Série de reportagens do Críticas desvendará os meandros da negociata entre a Most of The Brazilian Beauty e a emissora da famíglia Marinho para esconder os concursos de misses da mídia brasileira durante boa parte da década de 1990. Na matéria de hoje, os bastidores da negociação fracassada entre a Globo e a Miss Brasil (*) 1989, Flávia Cavalcante, para trocar seu reinado em concurso de beleza promovido pelo SBT por papel em novela collorida das oito escrita por Cassiano Gabus Mendes
João Eduardo Lima
Editor e criador dos blogs TV em Análise
Editor e criador dos blogs TV em Análise
Agilberto Lima/AE/15.03.1990 |
No parlatório do Planalto, o começo da destruição do “sonho de miss” de Sílvio Santos e de sua esquadra
Rio de Janeiro, 15 de março de 1990. Na sede da Rede Globo, no Jardim
Botânico, mais especificamente em sua Central de Jornalismo (ainda
dirigida pelo hoje falecido Armando Nogueira), otimismo aparente com a
posse do primeiro presidente civil eleito em 29 anos, Fernando Collor de
Mello, cuja vitória só foi possível graças ao apoio da emissora
camuflado em reportagens do jornal nacional, numa edição deturpada do debate final realizado na sede da Band e em uma edição simpática do globo repórter,
realizada três anos antes sobre os governadores eleitos em novembro de
1986 e reprisada antes do programa do Chacrinha (1917-1988) para atrair
votos (e a audiência vespertina de sábado). O que não se notava era que,
a 1.600 km dali, em Brasília, Sílvio Santos desfilasse em cima do
Congresso Nacional sob um sol torrefante que o colocava em prestígio
junto ao novo governo. Mal sabia Sílvio que, 12 dias antes da posse de
Collor, os Estados Unidos já haviam eleito sua representante no Miss
Universo 1990, cuja data àquela altura já estava fixada em 15 de abril,
como você pode ver no vídeo abaixo:
Leeza Gibbons foi bem clara no minuto 4:50: o Miss Universo daquele ano
(1990) não seria realizado em maio (como era praxe desde 1987 e voltaria
a ser de 1991 a 2002 e em 2005 e 2007) e sim em abril. Não para atender
compromissos das emissoras norte-americanas com a FIFA para a
transmissão da Copa do Mundo da Itália (TNT e ESPN), muito menos para
colocar a Carole Gist na torcida pelos Estados Unidos na Itália. Até
porque o soccer masculino local pré-David Beckham e pós-Pelé
era uma porcaria. Não havia campeonato tampouco na liga nacional (a Major
League Soccer só seria criada em 1996). Sua seleção de futebol era uma
mediocridade. Tal qual a de Neymar, Felipe Melo e Paulo Henrique Ganso
nos dias atuais. Para desatenção do SBT, Flávia Cavalcante, ainda
reinando como Miss Brasil 1989, fora sondada pela Globo para fazer um
dos papéis principais femininos (posteriormente dado à atriz Luma de
Oliveira) na novela Meu Bem Meu Mal, substituta de Rainha da Sucata, cuja pré-produção começava a ser trabalhada para estrear em outubro.
Três dias depois da posse tumultuada de Collor em Brasília (regada a confisco de poupanças, mudança de moeda – cruzado novo revertido para cruzeiro, numa operação batizada por Joelmir Betting de “Desculpe a Nossa Falha” e extinção de estatais como a Embrafilme e outras), a então coordenadora geral da etapa brasileira do Miss Universo para o SBT, Marlene Brito, foi chamada à sede da Globo no Rio para tratar de “um assunto muito importante”, como diriam os calunistas políticos e pseudo-colonistas (**) televisivos e de celebridades da direita reacionária anti-Lula e anti-Dilma: a renúncia de Flávia ao título de Miss Brasil 1989 em favor de um papel na próxima novela das oito, escrita a toque de caixa por Cassiano Gabus Mends (1929-1993). Não se tratava de visita de cortesia e sim de uma viagem de negócios: nas barbas de Guilherme Stoliar, de Luciano Callegari, de Sílvio e do próprio SBT, Marlene foi negociar a destituição da segunda representante do Ceará a vencer o Miss Brasil com a emissora que arquitetou (com Jorge Serpa e Armando Falcão), se amamentou e cresceu (via antenas de microondas da Embratel, privatizada no [des]governo FHC) com o golpe militar de 1964 (do qual Collor é uma de suas crias – foi prefeito biônico de Maceió de 1979 a 1982, deputado federal pelo PDS, antiga Arena, futuro PFL e sustentáculo do atual DEM e herdaria do pai, Arnon de Mello [1911-1983], a concessão da Rede Globo em Alagoas via TV Gazeta de Maceió). Como consequência, o SBT, a pretexto de cortar gastos em decorrência das medidas de choque adotadas pelo Plano Collor I, demitiu 324 funcionários a três dias da realização do Miss Universo 1990, no Shubert Theatre, em Century City, Los Angeles (Califórnia), dentre eles a cantora e apresentadora Simony, a jornalista Kátia Maranhão e a própria Marlene, coordenadora do Miss Brasil, posta de aviso prévio após o encontro com Roberto Irineu Marinho, um dos três então vices-preseidetes das Organizações Globo. Ironicamente, Roberto Irineu é casado no presente dia com uma ex-competidora do Miss Brasil promovido pelo SBT, Karen Villen Baum [foto abaixo], eleita Miss São Paulo em março de 1987.
