Com Cachoeira, Delta vai de R$ 5,5 mi a R$ 276 mi
Empreiteira de Fernando Cavendish multiplicou suas receitas junto ao governo goiano, do tucano Marconi Perillo, após se aproximar do bicheiro Carlinhos Cachoeira; mafioso tinha até informante na PF para saber de possíveis operações contra a construtora; e, até agora, nada na Globo, Folha, Estadão...
É crescente o paradoxo entre as revelações da Operação Monte Carlo, que prendeu o bicheiro Carlinhos Cachoeira, e o silêncio da chamada grande imprensa em relação ao escândalo que atinge em cheio o governo do tucano Marconi Perillo, bem como o senador Demóstenes Torres (DEM/GO). Sabe-se que Cachoeira era “dono” da segurança pública em Goiás e nomeava até apadrinhados na Secretaria de Indústria e Comércio. Aos poucos, começam a vazar também os primeiros grampos da Operação. Demóstenes Torres, por exemplo, tratava Cachoeira como “professor” (leia mais aqui). Uma nova gravação mostra o bicheiro falando com o delegado Fernando Byron da Polícia Federal, que, na verdade atuava como seu informante sobre possíveis ações contra a Delta.
O interesse era justificável. Promotores envolvidos na Operação Monte
Carlo suspeitam de que Cachoeira era uma espécie de sócio informal em
Goiás. A empresa, do carioca Fernando Cavendish, desembarcou no Cerrado
em 2006. Naquele ano, faturou R$ 5,5 milhões no estado. Hoje, os
contratos somam R$ 276 milhões e também abrangem diversas prefeituras.
Leia, abaixo, noticiário do jornal “O Popular”, o mais
importante de Goiás, e que vem demonstrando notável independência, em
relação às relações perigosas entre a Delta e Carlos Cachoeira:
CARLINHOS: Vai ter alguma coisa amanhã, em Goiânia?
BYRON: Num tô sabendo, não. Acredito que não tem nada aqui não.
CARLINHOS: E com a Delta tem alguma coisa?
BYRON: Não, não, tá tudo tranquilo. Pode ficar tranquilo,tá tudo tranquilo. Carlinhos Cachoeira pergunta ao delegado Fernando Byron, da Polícia Federal,se a Delta está na mira de uma operação.
A Delta Construções – empreiteira na qual o empresário Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira, mantém uma sala – celebrou pelo menos R$ 276 milhões em contratos de limpeza, aluguel de carros e infraestrutura com o governo do Estado e as principais prefeituras de Goiás nos últimos dois anos. A empresa foi alvo de busca e apreensões da Operação Monte Carlo, deflagrada na semana passada, que apura o jogo ilegal em Goiás e outros quatro Estados.
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça Federal mostram a relação de Cachoeira com o diretor da regional Centro-Oeste da empresa, Cláudio Dias Abreu. Além do empresário, o ex-presidente da Câmara de Goiânia e ex-secretário de Estado Wladmir Garcêz também tinha sala no escritório da empresa em Goiânia, no 16° andar do Edifício New Bussines Style, na Avenida Jamel Cecílio, Jardim Goiás.
Dados do site Transparência Goiás mostram que a Delta entrou no Estado em 2006. A partir daquele ano a empresa - com mais de 50 anos de atuação - passou a ter contratos frequentes com a administração pública. Em seu primeiro ano contratando com o governo do Estado, a empreiteira e prestadora de serviços recebeu R$ 5,5 milhões.
O grande salto aconteceu em 2010, após a empresa ter vencido licitação para fornecer, por meio de aluguel, quase 2 mil carros para as Polícias Militar e Civil. O aluguel de automóveis começou em 2006, com outra empresa - a LM Transportes, Serviços e Comércios. A concorrência vencida pela Delta em 2009 era a continuidade desta modalidade de contrato, questionada anteriormente pelo Ministério Público do Estado de Goiás (MP) pelo alto valor.
