20/04/2010
Apertem os cintos: o embate eleitoral começou
A campanha comecou, para valer. Os dois grandes competidores mostram suas armas, revelando cada campo sua forca e suas fraquezas. Ninguém ganhará na véspera, dado o arsenal de que dispõem cada campo.
Nem mesmo a situação econômica e social inquestionavelmente positiva bastará para eleger a candidata que diretamente representa esse quadro altamente positivo. Basta recordar como Lula, mesmo com grande apoio às políticas sociais do governo, teve que enfrentar um segundo turno contra Alckmin. E que a ampla vitória obtida no segundo turno foi o resultado, por um lado, das posições antineoliberais assumidas por Lula naquele momento – especialmente contra as privatizações de FHC -, assim como operações políticas que ajudaram claramente a reverter o quadro tendencialmente favorável a Alckimin (que crescia e poderia chegar a estar na frente numa primeira pesquisa para o segundo turno).
Por um lado, Lula conseguiu o apoio de Sergio Cabral, recém eleito governador do Rio, enquanto Alckmin dava o passo equivocado de conseguir a adesao de Garotinho. Esse duplo movimento mudou o quadro, que poderia ter, na primeira pesquisa do segundo turno, um empate técnico, pela projeção das tendências do final do primeiro turno.
Em resumo, é preciso fazer política, manter a iniciativa, fazer o jogo de esgrima cotidiano que uma campanha tão desigual em termos de poder de divulgação requer, se se quer derrotar esse monopólio privado da mídia.
Na eleição de 2006 a oposição tratou de nem discutir os programas do governo. É certo que buscava desqualificar as políticas sociais do governo, dizendo que o bolsa família era um programa “assistencialista”, que “comprava” pobres, que se fazia com que ficassem dependentes das “esmolas” do Estado. Não se opunha alternativas, buscava se deslocar a discussão para outro plano, como se faz agora.
O foco da ação opositora era as denúncias de “corrupção” do governo, de inchaço do Estado, de uso da máquina estatal com fins partidários. De tal forma que foi decisivo o uso da imagem do maço de notas no final do primeiro turno – em que o Jornal Nacional cometeu a brutalidade de não noticiar o maior acidente aéreo do Brasil, já noticiado pelo Jornal da Band antes, para dar destaque àquela imagem, que foi importante para conseguir a passagem para o segundo turno.
Foi, portanto, a combinação das realizações do governo mais as iniciativas políticas é que levaram à vitória de Lula no segundo turno.
Seria possível Dilma triunfar baseada nas realizações do governo? É possível, mas não seguro. Basta um exemplo: pesquisa do jornal Valor com grandes empresários demonstrou que a grande maioria deles está a favor das políticas do governo, mas essa mesma grande maioria diz que votará no Serra.
Por outro lado, está claro que a mídia está disposta a fazer de tudo, superando os limites de tudo o que fez até agora. Um dos limites que foi superado já é o da não divulgação de pesquisa que não lhes seja favorável. A FSP criticou na véspera os critérios de perguntas da pesquisa do Vox Populi, seus leitores estavam implicitamente informados de que havia uma pesquisa Vox Populi em andamento. Mas nem a FSP, nem O Globo, nem o Estado, deram o resultado da pesquisa. As pessoas não foram informadas que a diferença entre os outros dois tinha baixado de 8 pontos para 3. Não se transformou em um fato político. Não basta então haver pluralidade de pesquisas, será necessário construir canais alternativos de difusão, para paliar minimamente o fracasso da política de comunicação do governo.
Ficam claro os temas em que a oposição vai centrar sua campanha, que não será sobre o governo Lula, que eles têm que aceitar que é um governo de sucesso. Ficarao tentando dizer que o que tem de bom o governo teria vindo do governo FHC, mas os ataques se concentrarão na suposta falácia do PAC.
O centro mesmo serão os ataques à Dilma: seria autoritária, agressiva, descontrolada, incapaz de “controlar o PT”, nunca dirigiu um governo, foi “terrorista”, etc., etc. Para isso já tem usado os instrumentos mais torpes, seja a ficha falsa da Dilma, versões distorcidas de declarações (quantas vezes já se leu sobre “gafes” da Dilma e do Lula).
Não é Dilma que tem que envolver-se nas polêmicas. Ela tem que lidar sobretudo com a agenda positiva. Lula e os outros dirigentes políticos é que devem fazer a polêmica. E uma ágil e criativa coordenação de campanha que coordene efetivamente a campanha, com todas as contingências que ela venha a ter. Agil, porque se combaterá ao ritmo da internet e dos jornais diários. E criativa, porque se combate em brutal desigualdade de condições com os meios de que dispõem o bloco direitista.
