Os novos nazistas são os velhos nazistas e já não se inibem em manifestar-se.
Mauro Santayana, JB online
A polícia francesa se encontrava, na noite de ontem, mobilizada a fim de
identificar o homem que matou quatro pessoas, entre elas três crianças,
e feriu outras, em uma escola judaica de Toulouse. Houve, tanto em
França, como em Israel, preocupação em culpar os demônios do momento, ou
seja, os “terroristas muçulmanos”. Antes de qualquer manifestação das
testemunhas, os meios de comunicação e os porta-vozes oficiais quiseram
inculpar os islamitas. Coube aos próprios policiais relacionar o
atentado contra a escola judaica de Toulouse à morte de dois
paraquedistas franceses, e graves ferimentos em dois outros, na mesma
região, nestes mesmos dias, e de forma semelhante.
O detalhe que Tel Avive esqueceu: os dois paraquedistas mortos em
Montauban, a 40 quilômetros ao norte de Toulouse, quinta-feira passada,
eram muçulmanos, do norte da África: Abel Chenouf e Mohamed Legouard. Um
terceiro muçulmano, Imad Ibn Ziaten também militar e igualmente
paraquedista, fora alvejado na mesma cidade de Toulouse, no domingo
anterior. Em todos os atentados, o assassino usava uma motocicleta. A
arma que matou os soldados franceses é do mesmo calibre da que foi usada
na escola judaica, ontem pela manhã. Apesar disso, há ainda quem tente
atribuir os dois atentados aos muçulmanos. Quando examinamos os fatos
com ódio, ou com leniência, é difícil ver as coisas em sua clareza. E
há quem atribua os crimes aos muçulmanos em razão de seu próprio e
calculado interesse.
Tudo é possível, em atos semelhantes, mas os primeiros indícios
relacionam a brutalidade do matador de crianças judaicas à rearticulação
da extrema direita racista na Europa de hoje. O atentado de Toulouse
lembra – ainda que o número de vítimas tenha sido menor – a chacina da
Noruega, plenamente assumida por um neonazista. As elites européias
repetem os mesmos movimentos econômicos, políticos e culturais que
promoveram, nos anos 20 e 30, o nazifascismo no continente, com os
resultados conhecidos. Quando perceberam que Hitler tinha seu próprio
projeto de ditadura universal, era quase tarde. Só a resistência
desesperada dos russos, na defesa de sua pátria, pôde conte-los e
empurra-los de volta a Berlim, onde foram vencidos. É de se ressaltar,
também, o heróico sacrifício dos ingleses, durante os ataques aéreos
sistemáticos a Londres e a outras cidades.
Os novos nazistas são os velhos nazistas e já não se inibem em
manifestar-se. Um membro do SPD, Thilo Sarrazin, nascido no mesmo ano da
derrota alemã, 1945, publicou violenta proclamação racista contra os
muçulmanos – por ironia, seu sobrenome, vindo do francês, significa
Sarraceno. Não poupou, como bom nazista, os judeus, insistindo na tese
de que eles têm um gene particular e único. Seu livro “Deutschland
Schafft Sich Ab” (A Alemanha se destrói) está sendo dos mais vendidos
nos país. Apesar do caráter nazista do livro, o SPD ainda não o expulsou
de seus quadros. Depois da morte de Willy Brandt, muitos socialistas
alemães em nada diferem de seus adversários da CDU.
O caso mais grave, neste momento, é o da Hungria, onde o primeiro
ministro Viktor Orban retorna aos anos terríveis da ditadura de Horthy,
com a censura à imprensa e o racismo ensandecido. As milícias de seu
partido, o “Jokkib”, semelhantes às S.A. dos nazistas, estão caçando
ciganos a porretadas e aterrorizando as aldeias do país. Na Itália, os
neofascistas atuam com toda ousadia, desde que Berlusconi, à frente de
seu partido de extrema direita, assumiu o poder.
Para eles, judeus e muçulmanos pertencem a um só grupo de “inferiores”
que devem ser eliminados, em nome da pureza dos soi-disant arianos. Em
nosso país há também os que defendem a pureza racial européia e o seu
direito a nos dominar. É hora de contê-los, antes que se faça tarde. Não
podemos tolerar nenhuma violência racista, seja contra judeus ou
muçulmanos, negros ou nordestinos. Se outra razão não houvesse, a
imensa maioria de brasileiros é constituída de mestiços, e temos nos
dado muito bem com essa mescla de sangues e de culturas diferentes.

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Um comentário:
ESSE NAZISTA TAMBÉM ERA MUÇULMANO?
E AÍ, VAI FALAR DISSO NO PRÓXIMO ARTIGO?
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