segunda-feira, 5 de março de 2012

A crise do Euro. Alberto dá de 10 a 0 na Urubóloga


O ansioso blogueiro foi tomar café da manhã na Padaria Aracaju, uma das mais importantes contribuições da cidade de São Paulo à culinária brasileira.
Quando não está em Paris, o Farol de Alexandria faz o mesmo.
Na hora de pagar, viro-me para o dono, o Alberto, e reclamo:
– Você desapareceu, nunca mais te vi por aqui.
- Fui a Portugal, visitar a família. Ficamos ali em Vale do Cambra, perto do Porto.
- E como está Portugal?, pergunto.
- Uma desgraça. As estradas vazias. Os restaurantes vazios. Só sobrevivem os muito caros ou que tenham uma clientela fiel.
- E o que houve? Por que essa desgraça?, pergunta o ansioso blogueiro, como se não acompanhasse, febrilmente, as explicações da Urubologa.
- Foi a União Europeia.
- Mas, como? Dizem que ela é ótima!
- Vou te contar uma coisa. Houve uma ruptura em Portugal.
- O que se rompeu?
- A estrutura das famílias. Minha família é da agricultura há séculos. Uma geração após a outra. E isso se rompeu, se dilacerou.
- Mas, o que a União Européia tem a ver com a tua família?
- Lá em Vale do Cambra tinha uma cooperativa de leite. O meu pai tinha uma vaquinha. Com essa vaquinha ele tirava dez litros por dia, entregava à cooperativa e assim a nossa família se sustentava há séculos. Aí, chegou a União Europeia.
– E o que fez a União Europeia?
– A União Europeia chegou para o meu pai e disse: não temos como continuar a subsidiar a tua vaca. Meu pai nunca soube que a vaquinha era subsidiada.
– Mas, e o que queria a União Europeia?
– A União Europeia chegou ao meu pai e disse: vou comprar toda a tua produção por dez anos, e te pago agora. Mas, com uma condição.
– Que condição?
– Matar a vaquinha, coitada, a subsidiada.
– E o teu pai topou?
– Claro: ele não tem um neto que quisesse cuidar da vaquinha.
– O que fazem os netos dele?
– É tudo economista de banco.
– Ah, entendi. Não sabem produzir.
– Não produzem.
– E a cooperativa de leite?, pergunto.
– Fechou. Você chega hoje lá na porta e ela está toda coberta de uma erva daninha, que lá se chama de “Silva”.
– Mas, aqui não convém chamar assim … interrompo.
– Não, claro! É daninha mas dá uma amora muito saborosa. E você sabe o que aconteceu com a fábrica de queijo que comprava da cooperativa do meu pai?
- Ah!, tinha uma fábrica de queijo ali perto?
– Sim, aquele queijinho francês, o Bel.
– Sei. E de quem a Bel agora compra o leite?
– Da Espanha.
– E a Espanha tem leite para consumo próprio e para mandar a Portugal?, pergunto ansioso.
– Não! A Espanha tem que comprar da França.
– Caramba! E isso tudo vai dar em que?
– Já deu!, diz o Alberto.
– Deu em que?
– Sem dar um tiro, a Alemanha vai fazer o que não conseguiu com a Segunda Guerra.
– O que a Alemanha vai fazer?
– Dominar a Europa.
– Mas, como assim, Alberto?
– Depois de Portugal, a Espanha, a Itália, a próxima é a França.
– E a Grécia?
– A Grécia fraudou o balanço para entrar no Euro. Todo mundo sabia que aquilo era uma mentira, mas de mentira em mentira todos ganharam dinheiro!
– E Portugal?
– Portugal era um país de poupadores e virou um país de gastadores. A União Europeia chegou lá, deu um cartão de credito a Portugal e o português saiu a gastar. Como quem ganha 10 não pode dever 11, Portugal quebrou.
– E, Alberto, por que você não volta lá e compra Portugal?
– Não há o que comprar.
Pano rápido
Não é melhor que dez edições do Bom (?) Dia Brasil, amigo navegante?

Paulo Henrique Amorim
No Conversa Afiada

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