigo uma amiga comum, dele e de Arruda, a senadora Kátia Abreu, especialista em desvio de dinheiro público, grilagem de terras e trabalho escravo. Arruda foi em seguida e por lá um acordo foi selado. Serra garantiu ao governador de Brasília que ia segurar a REDE BANDEIRANTES (estava acompanhado da filha do dono da REDE), tentar ajeitar as coisas na GLOBO aumentando a verba publicitária e, por extensão, determinar, isso mesmo determinar, aos jornais paulistas FOLHA DE SÃO PAULO e ESTADO DE SÃO PAULO, que não tocassem mais no assunto, ou quando tocassem o fizessem em páginas internas e sem destaque.
Com a prisão de Arruda o acordo furou. Segurar como? O estar incomodado por não ter sido chamado a prestar depoimento ainda é exatamente uma declaração de ruptura desse acordo. E um aviso sobre a necessidade de um novo entendimento que dê a ele Arruda garantias pelo menos que não vai ficar preso por muito tempo e, principalmente, vai poder salvar o dinheirinho guardado em meia, cueca, malas, contas no exterior, etc, etc.
Como o plano de Serra era “vote num careca e leve dois“, o careca paulista vai ter que se desdobrar para evitar respingos e respingos fortes em sua imagem que já não é das melhores. Em São Paulo as tempestades vão além das tempestades propriamente ditas e compreendidas.
Vamos, assim de repente, do nada, que a Justiça brasileira tenha uma crise de dignidade e resolva colocar na cadeia governadores corruptos. Serra é um dos primeiros.
Não foi só o governador José Roberto Arruda que não dormiu na noite de quinta para sexta-feira. O paulista também não. E como tem hábito de praguejar, dar ataques histéricos, coisas do gênero quando contrariado, deve ter azucrinado a vida de seus assessores mais diretos.
E devem ficar sem dormir alguns deputados, senadores do DEM e do PSDB, sem falar em um tanto de ministros do STF. Como se costuma dizer, os olhos do País estarão postos sobre eles na próxima quarta-feira de cinzas.
Qualquer que tenha sido a justificativa da decisão do ministro Marco Aurélio Mello, o ministro, no duro mesmo, saiu de uma baita armadilha. Noutras circunstâncias, como fez com o caso de Daniel Dantas e do médico paulista que abusava de suas pacientes, Gilmar Mendes teria chamado a si a “responsabilidade” e mandado soltar Arruda. Ambos foram colegas no governo de FHC e Gilmar está no STF para garantir que nada de errado aconteça com a turma do ex-presidente.
Razões técnicas para mandar soltar Arruda existiam e Marco Aurélio preferiu não passar recibo na fria em que tentaram colocá-lo. Pegou a bola colocou na marca do pênalti e cada um vai ter que bater o seu.
Bater e explicar.
E por falar em marca do pênalti, quem está agora pela bola sete é a governadora tucana do Rio Grande do Sul, amiga dileta de FHC. Aprontou todas e tantas quanto possíveis. Se a moda pega e a OAB pede a prisão de Yeda Crusius não tem como o STJ negá-la se decidiu assim com relação a Arruda.
É aí é a teoria dominó. Cai o rei de copas, caem todos os outros reis do tucanato e seus braços DEM e PPS.
A intenção de José Roberto Arruda era viajar para o Rio de Janeiro e passar o carnaval naquela cidade. O governo de Brasília é o principal patrocinador da Escola de Samba Beija Flor. José Roberto Arruda, na tentativa de resgatar sua imagem nos 50 anos de Brasília, pretendia incluir no seu roteiro carioca um e outro passo de samba.
Sambou uns dias antes...
Pode ser que num esforço titânico consiga que Madona vá a Brasília visitá-lo em troca de alguns trocados para “as crianças pobres da Amazônia”. Quem sabe não é uma boa oportunidade para o governador redimir-se já que, desde que a bomba explodiu, não tem feito outra coisa que não pedir desculpas.
Madona chega, como não pode tomar caipirinha nas dependências da Polícia Federal toma um suco, tem uma audiência reservada com Arruda (como teve com Serra) e sai de lá com algum no sutiã para ajudar as crianças. Na saída dá um selinho no governador.
Somos o País do espetáculo, nada é impossível. E tanto é assim que Arruda está preso.
O careca Serra vai ter que mudar de slogan, o outro careca já foi preso (ele ainda não) e às vezes tentar um cabeludo.
É o tal negócio já se dizia desde antanho, “quem fala muito dá bom dia a cavalo”. E rabo de cavalo cresce para baixo.
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