Cultura — Por DESACATO.INFO em 24 March 2012 às 11:08 pm
Por Luiz Cézar.
Com a morte de Chico Anísio não morrerá a modalidade de humor por ele
disseminada. Rafinha Bastos, Danilo Gentili e outros estarão aí para dar
continuidade ao legado de deboches e de escárnio às diferenças que o
humorista deixou estabelecido como padrão de riso na cultura televisiva
brasileira.
Nunca será demais lembrar que Chico Anísio, um escroque a serviço das
Organizações Globo fez fortuna marcando as diferenças sociais em seu
País: de gênero, de raça, de nível econômico, de religião e de condições
de saúde.
Quem não se lembra, tendo mais de 40 anos de idade, de suas imitações
de gagos, fanhosos, velhos, mulheres, nordestinos, judeus, umbandistas e
homossexuais? Gerações acostumaram-se ao riso fácil das caricaturas que
fazia dos mais fracos, reproduzindo depois essa modalidade de humor nas
escolas e ambientes de trabalho, de modo a perpetuar a discriminação
que pesava sobre os que se encontravam em oposição ao ideário de
normalidade da classe média.
Chico Anísio não era um comediante como foi no seu tempo Oscarito,
Zelloni, Golias e Zezé de Macedo. Foi um déspota do riso que apontava no
meio da multidão o que era destinado à chacota e à humilhação.
Acomodou-se ao regime militar e a ele serviu comandando sessões
apelativas de riso que desviavam a atenção dos rumores sobre as
atrocidades cometidas pelos algozes, que seus patrões diariamente
ocultavam.
Contribuiu para que se criasse em torno do último ditador do ciclo de
governantes da ditadura militar, João Figueiredo, uma aura de simpatia e
tolerância por meio de um quadro em que mantinha conversas intimistas
com o governante.
Afeiçoado a bajulações dos poderosos, ainda depois da ditadura Anísio
chegou ao cúmulo de dar sustentação ao confisco da poupança praticado
pelos sócios de seus patrões, os Collor de Mello, vindo até a casar-se,
em troca disso, com uma das primas e ministra da economia do
ex-presidente Fernando Collor, Zélia Cardoso de Mello.
Viciado em cocaína, como ele mesmo declarou um dia às TVs, Chico
Anísio nunca se recuperou da dispensa de seus serviços pela Rede Globo
depois que a emissora – para a qual muito contribuiu com o elevado
faturamento de seus programas – decidiu renovar sua imagem nos anos de
1990 apelando a uma nova abordagem de humor, representada por grupos
humorísticos egressos do teatro.
Antes que iniciasse a lenta agonia em direção ao destino igualitário
da morte, a Globo cedeu à mágoa do humorista e deu-lhe a chance de um
breve retorno à cena representando a idosa que fazia ligações
telefônicas para o ditador Figueiredo. Só que nesse ato de despedida,
quem estava do outro lado da linha era a mulher e ex-prisioneira
política Dilma, a quem o preconceito do humorista jamais perdoaria por
haver derrotado o estigma machista e vergar, sem os favores da Globo, a
faixa de presidente da República.
Um troco que, por felicidade, a vida dá aos homens sem caráter antes que caiam no esquecimento.
*Luiz César é Economista, Linguista, Mestre em Cultura, Mestre em
Tecnologia (todos pela USP) e Master em Gestão Econômica de Projetos
pela GV
Imagem tomada de: dignow.org
Do Site
DESACATO.
Nenhum comentário:
Postar um comentário