Livro
“A Privataria Tucana” nasceu do pedido de Aécio Neves para que o jornal
Estado de Minas investigasse o rival José Serra; escrito pelo
jornalista investigativo Amaury Ribeiro Júnior, o livro traz revelações
importantes sobre como o ex-governador paulista, seus operadores, seu
genro e até sua própria filha enriqueceram com a venda de estatais
O
livro mais anunciado, comentado e aguardado por aqueles que se
intitulam “blogueiros sujos” está nas livrarias. Escrito pelo jornalista
Amaury Ribeiro Júnior, a obra “A Privataria Tucana” vem sendo anunciada
desde a campanha presidencial de 2010, quando Amaury se tornou
personagem da história, ao ser acusado de quebrar o sigilo fiscal de
Verônica Serra, filha do então candidato José Serra. O episódio fez com
que Fernando Pimentel, hoje em seu inferno astral, perdesse espaço na
campanha para os paulistas liderados por Rui Falcão e Antonio Palocci.
Amaury submergiu e se dedicou a concluir seu livro, lançado nesta
sexta-feira pela Geração Editorial, do jornalista Luiz Fernando
Emediato. É um trabalho que traz revelações importantes sobre a era das
privatizações, expõe de forma clara o tráfico de influência comandado
por Serra e seus operadores, especialmente o tesoureiro Ricardo Sérgio
de Oliveira, e revela ainda como uma guerra interna no ninho tucano deu
origem a toda essa história. Ex-repórter do Estado de Minas, que lutava
para emplacar Aécio Neves como presidenciável, Amaury recebeu a
encomenda de investigar a vida de José Serra. O resultado são as 343
páginas de “A Privataria Tucana”.
Em
2009, Aécio e Serra disputavam a indicação tucana para concorrer à
presidência. O mineiro defendia prévias e o paulista se colocava como “o
primeiro da fila”. Amaury, que vivia em Belo Horizonte, foi chamado por
seus patrões para a missão quando o Estado de S. Paulo publicou um
texto intitulado “Pó pará, governador?”, um tanto estranho para os
padrões austeros da família Mesquita, pois, já no título, insinuava que
Aécio seria um cocainômano – e que, portanto, não poderia sonhar com a
presidência. A partir daí, veio a resposta mineira. Segundo Álvaro
Teixeira da Costa, dono do Estado de Minas, São Paulo não deveria mexer
com Minas, pois os mineiros também saberiam lutar.
Amaury
recebeu a encomenda e disse aos patrões que a fragilidade de Serra
residia nas privatizações. E assim começou a investigá-lo, bem como a
seus principais operadores: Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-diretor do
Banco do Brasil, e Grégorio Marin Preciado, casado com sua prima. No
meio do caminho, Amaury descobriu as contas usadas por Ricardo Sérgio,
Gregório e até pela filha de Serra, Verônica, e por seu genro, Alexandre
Bourgeois.
Eis algumas das revelações do livro:
- Carlos Jereissati, dono da Oi, usou sua empresa Inifinity Trading, sediada em paraísos fiscais, para pagar propina a Ricardo Sérgio de Oliveira, na empresa Franton Enterprises.
- A propina pela compra da Oi, segundo o autor do livro, seria próxima a R$ 90 milhões. Jereissati e seus parceiros chegaram ao leilão sem recursos e foram socorridos por fundos de pensão, comandados por Ricardo Sérgio de Oliveira e seu braço direito João Bosco Madeiro.
- Ricardo Sérgio de Oliveira, que era chamado de “Mr. Big” e se tornou amigo de Serra por intermédio de Clóvis Carvalho, comprou prédios inteiros em Belo Horizonte, que depois foram também vendidos a fundos de pensão estatais. O livro traz documentos e procurações usadas por Ricardo Sérgio e seus laranjas.
- Na privatização da Vale, vencida por Benjamin Steinbruch com recursos dos fundos de pensão, num consórcio organizado por Miguel Ethel e José Brafman, a propina teria sido de R$ 15 milhões.
- Gregório Marin Preciado, “primo” de Serra, organizou o consórcio Guaraniana, que, também com dinheiro dos fundos de pensão, comprou várias distribuidoras de energia no Nordeste, hoje pertencentes ao grupo espanhol Iberdrola.
- Preciado e Ricardo Sérgio jogavam juntos. Boa parte dos depósitos recebeidos pela Franton Enterprises, de Ricardo Sérgio, eram feitos pelo “primo” de Serra. As movimentações da dupla, documentadas no livro de Amaury, somam mais de US$ 20 milhões. Preciado e Serra também aparecem como sócios num terreno em São Paulo. Também na era Serra, o Banco do Brasil teria reduzido uma dívida de R$ 448 milhões de Preciado para míseros R$ 4,1 milhões.
- O livro também aborda a sociedade entre a empresa Decidir.com, de Verônica Serra, filha do ex-governador tucano, com o grupo Opportunity, de Daniel Dantas. A Decidir.com, voltada para leilões na internet, recebeu cerca de R$ 10 milhões em investimentos, mas nunca apresentou resultados. Em abril de 2002, a empresa foi dissolvida.
- Tanto Verônica Serra como Ricardo Sérgio de Oliveira utilizaram a mesma empresa, a Citco, para abrir suas contas no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas.
Além disso, o livro também revela
como Serra teria usado o governo de São Paulo para contratar a empresa
Fence e espionar adversários políticos – era essa, aliás, uma das
encomendas iniciais do Estado de Minas: descobrir por quem Aécio vinha
sendo seguido em suas constantes noitadas cariocas. Por último, depois
de se dedicar à guerra interna dos tucanos, Amaury escreveu sobre a
guerra interna do PT, na campanha de Dilma, entre os grupos de Fernando
Pimentel e Antônio Palocci.
O que
talvez comprove que PT e PSDB têm muito mais semelhanças do que
diferenças. Uma boa sugestão para o répórter seria um lviro sobre a
"privataria" petista, com recursos do BNDES, dos fundos de pensão e até
do FGTS.
No Brasil 247
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