domingo, 25 de abril de 2010

Contraponto 2030 - "Os marqueteiros do machismo"

domingo, 25 de abril de 2010

25/04/2010





Tijolaço - domingo, 25 abril, 2010 às 8:48

Como os nossos jornais são muito independentes e criativos, todos eles “descobriram”, nos últimos dois dias, que a candidatura DilmaRoussef teria “problemas” com o eleitorado feminino.

Sábado foram o Estadão e O Globo; hoje, a Folha. Embora tenham havido até agora “zentas” pesquisas, os marqueteiros, só agora perceberam o fenômeno. Só o Estadão, da noite de sexta-feira para cá, publicou três matérias diferentes sobre o tema.

A “recomendação” de todos é “amaciar” a candidata. Ela seria dura, autoritária, mandona, “ralharia” com as pessoas e isso desagradaria às mulheres. Não é preciso escrever, a idéia vem por oposição: Serra, então, seria doce, democrático, compreensivo e isso agradaria às mulheres.

Meus amigos, não se enganem. Claro que os jornais não tiraram isso do nada. Existem as pesquisas e, sobretudo, existem os marqueteiros – profissionais e amadores, pró e anti Dilma – que partilham sempre a mesma opinião conservadora sobre os assuntos e apontam sempre na direção do conservadorismo.

Só que o mundo muda, apesar das pesquisas e do marketing. A “meiga inferioridade” feminina é algo que vem ficando para trás. Elas chefiam um terço dos lares brasileiros, segundo o IBGE. Elas trabalham tanto quanto os homens e, claro, recebe muito menos. Elas, a duras penas, estão revertendo a reprodução doméstica da opressão que a sociedade exibe.

Pesquisas e marqueteiros, quando muito, refletem o status quo. A política e a lideranças populares verdadeiras desenham o futuro, o desejo, a vontade.

Coloco aí em cima um vídeo sobre a participação de Dilma num encontro de mulheres, esta semana. Elá propria fala: “Nós ainda temos uma participação política que não se coaduna com nosso peso na sociedade, somos 52% de brasileiras. Temos participação forte no ensino superior e, segundo o Sebrae, 53% das pequenas empresas são comandadas por mulheres”

A “preferência” das mulheres por Serra é cruamente explicável: a desinformação e o preconceito. Desinformação e preconceitos são obstáculos a serem vencidos, não realidades a serem aceitas.

Nosso desafio não é o de “adaptar” Dilma a eles, é rompe-los. Verifiquem, com objetividade, se Dilma age de forma que possa parecer autoritária e “ralhadora”? Apontem aí um ato que se enquadre nisso nos últimos tempos?

A comunicação cria a imagem, reforçando o que quer e suprimindo o que não quer. Como será a nossa comunicação: vamos reproduzir preconceitos que rejeitamos e escamotear a igualdade que desejamos?

Faz tempo que venho dizendo aqui: nossa força é a verdade, e a verdade é a realidade. A realidade da mulher brasileira é muito mais que a de “mulher, mãe e doméstica”.

Ou Dilma, ela própria, não é a prova disso?
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