O Tijolaço descumpre sua promessa de silenciar enquanto não há definição sobre os nomes indicados pelo PDT para o Ministério do Trabalho por uma razão que está acima da política: a verdade.
Agora à tarde, Sílvio Jablonski, assessor de diretoria da ANP, afirmou que, se a petroleira não tivesse deixado uma área não revestida do poço, estendendo o revestimento por mais 400 metros além do que foi realizado, não teria havido o vazamento de 2.400 barris de petróleo, detectado em 8 de novembro.
Ou seja, que a ela não cumpriu os planos de exploração que haviam sido registrados perante os órgãos fiscalizadores que, obviamente, não podem ter um fiscal “morando” em cada plataforma.
É a primeira confirmação oficial do que foi informado aqui, neste blog, no dia 30 de novembro, ou quase quatro meses atrás:
O que a Chevron não disse à imprensa,
aos deputados e à sociedade é que deveria existir uma segunda sapata
situada algumas centenas de metros abaixo daquela, capaz de sustentar a
coluna de tubos de 9 5/8 polegadas e vedar o espaço entre estes tubos
e a perfuração de 12 1/4 polegadas, impedindo a ascensão do petróleo
por fora da tubulação.
Esta sapata – que seria também
submetida, segundo o plano, a “testes de selo”, para verificar sua
capacidade de vedação – simplesmente não foi construída.
Veja no quadro do projeto apresentado pela Chevron que ela estaria situada entre 2050 a 2600 metros (a sigla TVDSS significa True Vertical Depth Sub Sea,
profundidade real submarina) e deveria ser capaz de resistir a
pressões súbitas (explosões) de mais de seis mil PSI, ou algo como 420
quilogramas-força por centímetro quadrado.
Esta sapata e a vedação jamais
existiram, apesar de o poço já ter atingido 3.329 metros de
profundidade. Evidentemente, também não o teste de selo.
Só a partir daí, segundo o plano
apresentado pela Chevron, é que a perfuração seria feita com a broca de
8 ½ polegadas, que é o diâmetro convencional da chamada “fase final”
de um poço de petróleo, aquela que toca o reservatório subterrâneo de
óleo. Esta fase não possui revestimento, o que é chamado de “poço
aberto” no jargão técnico. No seu depoimento á Comissão de Meio
Ambiente, o presidente da Chevron-Brasil (?), o Sr. Charles Buck,
admitiu que a broca usada no momento do acidente era a de 8 ½
polegadas.
Na perfuração executada pela Chevron,
a situação era de “poço aberto” a partir de 567 metros abaixo do solo
marinho. Embora o ponto provável de ruptura tenha sido abaixo da
sapata situada neste nível, pode ter ocorrido em outro, em razão da
grande extensão – comprimento vertical + horizontal, conhecido
tecnicamente como TD(MD) – aumentada pelo fato de o poço fazer duas
longas curvas (dog legs, na linguagem técnica) e ter um trecho
horizontal. Se os diagramas apresentados pela Chevron tiverem proporção
correta, é possível estimar esta extensão em mais de três quilômetros
sem revestimento ou vedação.
E isso numa formação geológica cheia
de fraturas e fissuras, o que é admitido no estudo e provocou até a
mudança de direção de três poços perfurados em Frade.
Mas o que poderia ter feito a Chevron não implantar a sapata de sustentação e vedação?
Não é possível dizer, mas é natural que se avalie a vantagem de não o fazer: economia.
Uma sapata com esta resistência
custa algo como R$ 1 milhão, o que somado ao tempo de parada na
perfuração, em razão dos custos fixos, pode quadruplicar, pelo menos,
de valor. Só o aluguel da sonda – mesmo a “baratinha” que utilizaram –
é equivalente a cerca de R$ 500 mil por dia e ela não pode perfurar
enquanto não se completa a cimentação, espera-se o tempo de “pega” do
cimento e se realizam os testes de selagem.
Infelizmente, o “jornalismo investigativo” brasileiro parece ter
pouco “apetite” pela apuração de casos que envolvem grandes interesses
privados, como o da indústria petroleira e, sobretudo, a multinacional. Estamos vendo as hipóteses mais absurdas sendo veiculadas pelos jornais para explicar os vazamentos – aparentemente residuais – no campo operado pela empresa americana. Fala-se até em “afundamento” de uma imensa calota de solo marinho por conta de fissuras e- acreditem – em novos “vazamentos naturais”.
Mas ninguém, até agora, se preocupou em comparar o que fez a Chevron e o plano de exploração que ela mesma fez aprovar pelas autoridades públicas, e que está disponível para quem se interessar.
E parece que nossos grandes jornais não se interessam, mesmo.
Do Blog TIJOLAÇO.COM
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