A pauta da campanha deve ser a comparação dos dois governos, o que, por si só, revelará como Serra não será a continuidade do governo Lula, mas a retomada do programa do bloco tucano-demista. Mas, além disso, a campanha terá outros entreveros, com a oposição tentando descaracterizar essa comparação e buscando centrar a campanha na comparação de trajetórias, que na ótica bastarda da oposição, significa acusações pessoais a Dilma.
A nova campanha da Globo, com artistas cantando “O Brasil pode mais” – exatamente o slogan do Serra -, na comemoração dos seus 45 (numero dos tucanos) anos, dá uma idéia da fusão entre mídia privada e campanha eleitoral da direita. É obvio que, mesmo se tivesse sido produzida muito antes, passaram duas semanas entre o lançamento do slogan do Serra e a veiculação da propaganda, tempo suficiente para se darem conta da “coincidência”. Não será a única. Para derrotá-los é preciso dispor de uma direção dinâmica e aberta aos intercâmbios com todos que participam dela, de uma rede alternativa de difusão e de muita criatividade. O fundamental nós temos: um governo com realizações inquestionavelmente superior ao dos tucanos, em todos os quesitos, uma excelente candidata e uma plataforma de futuro enraizada no que já se está fazendo.
Postado por Emir Sader às 05:00
http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=451
2 comentários:
EXATAMENTE COMO PENSAMOS!
FOI UMA TENTATIVA DE QUASE-GOLPE
19.4.10 - do Blog DoLaDoDeLá
Os bastidores do quase-golpe
Da série ficção, a preferida dos internautas. Começou com um telefonema de um ator consagrado para o diretor do núcleo. Ele estava irado com a peça promocional que foi ao ar na noite de Domingo. Era um institucional de trinta segundos em que ele dizia apenas duas palavras. Mas a montagem induzia o telespectador a acreditar que se tratava, não de uma campanha de aniversário da maior emissora de televisão do país, mas um mosaico grosseiro cujo slogan "a gente faz senpre mais" é uma clara alusão ao do candidato José Serra.
E para corroborar com a leviandade, ainda vinha o número quarenta e cinco assinado na peça, ao lado do logotipo. Ao todo, foram quarenta celebridades entre as turmas das produções, humor, shows, esporte e jornalismo. Achei até curioso a manifestação ter partido de um ator e não de um de nós. Afinal, vendemos a eles apenas nossa força de trabalho, não nossas consciências.
Será? Nem sei mais... O ator foi duro e franco com o executivo da empresa. Se alguma providência não fosse tomada, ele ia aos jornais dizer que foi vítima de manipulação. Era tudo o que a emissora não queria ouvir nessa altura do campeonato. Ainda que seu candidato pudesse ser o mesmo que o da emissora, ele jamais se sujeitaria a trabalhar naquelas condições.
E antes de desligar, avisou: Eu não estou sozinho. O diretor pediu paciência, disse que ia encontrar uma saída. Pensou em quem confiar num momento desses de conflito: talvez um executivo que tivesse bom transito com o jornalismo. Afinal, foi coisa dos herdeiros da Corte do Cosme Velho, incentivados pelo Guardião da Doutrina da Fé, pensou.
Assim que amanheceu propôs o encontro ao executivo que considerou ser hábil o bastante para apagar o fogo. Nisso a internet já fervilhava. Pressões vinham de todos os lados, a opinião pública, os patrocinadores, os políticos, os amigos. É preciso convencer a direção de que foi um tiro no pé. Mas como fazer isso? Juntando argumentos. E lá foram os dois tentar convencer os acionistas de que aquilo fora um erro.
Os artistas respeitam os interesses comerciais e políticos da emissora, mas consideram que não cabe a eles exercer esse papel institucionalmente. O artista é o vendedor de sonhos e ilusões para todos, não só para um determinado grupo político. Afora os artistas, tem os jornalistas que emprestam sua credibilidade à emissora. Ações assim pode arranhar para sempre esse vínculo com o telespectador.
E assim foram as tratativas durante toda a tarde. Ok, mas qual seria a solução? Pensaram em várias. Ao final do encontro triunfou aquela que diz assim: "O texto do filme em comemoração aos 45 anos da Rede Globo foi criado - comprovadamente - em novembro do ano passado, quando não existiam nem candidaturas muito menos slogans.
Qualquer profissional de comunicação sabe que uma campanha como esta demanda tempo para ser elaborada. Mas a Rede Globo não pretende dar pretexto para ser acusada de ser tendenciosa e está suspendendo a veiculação do filme." Esta noite não vai ser boa, nem para o Guardião, nem para a Central de Comunicação, e muito menos para o patrão. Nós aqui fora sabemos de tudo! O Povo não é bobo. Fiquem espertos.
http://maureliomello.blogspot.com/
"será necessário construir canais alternativos de difusão, para paliar minimamente o fracasso da política de comunicação do governo."
É triste ter que reconhecer este fracasso e também o fato de que sofreremos com ele.
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