De acordo com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Justiça (SSPJ), a Delta recebe aproximadamente R$ 3 milhões por mês pelo aluguel dos carros. Com estes pagamentos, entre outros serviços, a empresa recebeu em 2010 R$ 54,9 milhões do governo estadual. Em 2011, os repasses foram de R$ 51,6 milhões. Há, no entanto, empenhos que ainda não foram liquidados. A secretaria informa que o contrato é valido até o fim do ano. Os empenhos de 2012 ainda não aparecem no Transparência Goiás.
A Delta também venceu licitações nas principais prefeituras do Estado, como Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis e Catalão. Somente na Agência Municipal de Obras (Amob) da capital teve empenhados em 2010 e 2011 R$ 54,2 milhões. Alguns dos contratos da empresa são exibidos no site. Entre eles, a implantação de infraestrutura urbana e a construção do viaduto da Avenida T-63 na capital – a obra, constantemente, apresenta problemas de acabamento.
Proximidade
Com base na apuração da Polícia Federal (PF), os procuradores do Ministério Público Federal (MPF) escrevem que fica clara a “ingerência” de Carlinhos Cachoeira nos negócios da empresa, “conhecida por realizar contratos de vulto com a administração pública”, segundo o inquérito civil público. No documento, Carlinhos Cachoeira é classificado como sócio de Cláudio Abreu na compra de terras em Várzea Grande (MT) e no Distrito Federal (DF), na aquisição de terrenos em Catalão e na Ideal Segurança, esta última também em sociedade com o delegado Deuselino Valadares, da PF.
Nas gravações telefônicas autorizadas pela Justiça, há diversas conversas nas quais Carlinhos Cachoeira ordena o fornecimento de valores a Cláudio. Numa delas, o líder da suposta quadrilha diz para o responsável pelo controle financeiro da organização, Geovani Pereira da Silva, disponibilizar R$ 400 mil ao diretor da empreiteira.
Em outro trecho do inquérito civil público do MPF, que O POPULAR teve acesso, há a transcrição de uma conversa entre Carlinhos Cachoeira e Geovani na qual o valor a ser entregue para Cláudio é de R$ 700 mil. O montante seria para o diretor da Delta Construtora “enviar para fora” do País. As investigações do órgão ministerial e da PF chegam à conclusão de que Cláudio atua como laranja do chefe da organização, que seria sócio oculto em vários empreendimentos.
A ligação de Cláudio com o grupo coordenado por Cachoeira fica evidente - no entendimento dos investigadores - pela presença de uma sala ocupada pelo suposto líder do bando no escritório da Delta Construções na capital. No pedido do MPF para que a Justiça recolhesse provas, o órgão ministerial solicitou a busca e apreensão de documentos, computadores, mídias e aparelhos celulares na sala que seria de Carlinhos Cachoeira no local, assim como na que seria ocupada pelo ex-presidente da Câmara de Goiânia, Wladmir Garcêz. Este último também é investigado pela participação na exploração de jogos de azar e está preso na Casa de Prisão Provisória (CPP).
Cláudio teria livre trânsito na contabilidade das operações que seriam chefiadas por Carlinhos Cachoeira. Inclusive, numa escuta telefônica ele revela espanto ao tomar conhecimento de que tem disponível “apenas R$ 100 mil” no caixa da organização. Para Cachoeira, o diretor da empreiteira não pode ser o último a saber do que se passa dentro da organização. Numa gravação ele repreende Idalberto Matias, o Dadá, por não ter informado Cláudio sobre o conteúdo de vazamentos de operações da PF. Dadá é sargento da aeronáutica da reserva e atuaria como araponga.
Defesa
Por meio da assessoria de comunicação, a Delta Engenharia nega qualquer relação comercial com Carlos Augusto Ramos e que ele tenha uma sala no escritório da empresa em Goiânia. A assessoria classifica o pedido de busca de provas na sede da empreiteira na capital como “equivocado”. “Não vamos responder equívocos”, disse a assessoria O representante da Delta disse que a empresa nada tem a ver com a vida privada do seu diretor. E sustenta que não houve apreensão de documentos no local. “Levaram apenas o laptop e iPad de Cláudio.” A assessoria argumentou que a amizade entre os dois é possível porque moram na capital e não se difere das relações que o diretor mantém com outras pessoas.
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