A demissão de Marlene Brito foi um duro golpe para o projeto do SBT
em eleger uma Miss Universo brasileira ainda durante a década de 1990.
Tanto é que já contava com o apoio de algumas afiliadas (entre elas a TV
Itapoan da Bahia, hoje propriedade da Rede Record, e a TV Jornal do
Recife) para tentar corrigir os erros verificados nas edições 1988 e
1989 do concurso Miss Brasil. Também pôs abaixo o plano do Grupo Sílvio
Santos de trazer uma edição do Miss Universo para o país (perdeu a sede
de 1982 para Lima, no Peru). Contra a ideia do SBT realizar uma edição
do Miss Universo no Brasil estava a Globo, o tempo todo, com suas
doutrinas editoriais e sua programação alienante, entre novelas e
telejornais, direcionados a amaciar governantes de direita e satanizar
movimentos sociais, como o MST, e centrais sindicais, como a CUT.
***
Já desempregada, em 30 de maio de 1990, segundo os registros da Junta Comercial de São Paulo, Marlene Brito formou a The Most of Brazilian Beauty, empresa encarregada de organizar, produzir e coordenar o concurso de Miss Brasil válido pelo Miss Universo. Segundo apurou o Críticas, Marlene formou a Most of Brazilian Beauty a pedido de Roberto Irineu Marinho, para retribuir o “favor” que o SBT havia lhe prestado em demiti-la através de nota de jornal (neste caso, da colona [*] de Ferreira Netto, notório aliado da Globo, de Collor e do regime militar). O contrato com a Miss Universe Inc., no entanto, só foi firmado em 3 de agosto de 1990, quando a participação brasileira no concurso daquele ano já estava perdida: a norueguesa Mona Grudt fora coroada ante 70 candidatas. Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela mandaram suas representantes. O Brasil, por manobra da Globo feita contra o SBT, não.
Leia também: O último suspiro de miss do SBT e a esganadura do Revenge de Marlene Brito contrs seus ex-patrões
(*) Na teoria, a Band é dona dos direitos de transmissão do
concurso Miss Brasil e de seus concursos estaduais quando, na prática,
estes pertencem à Globo (que desde 1990 paga para não transmiti-lo). É a
mesma coisa que a emissora da famíglia Marinho fez (e ainda faz) com as
séries da FOX, como Glee, Bones, Burn Notice e outras (fora as animações)
(**) Convém lembrar que colona não tem nada a ver com cólon da
Gyselle Soares. Trata-se de colonistas que, na visão de Paulo Henrique
Amorim, “…tratam o Brasil da perspectiva do que imaginam que a Metrópole
imaginaria o Brasil. No caso específico de Gaspari, ele trata o Brasil
da perspectiva do que imagina que os professores de Harvard pensariam do
Brasil e dele…”. Para o Críticas, trata-se de
colonistas sociais que tratam o Brasil como um combinado de Venezuela em
termos missológicos com um Sudão em termos econômicos, sociais, de
infra-estrutura (vide a campanha que a Globo e a Band fazem contra a
Copa de 2014 e as Olimpíadas de Verão de 2016 por causa dos aeroportos) e
de educação. Mais: trata-se de colonistas sociais, calunistas de sites
de celebridades, de jornais facistóides e de revistas de entretenimento
que jamais reconhecerão Haley Reinhart, James Durbin, Scotty McCreery e
Lauren Alaina, finalistas do American Idol em 2011, como
promessas da indústria fonográfica. Preferem a Paula Fernandes, o
Neymar, o Elano, o Luan Santana, a Nayla Micherif, a Mariana Rios,
namorada do Di do NXZero e a Giovanna Lancelotti, namorada do Pê Lanza
do Restart, ambas empregadas da Rede Globo, à Pia Toscano, ao Paul
MacDonald, ao Ruben Studdard, à Lindsey Vonn, ao Johnny Weir, ao Clay
Aiken, ao Francis Lopes, ao saudoso Raimundo Soldado, ao Israel Lucero,
ao LeeDewyze, ao Goffredo da Silva Telles Jr., autor da Carta aos Brasileiros de 1977, à Sarah Michelle Gellar….
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