segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A imprensa blinda Serra. O eleitor, não


Até o momento em que rabisco essas mal traçadas linhas, reina estrepitoso silêncio em torno do livro-bomba de Amaury Ribeiro Jr., nosso companheiro aqui da Record, com novas, sensacionais, documentadíssimas revelações sobre aquele que foi – agora não há nenhuma dúvida – a maior falcatrua com dinheiro público na história recente do Brasil.
Os únicos a quebrar a omertà, a lei mafiosa do silêncio, são a Record e a Record News, que não têm rabo preso com ninguém e noticiaram com o devido destaque, da mesma forma como noticiam os escândalos no governo federal. O livro trata do episódio da privatização das teles no governo Fernando Henrique Cardoso. O mensalão fica parecendo coisa de amadores.
Amaury Ribeiro Jr. é um repórter investigativo de fino faro. Já ganhou o Prêmio Esso de Reportagem, uma espécie de Oscar do jornalismo brasileiro. É um profissional sério e respeitável.
A Privataria Tucana (Geração Editorial) traz 323 páginas de pura nitroglicerina. Entre os protagonistas da trama, avulta a figura do ex-ministro José Serra. Junto com Serra, um pequeno círculo de familiares: a filha, o genro, o marido de uma prima do Serra.
As acusações são pesadas e volumo$a$. Dão conta de movimentações superiores a 2,5 bilhões de dólares, via paraísos fiscais. Propinas, tráfico de influências, fraude em concorrências, espionagem – está tudo documentado.
No eixo das malversações, o conhecido Ricardo Sérgio de Oliveira, caixa das campanhas eleitorais do PSDB.
Em entrevista à Carta Capital – que também teve a coragem de romper a blindagem feita pela grande imprensa em torno de Serra – Ribeiro Jr. destampa um episódio digamos assim fratricida, que exprime bem os métodos políticos de José Serra.
Ameaçado pelo crescimento de Aécio Neves junto às bases do PSDB, o insistente candidato decidiu botar um núcleo de arapongas espionando a vida particular do governador mineiro.
Serra pretendia usar o dossiê numa possível contenda dentro do partido. Quem comandava a operação clandestina era o ex-delegado da Polícia Federal, depois lotado no gabinete do ministro da Saúde, Marcelo Itagiba. (Itagiba, eleito deputado federal pelo PSDB do Rio, em 2006, foi cassado pelo voto em 2010).
Vocês sabem, Aécio desistiu, Serra concorreu e perdeu. Durante a campanha, fez enorme alarde a respeito de um suposto “dossiê” que envolveria sua filha. O dossiê era, na verdade, o livro do Amaury.
Tática preventiva, mas manjada: acusar para não ser acusado, fazer escarcéu para despistar o foco da questão. A imprensa amiga aliou-se prontamente ao candidato anti-Lula.
Amaury, para não ser ver usado no arsenal da sangrenta campanha presidencial, decidiu adiar a publicação do livro – que agora está nas livrarias.
Sobra inclusive para o PT – outro momento fratricida dos muitos a que o PT já se acostumou.
Narra a disputa entre duas facções durante a campanha da Dilma: aquela comandada pelo hoje ministro Fernando Pimentel e a ala aloprada do PT de São Paulo, representada pelo hoje presidente do partido, Ruy Falcão.
Foi a turma de São Paulo quem andou vazando informações à imprensa para detonar os rivais – a velha guerra de ocupação de espaços. Mesmo ao custo de detonar a própria candidatura Dilma.
(Um dos veículos acionados por Falcão foi, acreditem, a revista Veja). O livro é um mergulho no triste Brasil do lodaçal do poder.
Insisto: é curioso o silêncio da grande imprensa. Tão pressurosa em divulgar as mais mirabolantes acusações – por exemplo, aquela história de mala de dinheiro na garagem do Ministério do Esporte, depois desmentida – ela agora trata de proteger o eterno queridinho.
O eleitor, no entanto, está ligado. Pesquisa da Datafolha divulgada ontem, domingo, 11, informa que a rejeição a José Serra pulou para 35% – no caso de ele vir a ser candidato a prefeito de São Paulo no ano que vem.
Serra é, disparado, o mais rejeitado de todos os possíveis postulantes.
Mas ele é tão insistente que vai acabar atropelando seus próprios companheiros de partido e se candidatando a um mandato que, claro, se eleito, não iria cumprir até o fim – mesmo prometendo fazê-lo, com certidão passada em cartório e tudo (como já fez certa vez).
Pelo menos o Serra terá o voto da Soninha.

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